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Saúde mental: 13 mil PMs do DF foram afastados do trabalho em 5 anos

Considerando dados desde 2017, a PMDF registrou mais de 13 mil afastamentos de integrantes da corporação por motivos de saúde mental

atualizado

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A comandante-geral da PMDF coronel Ana Paula Barros Habka acompanha o cortejo funeral policial militar PMDF Yago Monteiro morto por um colega dentro da viatura em brasilia - metrópoles
1 de 1 A comandante-geral da PMDF coronel Ana Paula Barros Habka acompanha o cortejo funeral policial militar PMDF Yago Monteiro morto por um colega dentro da viatura em brasilia - metrópoles - Foto: BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) registrou mais de 13 mil afastamentos de integrantes da corporação por motivos de saúde mental. No último domingo (12/1), após um sargento matar seu colega dentro da viatura e tirar a própria vida em seguida, a instituição divulgou nota informando que a saúde mental é prioridade.

Conforme o Metrópoles informou anteriormente, foram homologados 2.525 atestados de afastamento por doenças mentais na PMDF no último ano. Além disso, dados obtidos por meio de Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam os índices desde 2017, que totalizaram mais 10.743 afastamentos. Na ocasião, a resposta da corporação não apontou as licenças em 2022.

O período com a maior quantidade de registros foi 2020, quando o Centro de Perícias e Saúde Ocupacional (CPSO) da PMDF realizou 2.622 afastamentos. Além disso, é possível perceber um crescimento de 82% no número de ocorrências do tipo quando compara-se o último ano e 2017.

Juliana Martins, psicóloga e coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), estuda a saúde mental de policias em todo país. Ela explica que o tema é um tabu ainda mais forte entre os militares, pois são profissionais inseridos em um ambiente que, normalmente, reforça valores como “força” e “virilidade”.

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Veelório do soldado Yago Monteiro
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Soldado Yago Monteiro foi baleado pelo sargento dentro de viatura no Recanto das Emas

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“Essas organizações formam esses profissionais para serem combatentes, enfrentarem um inimigo. O inimigo pode ser qualquer um, pode estar em qualquer lugar. Então, são profissionais que estão em alerta 24 horas por dia. De fato, lidam com o viver e morrer cotidianamente”, comenta a coordenadora do FBSP.

Para a especialista, inclusive, a posse ininterrupta de armas de fogo, aliado ao contato com a violência extrema e a possibilidade iminente da morte, pode ser um complicador na situação. Também é levado em consideração uma rotina com pouco descanso e momentos de lazer.

“Um profissional que entra numa rotina de vida de pouco descanso e momento de lazer, associado ao fato de estar armado 24 horas por dia, faz com que tenha uma relação com o mundo diferente. Eu acho que o uso da arma dá essa sensação. O discurso é de que a arma é para defender, mas a arma vulnerabiliza esses profissionais também, né? Eles ficam com mais medo, não circulam em certos lugares, se distanciam de alguns grupos coletivos. Então, socialmente, ele vai se isolando também”, afirma Martins.

Suicídios de PMs em todo o país

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) analisa, anualmente, informações sobre as mortes de policiais em todo o país. De acordo com o último anuário divulgado, considerando dados de 2022, foram 85 de PMs no Brasil, sendo 3 no Distrito Federal.

“Foram 1 no Amazonas, 6 na Bahia, 3 no Ceará, 3 no Distrito Federal, 3 no Espírito Santo, 4 em Goiás, 2 no Maranhão, 2 no Mato Grosso, 2 no Mato Grosso do Sul, 16 em Minas Gerais, 5 no Paraná, 7 em Pernambuco, 5 no Rio de Janeiro, 1 no Rio Grande do Norte, 5 no Rio Grande do Sul, 1 em Santa Catarina, 16 em São Paulo, 03 em Sergipe. Em todas as outras UFs não houve nenhum suicídio de policial militar em 2022”, aponta o FBSP.

Um grande problema na ocorrência desses suicídios, discorre Juliana Martins, é que as organizações tratarem a situação apenas como um desvio de comportamento ou um ponto fora da curva. Segundo a psicóloga, seria necessário principalmente uma mudança de cultura e combater o tabu de falar e tratar questões de saúde mental.

“Como é que você insere essa pessoa na rotina de trabalho de maneira a não estigmatizá-la, a não piorar a sua condição, a não deixá-la ainda mais doente? Então são práticas de gestão que precisam mudar, tanto para identificar o adoecimento, estimular que os seus comandados procurem ajuda. Não, simplesmente, mudar de posto, mudar de batalhão ou transferir de lugar, porque aí eu tiro o problema e transfiro o problema daqui, põe o problema para outro lugar”, declara a psicóloga.

Tragédias e prioridades

Um sargento da PMDF atirou e matou o soldado Yago Monteiro, dentro da viatura, e tirou a própria vida em seguida. O caso ocorreu no domingo (14/1), no Recanto das Emas.

“A saúde do policial militar é prioridade da comandante-geral da PMDF, coronel Ana Paula. Inclusive, com reunião pré-estabelecida, desde o dia 9/1/2024, quando assumiu o posto. O assunto será tratado de forma transversal, abrangendo todos os departamentos, para alcançar o objetivo da segurança em relação a saúde policial militar, bem como perpetuar e otimizar a segurança da sociedade de todo o Distrito Federal”, informou a corporação após a tragédia

A PMDF ainda disse ter compromisso contínuo com o bem-estar e a saúde mental dos militares e estar empenhada em criar um ambiente de trabalho onde o cuidado com a saúde mental é uma prioridade. “Acreditamos que apoiar a saúde mental de nossos policiais é fundamental para manter uma força de trabalho resiliente, eficaz e compassiva.”

Busque ajuda

O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.

O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender a demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

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