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Paciente fica 9 vezes em jejum para operar e cirurgias são canceladas

No Hospital Regional de Santa Maria, pessoas aguardam há dias por procedimentos, sem qualquer previsão de quando serão operadas

atualizado

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Santa Maria
1 de 1 Santa Maria - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O sofrimento de quem depende da rede pública de saúde parece não ter fim. No Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), pacientes denunciam que cirurgias são rotineiramente canceladas por falta de anestesistas. O suplício se torna ainda mais doloroso em razão dos sucessivos e desnecessários jejuns aos quais os enfermos são submetidos na expectativa de serem operados.

A cuidadora de idosos Valdecir Francelina de Carvalho, 54 anos, está internada há 55 dias. Ela sofreu uma fratura no calcanhar ao cair de uma escada. Na unidade, profissionais teriam pedido para a mulher ficar em jejum por nove vezes. Em nenhuma, porém, ela foi submetida a qualquer procedimento.

Além de passar o Natal e o Ano-Novo no hospital, ela perde o sono diariamente porque a neta – a quem chama de filha –, de 12 anos, está sob cuidados de familiares e amigos. “Eu sou o pilar da minha casa, não tenho marido”, revolta-se.

Indignada com a situação, ela gravou um vídeo que circulou pelas redes sociais. Veja:

 

A preocupação também existe fora do hospital. A filha de Valdecir, Jeane Carla Carvalho, 29, teme que a mãe se machuque na unidade. “Ela fica tonta toda vez que vai ao banheiro. Não consegue tomar banho sozinha porque não fica em pé. Desde que ela subiu para o quarto, não deixam ter acompanhante”, afirma.

Moradora do Novo Gama (GO), a balconista Lívia Camelo Ribeiro, 27, quebrou o punho e, desde então, sofre com a incerteza de quando deixará a unidade, onde está há 36 dias. Só no corredor, aguardando vaga em um quarto, ela conta ter ficado 21 dias, sem nenhuma perspectiva de quando finalmente receberá alta. 

Lívia chegou a ficar em jejum por seis vezes, mas em nenhuma foi avisada do adiamento do procedimento cirúrgico. “Tem dia que a gente fica com fome. Nem vieram falar que não teria”, comenta.

As duas pacientes denunciam que há “favorecimento” dentro do hospital. “Tem anestesista para operar gestante e tem gente com menos tempo que a gente, mas que já operou e foi embora”, sustenta Lívia. “Eu acho muito absurdo, sabe? Tem gente que entrou no dia 25 de dezembro, fez cirurgia e foi embora”, desabafa Valdecir.

Arquivo pessoal
Com o punho quebrado, Lívia Camelo Ribeiro, 27 anos, deu entrada no HRSM em 3 de dezembro

 

Falta de profissionais
Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) admitiu a falta de anestesistas. Apesar de a rede pública contar com 300 profissionais da área, o déficit é de 100 médicos, informou a pasta. Desde 2015, foram 55 novos contratados.

“Mesmo com as convocações feitas recentemente, a SES/DF não tem conseguido preencher todas as vagas, pois muitos convocados não chegam a se apresentar para o cargo. Além disso, houve muitas aposentadorias e exonerações de médicos da especialidade nos últimos meses”, explicou.

A pasta afirmou que as cirurgias estão sendo feitas no HRSM, mas os casos de emergência passam na frente. “Pacientes com fraturas expostas, idosos e crianças têm prioridade nos atendimentos”, complementou.

A Secretaria de Saúde, no entanto, não comentou a respeito dos jejuns desnecessários feitos pelos pacientes ou sobre os casos citados nesta reportagem.

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