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Pacientes se humilham por remédios nas Farmácias de Alto Custo do DF

Levantamento da Saúde mostra que 23 medicamentos estão em falta, falha que leva milhares de pessoas a interromperem o tratamento

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Farmácia 6
1 de 1 Farmácia 6 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Há 20 anos, o serralheiro Fernando Aparecido Alves de Lima, 43, descobriu uma neuropatia diabética que fez sua vida virar de cabeça para baixo. Para manter-se sem crises, teve de parar de trabalhar e viver à base de remédios ofertados pela Farmácia de Excepcionais do governo do Distrito Federal.

No entanto, o tratamento não tem sido fácil. Segundo ele, um dos medicamentos essenciais para o seu bem-estar, o Gabapentina, constantemente está em falta nas prateleiras. “É uma luta. Nos últimos dois meses, não consegui pegar. Custa, em média, R$ 80. Já amputei três dedos e não quero ficar sem medicação e ter de passar por isso de novo”, desabafa.

A aflição do serralheiro é compartilhada por milhares de brasilienses que precisam contar com a sorte para conseguir remédios nas três farmácias de alto custo existentes no Distrito Federal. Por questão de sobrevivência, os pacientes, na maioria das vezes, dependem do tratamento contínuo e diário dos insumos.

Nesta reportagem da série DF na Real – na qual os candidatos ao Governo do Distrito Federal (GDF) comentam o que fariam (confira no fim do texto) para resolver os problemas apontados pelos moradores da capital –, o Metrópoles percorreu as unidades da Farmácia de Alto Custo da Asa Sul, Ceilândia Norte e Gama e acompanhou o calvário de homens e mulheres dependentes de medicamentos custeados pelo poder público.

Apesar das longas filas, nem sempre o medicamento está disponível. Um levantamento da Secretaria de Saúde do DF aponta que 23 remédios estão em falta. Ao todo, a Farmácia de Alto Custo disponibiliza 220 rótulos. Os insumos são indicados para o tratamento de aproximadamente 100 condições clínicas diferentes.

Doença
Em tratamento reumatológico há cerca de cinco anos, o piscineiro Josinaldo de Vasconcelos Nunes, 35, aguarda por uma cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) para substituir articulações gastas por uma prótese.

Na manhã de quarta-feira (17/10), ele foi até a Farmácia de Alto Custo de Ceilândia com o objetivo de buscar o composto de uso diário, ao qual não teria tido acesso nos últimos 15 dias. O homem tem artrite psoriática, anda com auxílio de bengala e saiu de casa, em Águas Lindas de Goiás, às 7h, porém, só recebeu atendimento por volta das 10h.

Vim [na farmácia] há duas semanas e não tinha o medicamento chamado Leflunomida. Esse remédio é muito caro e eu não posso pagar. Estava em casa, sem andar. É um verdadeiro Deus nos acuda ficar sem. Não me aguento de tanta dor. A gente, que sofre com a doença, só suplica para que o governo não deixe faltar.

Josinaldo de Vasconcelos Nunes
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O piscineiro Josinaldo de Vasconcelos Nunes, 35,  conseguiu o remédio Leflunomida nesta quarta-feira (17), após 15 dias
Receitas poderão ser entregues de forma remota
Farmácia de Alto Custo de Ceilândia, na EQNM 18/20
Apesar das longas filas, nem sempre o medicamento está disponível
Pacientes aguardam atendimento na Farmácia de Alto Custo
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Fernando Aparecido Alves de Lima, 43 anos, tem neuropatia diabética. Nos últimos dois meses, não conseguiu ter acesso ao medicamento Gabapentina

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O piscineiro Josinaldo de Vasconcelos Nunes, 35, conseguiu o remédio Leflunomida nesta quarta-feira (17), após 15 dias

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Receitas poderão ser entregues de forma remota

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Farmácia de Alto Custo de Ceilândia, na EQNM 18/20

