Mulheres esperam no mínimo 1 ano para fazer reconstrução da mama no DF
No Distrito Federal, apenas quatro equipes realizam o procedimento na rede pública
atualizado
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Vencer o câncer não é fácil, são inúmeros exames, medicamentos e sessões de quimioterapia. Em alguns casos, para alcançar a cura é preciso mutilar o corpo. Para as mulheres, pode envolver aquilo que é mais simbólico com relação à feminilidade, os seios. Algumas brasilienses que passaram por essa batalha, hoje esperam por, no mínimo, um ano pela cirurgia de reconstrução de mama. No Distrito Federal, apenas quatro equipes realizam o procedimento na rede pública.
As cirurgias são realizadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), de Santa Maria, de Sobradinho e no Hospital de Base. Em 2015, foram feitas 80 operações, todas no Hran. De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, três equipes de cirurgia plástica e uma de mastologia atuam nas unidades. A pasta não informou quantas mulheres aguardam pelo procedimento. Há estudos para a contratação de novos profissionais para aumentar a assistência, mas nada foi definido. O procedimento na rede particular pode custar, em Brasília, de R$ 5 mil a R$ 40 mil.A doméstica Adriana Schutz (foto principal), 47 anos, descobriu o câncer de mama em 2012. A mastectomia no seio direito foi feita no mesmo ano. Os médicos recomendaram que ela não fizesse o procedimento de reconstrução imediatamente, pois ainda havia líquido no local, o que poderia trazer riscos. A caminhada para a recuperação foi longa. Adaptar-se ao novo corpo não foi fácil. Adriana teve depressão e ficou cada vez mais introspectiva.
“A autoestima fica baixa, nos sentimos excluídas da sociedade, mutiladas. A vaidade acaba. O pior é que não é apenas a gente que sofre. Meu filho também entrou em depressão, desenvolveu um quadro de automutilação e foi preciso encaminhá-lo ao psicólogo”, explica Adriana.
Quatro anos após a cirurgia, Adriana recebeu a notícia que tanto esperava, melhorou e recebeu o encaminhamento para fazer a reconstrução da mama no HRan. “Fiz o cadastro, levei os exames necessários, mas recebi a notícia de que não tem previsão para a cirurgia. Eles nem arriscaram falar o ano que eu seria chamada”, disse.
A presidente regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Marcela Cammarota, conta que, apesar de uma lei recomendar a reconstrução durante o procedimento de retirada, muitos hospitais públicos não conseguem cumprir a determinação.
“A demanda é muito grande nos hospitais públicos e as filas só aumentam. Diante dessa realidade, a SBCP organiza mutirões em todo o país para tentar reduzir esse número. Só no DF, vamos fazer 50 cirurgias. Em todo o Brasil, esse número salta para 500”, destacou. “A cirurgia é de grande importância porque, além de reinserir essas mulheres na sociedade, evita problemas ortopédicos. A falta da mama pode causar alterações na caixa torácica”, completou.
As mulheres que desejarem fazer o procedimento podem se inscrever pelo e-mail sbcp-df@cirurgiaplastica.org.br ou pelo telefone (61) 3346-2300. O mutirão vai ocorrer entre 24 e 29 de outubro.
Lei
Em 2013, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a realizar cirurgia plástica reparadora da mama após a retirada em decorrência de câncer. De acordo com a Lei nº 12.802/13, quando existirem condições técnicas, a reconstrução deve ser feita juntamente à retirada da mama. A Secretaria de Saúde afirmou que a legislação é cumprida no Distrito Federal sempre que a condição clínica da paciente permite.
Em casos de cânceres muito agressivos, em que há necessidade de radioterapia, ou mesmo nos mais graves, o intervalo pode variar de seis meses a dois anos entre a intervenção e a reconstrução.