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Saúde no campo: dificuldades vão de transporte a encaminhamento no DF

Grandes áreas de abrangência e falta de linhas regulares de transporte público dificultam acesso de pacientes às unidades rurais

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Dificuldades das populações rurais no acesso à saúde
1 de 1 Dificuldades das populações rurais no acesso à saúde - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O Distrito Federal é a unidade da Federação mais urbana do Brasil, mas tem uma população de cerca de 90 mil moradores em zonas rurais – conforme último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que dependem exclusivamente dos serviços públicos de saúde. O atendimento a esses habitantes, que representam 3% do total de pessoas no DF, é focado na atenção primária, e as unidades básicas de saúde (UBSs) são para onde eles costumam se dirigir ao primeiro sinal de problema.

Atualmente, o Distrito Federal conta com 33 UBSs em zonas rurais, distribuídas por Sobradinho, Planaltina, Brazlândia, Paranoá, Ceilândia, São Sebastião, Recanto das Emas e Gama. Ao todo, 321 profissionais da Secretaria de Saúde (SES) atuam nessas unidades.

O Metrópoles esteve em postos de saúde na zona rural de Região Norte, onde estão as maiores áreas destinadas à agricultura e pecuária no DF. O local costuma atender agricultores familiares, trabalhadores de latifúndios de monocultura e pessoas que vivem em assentamentos.

A percepção dos moradores sobre os serviços prestados nos postos de saúde é bem diferente daquela demonstrada por usuários de prontos-socorros dos hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs) do Distrito Federal.

Ao contrário das frequentes reclamações de quem chega a esperar mais de oito horas para conseguir se consultar com um médico e dos problemas que começam antes mesmo da triagem de classificação de risco, habitantes de áreas rurais tentam resolver complicações de saúde nas UBSs e evitam a todo custo terem de se deslocar a um hospital.

O momento em que precisam de atendimento de média e alta complexidade é quando os moradores mais sofrem. A primeira dificuldade é o transporte. Com raras linhas de ônibus passando em frente aos postos e sem coletivos trafegando próximo às residências, quem não tem veículo próprio costuma voltar para casa sem conseguir consulta com um especialista.

Para amenizar o problema da dificuldade do transporte, agentes comunitários de saúde fazem visitas às moradias dos pacientes. Parte da estratégia é marcar um ponto intermediário e estabelecer horários para que os profissionais e a população se desloquem a um endereço no meio do caminho.

Localizada em uma área cedida em contrato de comodato – sem custos para o DF –, a UBS 17 de Planaltina, no Jardins do Morumbi, oferece consultas com médico da família e de enfermagem, pré-natal, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças, curativos, retiradas de pontos e coleta para exames.

O local passa por reformas e aguarda por uma cadeira de dentista. Quem precisa ser atendido em outras especialidades, como nutrição e psicologia, é encaminhado para a clínica da família mais próxima.

Problemas de acesso
A diarista Lucineide Viana Souza, 31 anos, sempre procura a UBS 17 de Planaltina quando precisa vacinar um dos dois filhos ou necessita de coleta de material para exames ou, até mesmo, de acompanhamento quando alguém da família adoece.

O local onde ela mora, na Comunidade Palmeiras, é mais perto do centro de Planaltina de Goiás, embora Lucineide resida no Distrito Federal. “Eu já desisti do Hospital Regional de Planaltina [HRP], geralmente vou ao Hospital Municipal Santa Rita de Cássia [na cidade goiana]. Lá, a espera é bem menor”, diz a diarista.

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Samara Gomes,  25 anos, agricultora. Kaleb Souza,  9 meses
UBS da Rota do Cavalo funciona ao lado de uma igreja, dentro de um haras
UBS da Rota do Cavalo, em Sobradinho
Sala de atendimento
Sala de espera da UBS da Rota do Cavalo está vazia, em dia atípico
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Unidade Básica de Saúde (UBS) da Rota do Cavalo, em Sobradinho

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Samara Gomes, 25 anos, agricultora. Kaleb Souza, 9 meses

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UBS da Rota do Cavalo funciona ao lado de uma igreja, dentro de um haras

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UBS da Rota do Cavalo, em Sobradinho

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Sala de atendimento

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Sala de espera da UBS da Rota do Cavalo está vazia, em dia atípico

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No hospital em Goiás, Luciene tratou a dengue que o filho, Paulo Mateus Souza, 8 anos, contraiu em abril. Já recuperado, o menino faz o acompanhamento no posto de saúde.

