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Médicos presos na Mr. Hyde contaminavam materiais durante cirurgias

Investigação descobre que equipamentos autorizados e pagos pelos planos de saúde eram inutilizados no momento dos procedimentos. Com isso, médicos ligados à Máfia das Próteses alegavam que era preciso usar, em caráter de emergência, produtos das empresas integrantes do esquema, a custo bem mais alto

atualizado

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1 de 1 cirurgia - Foto: Pixabay/Reprodução

Conforme avançam as investigações que deram origem à Operação Mr. Hyde, fica cada vez mais claro para a polícia o lado sombrio dos médicos suspeitos de integrar o esquema criminoso praticado pela Máfia das Próteses. Trechos inéditos do inquérito aberto pela Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco) mostram que os profissionais chegavam a contaminar as órteses e próteses que deveriam ser usadas nas cirurgias enquanto os pacientes estavam deitados nas mesas cirúrgicas.

De acordo com a apuração da polícia, o material pago e autorizado pelos planos de saúde era inutilizado no momento do procedimento cirúrgico, muitas vezes com a pessoa já anestesiada e inconsciente. Dessa forma, os médicos alegavam que era preciso usar órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs) que pertenciam às empresas integrantes do esquema — de valores bem mais caros — em caráter de emergência.

Como os planos não autorizavam todos os itens que a máfia queria usar para deixar a operação com um preço bem mais elevado, os médicos contaminavam os materiais, diziam que estavam com o paciente aberto na sala de cirurgia e precisavam usar outros produtos. Pressionados, os planos de saúde acabavam autorizando o procedimento

Fonte policial ligada à Operação Mr. Hyde

Reprodução

Dinheiro vivo
De acordo com as investigações, médicos, empresários ligados às empresas fornecedoras de OPMEs e os chamados “pastinhas” — operadores do esquema — montaram uma rotina para realizar o pagamento das propinas. Os acordos eram quitados sempre em dinheiro vivo, nos estacionamentos dos hospitais, no interior de veículos ou dentro dos consultórios dos próprios médicos.

Em interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça, Micael Alves Bezerra, um dos sócios da empresa TM Medical, que está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda, foi flagrado em uma conversa dizendo que já havia sacado R$ 50 mil em uma agência bancária.

A quantia seria entregue a um médico nas imediações de um hospital no Plano Piloto. O inquérito policial relata que investigadores cogitaram monitorar a entrega do dinheiro, mas, para não colocar a operação em risco, os agentes decidiram não acompanhar o pagamento da propina naquele momento.

O esquema
Segundo as investigações, ao menos uma empresa, a TM Medical, fornecia órteses, próteses e equipamentos à organização criminosa. Quanto mais materiais caros eram usados em cirurgias para colocação desses equipamentos, maior era a propina recebida pelos médicos, que chegavam a ganhar 30% extras sobre o valor pago pelos planos de saúde pela intervenção nos pacientes.

Desde que o caso veio à tona, ao menos 60 vítimas do esquema procuraram a polícia para prestar depoimento. Os relatos incluem mutilações e tentativa de homicídio, segundo consta no inquérito.

A Operação Mr. Hyde foi deflagrada em 1° de setembro. Naquela quinta-feira, 13 pessoas foram presas, incluindo médicos acusados de participar da Máfia das Próteses. No dia seguinte, cinco conseguiram habeas corpus no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e deixaram a carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE).

Um dos que deixaram a cadeia foi Henry Greidinger Campos, proprietário da Ortopedia Sudoeste, que, apesar de ser suspeito de integrar o esquema e até mesmo de orientar pacientes a mentir para planos de saúde, voltou a atender em seu consultório.

Sindicância no CFM e no CRM-DF
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) afirmaram que os fatos serão apurados com rigor e critério.

O CRM-DF informou, ainda, que será aberta sindicância para apurar a denúncia do ponto de vista ético e profissional, cujos indícios, se confirmados, podem dar origem a processo contra os médicos envolvidos, que ficam passíveis a penalidades previstas em lei específica, como a cassação dos registros.

De acordo com os artigos 68 e 69, do Código de Ética Médica, é proibido ao profissional interação com qualquer segmento da indústria farmacêutica e de outros insumos para a saúde com o intuito de manipular, promover ou comercializar produtos por meio de prescrição a pacientes.

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