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Saúde mental na PMDF: 6 militares são afastados por dia na corporação

Trágica morte de dois policias militares em uma viatura no Recanto das Emas traz à tona fragilidade do serviço de saúde da PMDF

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Sepultamento de policial militar - Metrópoles
1 de 1 Sepultamento de policial militar - Metrópoles - Foto: BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto

As mortes do soldado Yago Monteiro Fidelis e do segundo-sargento Paulo Pereira de Souza acenderam a luz de alerta para a necessidade de cuidado com a saúde mental dos policiais do Distrito Federal. Segundo a Polícia Militar (PMDF), em 2023, foram homologados 2525 atestados de afastamento por doenças mentais. Apenas em dezembro, foram 191. Em média, a cada dia, seis PMs do DF tiveram de se ausentar das atividades policiais por estarem em sofrimento psíquico.

Monteiro e Pereira eram integrantes do 27º Batalhão da Polícia (BPM), responsável por garantir a segurança na região do Recanto das Emas. Na manhã de domingo (17/1), estavam em patrulha quando o segundo-sargento, em surto, atirou na cabeça do soldado. Na sequência tirou a própria vida. Apesar de enfrentar problemas pessoais e de saúde mental, o policial autor dos tiros continuava sendo destacado para trabalho de campo.

Conforme o Metrópoles noticiou, o serviço de saúde da corporação está extremamente debilitado. A PMDF conta com apenas um médico psiquiatra para atender cerca de 10 mil integrantes da tropa. A corporação argumentou que conta com uma rede credenciada e dispões atualmente de clínicas de psiquiatria e de psicoterapia para atendimento dos militares. Há, ainda, a previsão de abertura de cinco vagas para psiquiatras, sendo três para provimento imediato.

Falha na alta

A reportagem conversou com famílias de policiais sobre a atual rede acolhimento. Segundo os relatos de familiares, o serviço de tratamento está extremamente fragilizado. “Não adianta contratar mais três psiquiatras, sendo que descredenciaram grande parte das clínicas de psiquiatria e psicologia. Restringiram muito o atendimento. Poucas clínicas atendem o policial e sua família”, afirmou a parente de um militar, que pediu para não se identificar.

Além disso, não haveria uma avaliação sobre o serviço prestado pelas clínicas. “O policial é atendido na clínica e não vai um militar médico para verificar se ele está recebendo um bom atendimento. Aí recebe alta. E a Junta Médica da Polícia Militar faz pouco caso. Libera o policial para a rua, sem ele estar em condições. E aí vemos o que está acontecendo nas ruas ultimamente”, alertou.

Problema ainda maior

E a crise da saúde da Polícia Militar é ainda maior. Pois além dos atestados por saúde mental, existem os atestados psicológicos. Em 2023, foram 2047. Apenas em dezembro, a PMDF homologou 175.

E um diagnóstico de uma enfermidade não necessariamente afasta o outro, podendo um policial ter os dois diagnósticos, ou seja, conforme os números uma parte está inserida nas duas. Portanto, um militar pode ser atendido por um psicólogo e não ser encaminhado ao psiquiatra. Por outro lado, poderá ser atendido por um e encaminhado ao outro.

Vale ressaltar que o sistema de contagem do levantamento contabilizou o número de casos de afastamentos, não o número de policiais afastados. Dessa forma, alguns policiais foram afastados mais de uma vez ao longo do ano de 2023 pelo mesmo motivo.

O atendimento psicológico engloba os casos no qual o paciente necessita de terapia. No caso do psiquiátrico, o tratamento pode incluir necessidade de intervenção medicamentosa bem como tratamentos mais complexos. Um paciente pode necessitar inclusive dos dois tratamentos simultâneos.

Dois lutos

Com salva de tiros e homenagens, o soldado Yago foi enterrado no cemitério do Gama nessa terça-feira (16/1). Segundo a família, os pais do policial não queriam que ele entrasse na PMDF. Mas, por paixão pela segurança pública, o desejo de proteger a comunidade falou mais alto, e Monteiro vestiu a farda. Parentes pediram que a morte do militar não seja esquecida e que a corporação cuide melhor da tropa.

Pelas redes sociais, a viúva de Paulo Pereira de Souza desabafou. “Você foi um herói, dedicou sua vida, uma vida inteira à Polícia Militar do Distrito Federal. E o que fizeram com você quando mais precisou? Deixaram você sem nenhuma assistência, deixaram você trabalhar doente. Acharam que transferir você para outro batalhão seria a solução”, afirmou. Para ela, o Estado falhou. “Agora, duas famílias choram”, lamentou.

Fora das ruas e com tratamento

Após o sepultamento do soldado Yago, a comandante-geral da PMDF, coronel Ana Paula Barros Habka, anunciou medidas para cuidar da saúde da tropa. O corporação fará um mapeamento dos batalhões, começando pelo 27º, para saber quais policiais sofrem com problemas de saúde mental e precisam de ajuda. Se o militar não estiver em condições, sairá das ruas.

“Eu sei do estresse que é a nossa carreira. Eu vivo isso há 30 anos. E tenho obrigação de cuidar do nosso policial”, afirmou a comandante-geral. Com autorização da Procuradoria-Geral do DF (PGDF), a Polícia Militar pretende fechar um convênio com a Associação Médica Brasileira para atendimento no Centro Médico da Polícia Militar. Todos os quartéis irão receber centros de capacitação social, capelanias, para cuidar da tropa.

Em nota, após as declarações da comandante-geral, a corporação reforçou a promessa de reestruturar o serviço de saúde. “A PMDF reconhece a magnitude de abordar e superar os desafios vinculados à saúde mental de seus membros. Estamos plenamente conscientes da necessidade de implementar medidas eficazes visando proporcionar um ambiente de trabalho saudável e apoiar nossos policiais diante das exigências psicológicas inerentes à profissão”.

Busque ajuda

Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.

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O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender a demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

Disque 188

A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem, 24 horas por dia, a quem precisa.

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