Máfia das Próteses criou empresas falsas para lesar planos de saúde
Companhias tinham o único propósito de simular concorrência para enganar os planos de saúde, que pagavam por procedimentos cirúrgicos muitas vezes desnecessários
atualizado
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A denúncia apresentada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) contra os acusados de integrar a Máfia das Próteses apresenta uma nova faceta criminosa do grupo. Além de recomendar a realização de cirurgias desnecessárias que chegavam a mutilar pacientes, utilizar materiais de baixa qualidade e pagar propina a médicos, os líderes do esquema criaram empresas de fachada para simular concorrências. Tudo para enganar os planos de saúde que pagavam pelas cirurgias.
Segundo a denúncia, dois dos chefes da organização criminosa — os donos da empresa TM Medical, Johnny Wesley Gonçalves e Micael Bezerra Alves — criaram pelo menos dois empreendimentos falsos. Micael fundou e é sócio da empresa MBAlves, que, segundo o Ministério Público, era utilizada constantemente como suposta concorrente em disputas para o fornecimento de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs). Ainda de acordo com o MPDFT, a empresa pertence atualmente à irmã de Johnny Wesley.A outra companhia utilizada no esquema era a Spinetec, que tem em seu quadro de sócios Edson Luiz Mendonça Cabral, representante comercial acusado de auxiliar a TM Medical nas fraudes cometidas contra pacientes e planos de saúde. As investigações indicam que a Spinetec também era utilizada para a realização de falsas cotações e concorrências para contratos de OPMEs.
Ainda de acordo com a denúncia do Ministério Público, os depoimentos colhidos sugerem que a empresa é “apenas figurativa, já que este (Edson), conforme ficou apurado, atuava atendendo às ordens de Micael e em procedimentos da TM Medical”.
Uma busca na internet pelas empresas MBAlves e Spinetec não apresenta resultados significantes. Existe uma Spinetech que fornece equipamentos para neurocirurgia e implantes de coluna. No entanto, a empresa tem sede em Porto Alegre (RS) e atua no Sul do país. Sobre a MBAlves, sequer há menções.
O Metrópoles não conseguiu localizar os advogados de Micael Bezerra, Johnny Wesley e Edson Luiz Cabral para comentarem o caso.
Confira a íntegra da denúncia:
Quadrilhas em todo o Brasil
A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse ao Metrópoles que a Máfia das Próteses que atua no DF não é exclusiva da capital federal. Segundo a entidade, há quadrilhas semelhantes em outras unidades da Federação. A Abrange quer que a investigação se replique em todo o Brasil, não só em hospitais, mas em clínicas, laboratórios e escritórios de advogados, que promovem pedidos desnecessários de liminares para a realização de cirurgias que envolvem órteses e próteses.
“Antes de tudo, a nossa preocupação é com a segurança clínica de nossos clientes, assegurando que a medicina moderna seja aplicada de forma honesta, adequada e que produza os resultados para uma melhor qualidade de vida. Não é justo que alguns médicos, ignorando o juramento de Hipócrates (feito no ato da formatura), usem da fragilidade humana e da confiança de seus pacientes para levá-los à mesa de cirurgia a fim de realizar procedimentos desnecessários, visando unicamente o lucro. Mais grave ainda é ignorar que pessoas estão morrendo por causa de tais práticas”, disse o diretor da Abramge, Pedro Ramos.
Operação Mr. Hyde
A Máfia das Próteses do DF foi desarticulada em 1º de setembro, na Operação Mr. Hyde, realizada em conjunto pela Polícia Civil e o Ministério Público. Treze suspeitos foram presos, entre médicos e pessoas relacionadas à empresa TM Medical.
O grupo é acusado de fraudar pacientes e planos de saúde, que passavam por cirurgias desnecessárias e com materiais de baixa qualidade, para que a empresa pudesse aumentar seu lucro. Apenas neste ano, eles teriam atingido 60 pessoas. Os acusados também são suspeitos de ameaçar e atentar contra a vida de testemunhas.
Na terça-feira (20), o MPDFT apresentou denúncia contra 19 pessoas acusadas de integrar a quadrilha. O documento apresenta três líderes principais do grupo: além de Johnny Wesley Gonçalves e Micael Bezerra Alves, aparece o nome de Nabil Nazir El Haje, proprietário do Hospital Home, onde eram feitas as cirurgias. Por meio de assessoria, o Hospital Home negou quaisquer irregularidades.