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Médicos presos na Mister Hyde deixam a cadeia e voltam a atender

A reportagem conseguiu marcar uma consulta com o dono da Ortopedia Sudoeste, Henry Campos (foto), um dos detidos em 1° de setembro. Outros suspeitos de integrar a Máfia das Próteses que foram presos pela Polícia Civil voltarão a receber pacientes entre o fim deste mês e outubro

atualizado

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henry campos preso na máfia das próteses
1 de 1 henry campos preso na máfia das próteses - Foto: Facebook/Reprodução

Recém-saídos da cadeia, parte dos médicos acusados de integrar a Máfia das Próteses voltou à ativa e já atende pacientes. O Metrópoles procurou as clínicas onde quatro desses profissionais atuam. Um deles, Henry Greidinger Campos, está com agenda disponível para os próximos dias. Nos consultórios dos outros três — Rogério Gomes Damasceno, Juliano de Almeida Silva e Marco de Agassiz Almeida Vasques —, os atendimentos serão retomados entre o fim deste mês e outubro.

A agenda do ortopedista Henry Campos (foto em destaque), que foi detido em 1° de setembro, quando foi deflagrada a Operação Mister Hyde, estava disponível no consultório dele na Ortopedia Sudoeste, da qual ele é o proprietário. A atendente informou que era possível marcar uma consulta na quarta-feira (14), no período da manhã.

A reportagem foi ao local duas vezes na sexta-feira (9) e, em todas as oportunidades, a agenda do especialista estava aberta. Questionada sobre a prisão do médico, uma das recepcionistas afirmou que não poderia falar sobre o caso. Outra secretária explicou que o ortopedista apenas realiza atendimentos na clínica, e que as cirurgias são feitas em hospitais particulares. Dez minutos após o Metrópoles questionar a empresa em relação ao suposto envolvimento de Henry Campos com a Máfia das Próteses, a Ortopedia Sudoeste entrou em contato com a repórter e a consulta de quarta-feira (14) foi desmarcada.

Segundo os advogados que cuidam da defesa de Campos, o médico está afastado das atividades por “tempo indeterminado”. Sobre a marcação da consulta, a defesa dele informou que “se trata de um equívoco da clínica”.

Paciente orientada a mentir
Em um dos áudios interceptados pela polícia, foi flagrada uma conversa de Naura Rejane Pinheiro, secretária de Henry Campos, tentando convencer uma paciente a mentir sobre um procedimento médico que nunca havia sido feito. Naura, que também foi presa no mesmo dia que o chefe, liga para a mulher, alertando-a de que deveria receber uma ligação do plano de saúde. “Se o plano ligar, a senhora deve dizer que fez uma infiltração no consultório”, diz a secretária. Em seguida, a paciente rebate: “Eu não minto, não”.

Pressionada, Naura ameaça a paciente dizendo que, caso não simule que havia feito o procedimento, o processo para a realização da cirurgia iria zerar e todas as etapas precisariam ser feitas novamente.

Clínica “em manutenção”
Além da Ortopedia Sudoeste, na sexta (9), o Metrópoles visitou duas clínicas ligadas a médicos suspeitos de integrar a Máfia das Próteses. A Esplendor, no Setor Hospitalar Sul, estava com as portas fechadas e um aviso logo abaixo da placa com o nome do neurocirurgião Rogério Damasceno: “Em manutenção. Voltaremos em um mês”. O médico é apontado pela polícia como um dos líderes do esquema criminoso.

Mirelle Pinheiro/Metrópoles

A Clínica Médica Spine Center, na 614 Sul, também estava de portas fechadas. Na sala ao lado, uma atendente informou que a recepcionista está trabalhando de casa, e passou o número de um celular. Ao ser contatada pela reportagem, a secretária dos médicos Marco de Agassiz Almeida Vasques e Johnny Wesley Gonçalves disse que a agenda do primeiro deve ser aberta novamente apenas a partir do dia 23. No caso de Gonçalves, não há previsão, uma vez que o médico e empresário ainda está preso no Complexo Penitenciário da Papuda.

Além de atender na rede privada, Agassiz é médico-legista, lotado na Policlínica da Polícia Civil do DF. De acordo com a apuração feita por investigadores da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Vasques mantinha uma relação muito próxima ao colega e dono da empresa TM Medical, Johnny Wesley Gonçalves, apontado pela polícia como um dos líderes da organização criminosa que lesou, somente este ano, 60 pacientes.

Outro dos médicos presos que deve voltar a atender em breve é Juliano de Almeida e Silva, que cancelou os compromissos de setembro e deve retornar à atividade em outubro.

O Metrópoles não conseguiu localizar os advogados de Damasceno, Juliano de Almeida, Vasques, Gonçalves e Silva para comentarem o assunto.

Michael Melo/Metrópoles
Rogério Damasceno: “Volta em um mês”

 

O esquema
Segundo as investigações, ao menos uma empresa, a TM Medical, fornecia órteses, próteses e equipamentos à organização criminosa. Quanto mais materiais caros eram usados em cirurgias para colocação desses equipamentos, maior era a propina recebida pelos médicos, que chegavam a ganhar 30% extras sobre o valor pago pelos planos de saúde pela intervenção nos pacientes.

Desde que o caso veio há tona, ao menos 60 vítimas do esquema procuraram a polícia para prestar depoimento. Os relatos incluem mutilações e tentativa de homicídio, segundo consta no inquérito.

Além dos pacientes, muitos dos quais sofreram sequelas provocadas pelas lesões intencionais, outro alvo do esquema são os planos de saúde, que acabavam pagando mais caro por uma cirurgia que não necessitaria de órteses ou próteses. A propina geralmente era paga por depósito nas contas dos médicos ou então entregues em espécie nas proximidades dos hospitais onde ocorrem as cirurgias.

Sindicância
Com relação às denúncias, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) afirmaram que os fatos devem ser apurados com rigor e critério.

O CRM-DF informou, ainda, que será aberta sindicância para apurar a denúncia do ponto de vista ético e profissional, cujos indícios, se confirmados, podem dar origem a processo contra os médicos envolvidos, que ficam passíveis a penalidades previstas em lei específica, como a cassação dos registros.

Vale lembrar que, de acordo com os artigos 68 e 69, do Código de Ética Médica, é proibido ao profissional interação com qualquer segmento da indústria farmacêutica e de outros insumos para a saúde com o intuito de manipular, promover ou comercializar produtos por meio de prescrição a pacientes.

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