Secretaria de Saúde quer despejar associação que cuida de autistas
Após quase 18 anos de convênio, entidade deverá deixar o Instituto de Saúde Mental (ISM). GDF quer instituir residência terapêutica no local
atualizado
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Uma instituição que atende autistas há quase 18 anos entrou na mira da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O órgão tem feito constantes investidas com o objetivo de despejar a Associação dos Amigos dos Autistas (AMA) do espaço, localizado no Instituto de Saúde Mental, na Granja Riacho Fundo.
A entidade, sem fins lucrativos, atende em média 16 pacientes por mês, todos com mais de 18 anos. São pessoas que desenvolveram o chamado autismo severo e, portanto, necessitam de cuidados especiais em razão da total dependência. “Se a AMA sair da granja, não há para onde ir. Não existe tratamento para quem já é adulto”, diz Gilberto Ferreira Pereira, coordenador da associação e pai de uma jovem autista de 24 anos.
Segundo Pereira, os assistidos recebem aulas de artes, educação física, musicalização e ainda aprendem atividades rotineiras, como tomar banho, escovar os dentes e se alimentarem, a fim de que consigam reduzir o grau de dependência dos familiares. “Não existe no DF algo parecido. O que o governo quer é que sejamos atendidos pelos Caps [Centros de Assistência Psicossocial], que disponibilizam apenas uma hora por dia e com o paciente obrigatoriamente acompanhado”.
Em contato com a reportagem, a Secretaria de Saúde (SES) confirmou a informação. Por meio de nota, a Pasta informou que “o convênio com a Associação de Amigos dos Autistas não foi renovado, por isso foi solicitada a desocupação do local usado no Instituto de Saúde Mental (ISM).”
Segundo a gerência de Saúde Mental da SES, “o espaço será destinado à instalação de residências terapêuticas para pacientes com transtornos mentais graves e que não têm familiares no Distrito Federal, atendendo também determinação do Ministério Público”.
Ofício da Secretaria de Saúde by Metropoles on Scribd
Angústia
A Pasta assegura que os pacientes atendidos pela AMA serão acolhidos em outras unidades da rede pública de saúde do DF. Mas o argumento não ameniza a angústia do coordenador da associação.
“O que há é uma intransigência do GDF, uma vez que o espaço é grande e poderia ser aproveitado ou adaptado. Mas nem isso eles aceitam conversar. Estamos desesperados”, afirma Gilberto Ferreira Pereira.
A Associação dos Amigos dos Autistas foi fundada em 2000 e, desde então, tem firmado convênios sucessivos com o governo local para o atendimento dos pacientes. A entidade não recebe recurso algum do GDF, que apenas cede o ambiente para a realização das atividades vivenciais.
O convênio está em aberto há dois anos e, apesar dos pedidos dos pais de autistas, a Secretaria não renovou a documentação.