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Máfia das Próteses usava liminares para fazer cirurgias desnecessárias

A suspeita é de que os acusados davam embasamento técnico aos pedidos para enganar planos de saúde e magistrados

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Industria liminares
1 de 1 Industria liminares - Foto: istock

Médicos e empresas fornecedoras de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs) envolvidas na operação Mr. Hyde utilizavam liminares deferidas pela Justiça para fazer cirurgias desnecessárias em pacientes que se tornaram vítimas da Máfia das Próteses. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil suspeitam que os operadores do esquema podem ter forjado relatórios técnicos, que acabaram enganando os planos de saúde e até os juízes que concederam as autorizações para os procedimentos.

No centro das denúncias, está o médico neurocirurgião Johnny Wesley Gonçalves – também formado em direito –, sócio oculto da empresa TM Medical e alvo da primeira fase da Mr. Hyde. Wesley é suspeito de confeccionar muitos dos pedidos de liminares, que reforçavam ao Judiciário um suposto caráter de urgência das cirurgias. Ainda segundo a investigação, os relatórios técnicos anexados às liminares continham sintomas inexistentes e materiais que não precisariam ser usados na intervenção cirúrgica.

De acordo com o titular da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Servidores de Saúde (Pró-Vida), Maurício Miranda, todos os procedimentos feitos pelos médicos presos na Mr. Hyde serão analisados de forma minuciosa. “Sabemos que esses médicos produziam os relatórios técnicos para tentar dar respaldo às liminares. Caso as suspeitas sejam confirmadas, planos de saúde e magistrados podem ter sido enganados”, explicou. Todo o material apreendido, e que está em fase de análise pela Pró-Vida e pela Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), ocupa três salas da delegacia. Entre os documentos, muitas liminares.

Em entrevista ao Metrópoles, o diretor-geral da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Pedro Ramos, disse que advogados fazem pedidos desnecessários de liminares para a realização de cirurgias que envolvem órteses e próteses, tanto no Distrito Federal quanto no resto do país. “Não é justo usar da fragilidade humana e da confiança de seus pacientes para levá-los à mesa de cirurgia a fim de realizar procedimentos desnecessários”, afirmou.

Orientação para mentir

As interceptações telefônicas feitas pela polícia com autorização da Justiça mostram que os planos de saúde podem ter sido vítimas do esquema revelado pela Mr Hyde, nome em alusão ao clássico filme de terror “O médico e o monstro”. Em um dos áudios, Naura Pinheiro, secretária do médico Henry Campos, um dos presos durante a ação policial (ele já foi colocado em liberdade), tenta convencer uma paciente a mentir sobre um procedimento médico que nunca havia sido feito.

Naura, que também foi presa no mesmo dia que o chefe, liga para a paciente alertando que ela deveria receber uma ligação do plano de saúde. “Se o plano ligar, a senhora deve dizer que fez uma infiltração no consultório”, diz a secretária. Em seguida, a paciente rebate: “Eu não minto, não”. Pressionada, Naura ameaça a paciente dizendo que, caso não simule que havia feito o procedimento, o processo para a realização da cirurgia iria zerar e todas as etapas precisariam ser feitas novamente.

Ao todo, 13 pessoas foram presas durante a operação deflagrada no dia 1º de setembro. Henry conseguiu habeas corpus na Justiça um dia depois, no dia 2 de setembro.  Também foram colocados em liberdade os médicos Rogério Gomes Damasceno, Wenner Costa Catanhêde e Leandro Flores, além de Mariza Martins, que seria sócia da TM Medical. Os acusados não admitem o esquema e, diante dos delegados da Deco, todos permaneceram em silêncio.

 

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