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Apesar das longas filas, nem sempre o medicamento está disponível

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Pacientes aguardam atendimento na Farmácia de Alto Custo

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Fila grande na farmácia, registrada na quarta (17)

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O Metrópoles acompanhou o calvário de homens e mulheres dependentes de medicamentos custeados pelo poder público

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Tratamento interrompido
O mesmo ocorreu com a manicure Daiana Silva, 36, e com o administrador de empresas José Fernandes Macedo, 72. Ambos têm mãe e esposa, respectivamente, com artrite reumatóide (doença inflamatória crônica capaz de afetar várias articulações) e relatam que, no último mês, não conseguiram a fórmula Leflunomida para o tratamento da doença das familiares.

Daiana, filha de Raimunda Silva, 69, demonstra preocupação com a interrupção do tratamento. “Sem a medicação, a doença avança e provoca atrofia muscular. Sem contar a dor insuportável que o paciente sente. Ela grita de fraqueza. Já precisei carregar no colo”, comenta a manicure, que revela ter comprado duas caixas nos últimos meses por R$ 500 cada. “Vivemos com um salário. É muito difícil. A pessoa não está aqui porque ela quer. A doença não espera”, lamenta.

José Fernandes foi buscar o Leflunomida para a esposa, Rita de Cássia Mateus Macedo, 65. “Até uma semana atrás não tinha na rede. Lutamos para que nunca falte. Se não precisássemos, nem estaríamos aqui nos humilhando e enfrentando longas filas”, diz o homem.

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Pacientes aguardam para pegar medicamentos na unidade do Gama
Daiana Silva, 36 anos, foi buscar Leflunomida para a mãe, na Farmácia de Alto Custo da Asa Sul
Unidade da 102 Sul lotada na quinta-feira (18/10)
"Lutamos para que nunca falte. Esse seria o nosso ideal de modelo farmacêutico. Compras em dia e com estoque", reclama José Fernandes Macedo, 72.
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Farmácia do Componente Especializado, no Setor Leste do Gama

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Pacientes aguardam para pegar medicamentos na unidade do Gama

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Daiana Silva, 36 anos, foi buscar Leflunomida para a mãe, na Farmácia de Alto Custo da Asa Sul

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Unidade da 102 Sul lotada na quinta-feira (18/10)

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"Lutamos para que nunca falte. Esse seria o nosso ideal de modelo farmacêutico. Compras em dia e com estoque", reclama José Fernandes Macedo, 72.

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Ana Maria da Silva, 56, ficou mais de duas horas à espera de atendimento na última quinta (18), na unidade da Asa Sul

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Espera e recadastramento deixam a desejar
O que leva a desempregada Patrícia Maria Alves da Silva de Assunção, 49, todo mês à Farmácia do Componente Especializado da 102 Sul é a doença do filho. Antônio Gabriel Alves Assunção, 9, descobriu ser portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em 2015. Desde então, a mãe busca os remédios disponibilizados pela Secretaria de Saúde.

A criança toma duas substâncias diariamente. Um deles a família consegue gratuitamente através do cadastro na rede pública. “Moramos em Planaltina. Todo mês é essa saga. Às vezes falta a medicação, o Metilfenidato”, afirma.

Patrícia também reclama das longas filas. Segundo ela, por conta da falta de prestação adequada do serviço, a unidade vive lotada e os pacientes esperam várias horas no local. “Da última vez, só me avisaram que não tinha o que eu precisava na hora que estava na boca do guichê. Estou em tratamento contra um câncer de mama e também preciso de remédio. Além de não ter dinheiro para arcar com tudo, me sinto indisposta.

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Patrícia Maria Alves da Silva Assunção, 49, com o filho Antônio Gabriel Alves Assunção, 9. Criança tem hiperatividade e toma medicamento controlado

 

Mãe de um paciente esquizofrênico, Ana Maria da Silva, 56, ficou mais de duas horas à espera de atendimento, na última quinta (18), na unidade da 102 Sul. De acordo com ela, é difícil faltar o fármaco que o filho ingere diariamente. Em compensação, não há uma só vez em que ela vá ao local e não tenha de esperar.

