metropoles.com

Saúde pública está há 7 meses sem exame para diagnosticar infarto

GDF informou que, desde dezembro de 2018, o abastecimento de enzimas usadas para confirmar o quadro clínico está suspenso

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Igo Estrela/Metrópoles
Plantões noturnos dos hospitais do DF Brasília(DF), 22/03/2019
1 de 1 Plantões noturnos dos hospitais do DF Brasília(DF), 22/03/2019 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Os pacientes com problemas no coração que procuram as unidades públicas de Saúde escutam, há pelo menos sete meses, a mesma resposta: “Estamos desabastecidos para a realização de exame”. O posicionamento refere-se à falta total de enzimas cardíacas na rede, substância essencial para o diagnóstico preciso de infarto. Segundo a Secretaria de Saúde, o abastecimento do estoque está suspenso desde dezembro de 2018, ainda na gestão do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Mesmo depois desse longo período, a pasta ainda não conseguiu normalizar a situação.

O Governo do Distrito Federal (GDF) explica que tenta aderir a alguma ata de registro de preços, modalidade prevista para casos que necessitem urgência especial. Nesse contexto, baseada em compra efetuada por outra unidade da Federação, a Secretaria de Saúde adquire a quantidade necessária pelo mesmo valor alcançado pela licitação vigente. Contudo, mesmo que o modelo seja mais rápido do que uma concorrência pública, por exemplo, ainda não há previsão para que o fornecimento seja regularizado.

As enzimas são consideradas essenciais para evitar, entre outros fatores, a evolução do quadro clínico em pacientes com sintomas de infarto. “As enzimas se manifestam precocemente. Por exemplo, quando um paciente cardíaco chega com mal-estar à emergência, com azia, tem histórico de hipertensão, mas nem sempre sabe que pode se tratar de um infarto. Com essas enzimas, as chances de salvá-lo são grandes. Porém, sem elas, o futuro é arriscado”, explicou Guttemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindiMédico).

Há, também, a possibilidade de avaliação clínica para quem sofre de cardiopatias. No entanto, o diagnóstico baseado somente nesses critérios, além de eletrocardiogramas, pode ser difícil, sendo “imprescindível” a realização de exames laboratoriais. A análise laboratorial baseia-se na determinação de macromoléculas intracelulares na circulação, especialmente proteínas e enzimas, que extravasam das células do coração fatalmente lesadas devido a uma membrana comprometida. Para essas situações, as proteínas e enzimas mais utilizadas e específicas são: mioglobina, troponinas I e CK-MB.

“É uma irresponsabilidade muito grande, diria até inaceitável. Esse descaso só mostra a falta de prioridade dos governos e também reforça, para mim, que, na prática, do ano passado e de outros governos até agora, nada mudou. O paciente ainda é refém da má-gestão”, disparou o médico.

Pacientes temem falta do insumo

À reportagem, a Secretaria de Saúde informou que a Corregedoria abriu procedimento e apura a responsabilidade da gestão anterior sobre a falta de renovação do contrato e possíveis irregularidades na execução. O Metrópoles questionou ainda quais métodos têm sido adotados para diagnosticar a doença, tendo em vista a inexistência das enzimas necessárias. Contudo, a pasta preferiu não se manifestar a respeito do tema.

O atual cenário da rede pública de saúde pegou de surpresa e assustou o motorista Alberto Ferreira, 58 anos. Paciente do Hospital de Base, o trabalhador conta já ter sofrido duas paradas cardiorrespiratórias. Relata ainda que a falta do diagnóstico poderia, inclusive, afetá-lo. “Já fiz dois cateterismos. Se preciso do atendimento e não consigo, ficaria sem saber o que fazer”, pontua.

Com a experiência de quem já passou por isso, Alberto espera que a falta das enzimas seja resolvida da maneira mais rápida possível. “Coração, dependendo do problema, morre pouco tempo depois. Tem de arrumar isso logo”.

Já o aposentado Vicente Coelho, 52, se diz indignado. Ao se colocar no lugar de quem pode ser prejudicado por conta da indisponibilidade de enzimas laboratoriais, considera a situação um verdadeiro descaso. “É uma falta de respeito com o ser humano. Sem o diagnóstico, há a possibilidade de a pessoa morrer em casa depois de não saber o que aconteceu”. Para ele, a ausência de meios de se diagnosticar a parada do coração é mais um exemplo do caos na saúde no DF. “Infelizmente, aqui é carência. Às vezes, não tem nem maca ou cadeira de rodas em hospital, imagina essas coisas mais elaboradas?”, lamenta.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?