Médicos aprovados em concurso no DF desistem de vagas por conta das condições de trabalho
Atualmente a capital conta com 537 vagas ociosas. Dessas, 245 são de profissionais que resolveram não tomar posse
atualizado
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O estado atual da rede pública de saúde do DF é desalentador. Falta de equipamentos, salários atrasados e quilométricas filas de espera se tornaram rotina. O quadro tem desencorajado novos médicos, enfermeiros e técnicos da área, que preferem perder a chance do emprego estável a enfrentar esses obstáculos diários – mesmo diante de um atrativo salário inicial de R$ 5.407,25.
Em 2015, a Secretaria de Saúde convocou 373 novos profissionais aprovados no último concurso de 2004. Desses, apenas 128 se apresentaram. Assim, restam 245 cargos ociosos na rede pública. “No dia em que tomei posse, haviam convocado cerca de 60 pessoas e menos de 35 compareceram”, afirma um dos médicos aprovados na seleção, que preferiu não se identificar. Todos os aprovados terão até 30 de setembro para tomar posse.
“Além da falta de materiais básicos para a profissão e da rotina pesada, nossos colegas são bombardeados por reclamações de pessoas insatisfeitas com os problemas encontrados no hospital. É extremamente desgastante”, afirma Carlos Fernando da Silva, presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (Sindmédico-DF). Ele alerta que, por causa de todos esses problemas, ao menos 30% dos candidatos desistem das vagas oferecidas.Problemas por todos os lados
Uma volta rápida em qualquer hospital público da cidade confirma o triste cenário. Ao passo que há profissionais da saúde trabalhando em cargas horárias dobradas para não deixar os pacientes na mão, é possível encontrar leitos fechados ao público por falta de técnicos e áreas especializadas sem nenhum tipo de atendimento. Setores como o de cirurgia cardiovascular, de geriatria e de radioterapia ainda não receberam novos profissionais.
A empregada doméstica Anieli Nascimento foi uma dessas pessoas que sentiu o descaso na pele. Após sentir a garganta inflamada e de ter febre, resolveu buscar ajuda na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião, região em que vive. Ela esperou por nove horas por um médico, desistiu e tentou a unidade de Samambaia. Mesmo resultado. Ninguém podia atendê-la. Somente no dia seguinte, conseguiu ser medicada. “Está cada dia pior. A gente fica sem saber o que fazer numa hora dessas”, desabafa.