“Moro no Varjão e, quando venho, perco o dia todo. O governo diz que está tudo bem, mas não está. Estamos passando sufoco”, denuncia, em tom de desabafo.

 

O que diz o GDF
Ao ser questionada pela reportagem sobre as reclamações dos pacientes, a Secretaria de Saúde informou que as três unidades da Farmácia de Alto Custo — Gama, Ceilândia e 102 Sul — realizam, em média, cerca de 1,2 mil atendimentos por dia das 8h às 17h. Atualmente, cerca de 30 mil usuários estão cadastrados.

Em relação à falta de Leflunomida, destacou que a composição se encontra disponível nas três farmácias. “O Metilfenidato 10mg encontra-se disponível e o de 30mg aguarda a entrega do fornecedor, que não realizou as duas últimas programadas.”

Há oferta de Gabapentina de 300mg nas três unidades. Já o de 400mg, encontra-se sem estoque, mas com entrega prevista ainda em outubro, segundo explicou a pasta. “Cabe ressaltar que o médico assistente poderá solicitar quaisquer das apresentações dos medicamentos Gabapentina, ajustando apenas a quantidade de comprimidos. Com isso, o paciente poderá retirar o item, na posologia disponível, sem prejuízo ao tratamento”, diz trecho da nota.

Atualmente, 23 medicamentos dos 220 disponíveis na rede estão em falta. Desses, cinco são adquiridos e fornecidos pelo Ministério da Saúde e 18 ficam sob responsabilidade do GDF.

Ainda segundo a Secretaria de Saúde, a renovação do tratamento trimestral é uma exigência estabelecida para os medicamentos elencados no componente especializado, conforme determina o Ministério da Saúde. Finalizou dizendo haver um projeto de descentralização do serviço, que prevê a abertura de uma unidade na região Norte, que engloba Fercal, Sobradinho I e II e Planaltina.

 

Veja o que os dois candidatos ao GDF pretendem fazer em relação ao serviço:

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
Ibaneis Rocha (MDB): “A situação das Farmácias de Alto Custo do DF revela a falta de planejamento e de gestão da saúde pública. Não dá para conviver com esse tipo de irresponsabilidade, e isso só vai ser solucionado com a revisão dos processos de compra, o que eu quero fazer a partir da recriação da Fundação Hospitalar, garantindo o abastecimento de toda a rede, principalmente esses medicamentos para pessoas que não têm condições de pagar e correm risco de morte porque são tratamentos que não podem ser interrompidos.”

 

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rodrigo Rollemberg (PSB): “Reconhecemos os desafios na saúde, o que inclui o acesso aos medicamentos de alto custo. Atualmente, temos três unidades da Farmácia de Alto Custo, na 102 Sul, em Ceilândia e no Gama. O projeto de descentralização do serviço prevê ainda a abertura de uma unidade na região Norte, em Sobradinho ou Planaltina. Vamos continuar dando atenção à essa demanda. Vamos implementar novas soluções tecnológicas nas unidades de saúde, que permitam melhorar o registro de informações clínicas, de gestão e de logística de insumos e medicamentos. Isso resultará em compras mais programadas e menos filas para a população. Na atual gestão, inauguramos a Farmácia de Alto Custo no Gama. No modelo do Instituto Hospital de Base, avançamos muito e hoje compramos medicamentos com menos burocracia, menor custo e mais agilidade. É importante registrar que na saúde encontramos problemas graves na relação com fornecedores. Fizemos uma verdadeira inovação. Havia empresa que não tinha nem sequer contratos com a secretaria, mas cobrava o serviço. Herdamos R$ 600 milhões de dívidas, somente na saúde, e as colocamos em dia.”

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