O casal Guilherme Lourenço da Silva, 18, e Thaira de Amorim, 16, fizeram todo o pré-natal da pequena Isabella, agora com pouco mais de 10 dias, na UBS 17. Eles moram a 15 minutos de caminhada do posto e geralmente vão a pé. “Deu tudo certo e ela nasceu saudável no Hmib [Hospital Materno Infantil de Brasília]. Hoje, eu vim tirar os pontos da cesariana”, diz a mãe.

Na sala anexa a uma igreja católica, dentro de um haras, funciona a UBS 4 de Sobradinho, na Rota do Cavalo. A unidade é responsável por atender moradores de vários assentamentos, chácaras, fazendas e um acampamento de ciganos.

Mãe de três filhos, feirante e agricultora familiar, Samara Gomes, 25 anos, levou o filho Kaleb, de 9 meses, para saber o motivo de uma tosse que persiste há três dias. Nascida e crescida na cidade de Tianguá, no Sertão cearense, a produtora rural desembarcou em Brasília há dois anos, quando começou a plantar hortaliças e criar galinhas poedeiras, para a venda de vegetais e ovos caipiras.

Segundo a enfermeira da unidade, Eliana Lisboa, houve um aumento no número de pessoas que procuraram o posto neste primeiro quadrimestre, em razão do surto de dengue no Distrito Federal. “É importante que se invista em atenção primária para desafogar os pronto-socorros. Já teve um caso de paciente que chegou aqui grave, com suspeita de dengue, foi feita a hidratação e ele saiu daqui andando com o encaminhamento.”

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Unidade Básica de Saúde do Jardins do Morumbi
Guilherme Lourenço da Silva,  18 anos, e Thainara de Amorim, 16, com a filha, Isabella
Paulo Mateus, 8 anos, contraiu dengue e foi ao posto de saúde com a mãe, Lucineide Viana Souza
UBS de Planaltina passa por reformas e aguarda cadeira odontológica
Valdivina de Souza e o filho, Samuel
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Vanusa Fernandes, agente comunitária de saúde em UBS rural de Planaltina

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Unidade Básica de Saúde do Jardins do Morumbi

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Guilherme Lourenço da Silva, 18 anos, e Thainara de Amorim, 16, com a filha, Isabella

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Paulo Mateus, 8 anos, contraiu dengue e foi ao posto de saúde com a mãe, Lucineide Viana Souza

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UBS de Planaltina passa por reformas e aguarda cadeira odontológica

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Valdivina de Souza e o filho, Samuel

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Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que unidades básicas de saúde rurais possuem peculiaridades, como uma população menor e em pequenos aglomerados.

A Diretoria de Atenção Primária da Região de Saúde Norte (Diraps Norte), que engloba Sobradinho e Planaltina, alegou que estuda formas de facilitar o acesso desses aglomerados ao atendimento em saúde.

Segundo o órgão, já existem pontos de apoio nos quais uma equipe responsável pela comunidade organiza os dias de atendimento. Dessa forma, a população é atendida mais perto do local em que mora. O deslocamento maior passa a ocorrer eventualmente, quando há a necessidade de realização de outros procedimentos.

A respeito da grande área de abrangência do Jardins do Morumbi, que resulta no percurso de grandes distâncias, a Secretaria de Saúde disse que está sendo finalizado o processo de doação de um terreno para a construção de uma nova unidade básica rural em Planaltina.

De acordo com a pasta, um novo inventário de equipamentos será realizado para a instalação de cadeira odontológica na UBS, brevemente.

Também foram solicitadas ao Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), segundo a SES, novas linhas de ônibus que contemplem as unidades básicas de saúde, o que facilitaria o acesso ao serviço.

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