UnB: centro de diagnóstico da febre amarela tem reagentes vencidos
A unidade de pesquisa da Universidade de Brasília é referência regional em análise de primatas não humanos
atualizado
Compartilhar notícia
Sinais de más condições sanitárias saltam aos olhos de quem trabalha no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), principal referência do Centro-Oeste em diagnóstico de febre amarela em macacos.
Situação verificada sobretudo em refrigeradores onde estão armazenados reagentes usados nas análises das amostras colhidas dos primatas. Parte dessas substâncias encontradas nessas geladeiras tem a data de validade expirada há seis anos.
O Metrópoles obteve, com exclusividade, imagens dos reagentes no centro de pesquisa, localizado no Hospital Veterinário da UnB, na Asa Norte.
Quase um ano após se tornar a primeira instituição de ensino superior incluída pelo Ministério da Saúde no rol de colaboradoras para o diagnóstico da doença, o laboratório contém substâncias mantidas de forma inapropriada. Por exemplo, ao lado de material biológico de necropsia.
Em uma das imagens, há embalagem de reagente para a enzima fosfatase alcalina vencido em março de 2013. O exame desse componente sanguíneo faz parte do diagnóstico da febre amarela. Em outra caixa, há também um reagente, não identificado, cujo prazo de validade expirou em 2014.
Desde setembro do ano passado, o Laboratório de Patologia Veterinária, vinculado à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da UnB, atende Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.
O credenciamento feito à época pelo Ministério da Saúde teve como objetivo descentralizar serviços laboratoriais, pois a epidemia de febre amarela no país ocasionou aumento da demanda relacionada à doença e superou a capacidade operacional da rede de centros credenciados.
O outro lado
Coordenador do laboratório, o especialista em patologia animal e professor da FAV Márcio Botelho negou o uso de reagentes fora do prazo de validade.
“Seguimos os padrões internacionais de exames e isso envolve o uso de reagentes que funcionam e estão de acordo com o protocolo de armazenamento”, reforçou.
Botelho também alegou que as substâncias mostradas nas fotos ficaram guardadas em gavetas e seriam desprezadas. De acordo com o docente, os líquidos sequer são usados para diagnóstico da febre amarela.
Não foram usadas e serão descartadas. Ficam em uma geladeira abandonada no fundo de outra sala, não a de imunohistoquímica [uma das técnicas usadas para detecção da doença]. Esse refrigerador nem é nosso
Márcio Botelho, coordenador do Laboratório de Patologia Veterinária da UnB
Botelho acrescentou que não há motivo para alarde. Especialmente, sobre possíveis falsos resultados. Neste ano, o laboratório analisou 292 macacos mortos, vindos de Goiás e Tocantins, além do DF. Nenhum deles, segundo o coordenador, estava infectado por febre amarela.
Por fim, o professor reforçou o cumprimento das normas obrigatórias para diagnóstico de febre amarela. Inclusive, destacou visita de técnicos do Ministério da Saúde ao local antes do credenciamento.
A pasta confirmou a visita e salientou que os pesquisadores do laboratório da UnB receberam treinamento no Instituto Evandro Chagas (IEC) – referência nacional no diagnóstico da doença –, no Pará. Ainda de acordo com o ministério, eles foram capacitados também no Instituto Nacional da Colômbia (INC), em Bogotá. O centro de pesquisa do país vizinho é referência internacional no assunto.
“Todo o diagnóstico realizado na UnB, até o momento, não teve nenhuma discordância de resultados por parte da referência nacional. O Laboratório de Patologia da universidade tem respondido em tempo hábil e vem contribuindo para a rede com muita experiência nas discussões técnicas e nas emissões dos resultados laboratoriais”, informou o Ministério da Saúde, em nota.
À reportagem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pontuou que cabe à Vigilância Sanitária no DF fiscalizar as condições sanitárias do local.
A Secretaria de Saúde (SES-DF), por sua vez, informou que a responsabilidade de vistoriar o Laboratório de Patologia Veterinária da UnB “não é da Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) ou da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) da pasta”.
Surto
O segundo semestre de 2017 e os três meses iniciais deste ano foram o período mais crítico da incidência de febre amarela no Brasil. Até 1º de março, houve 723 casos e 237 mortes pela doença confirmadas.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o número de registros de 1º de julho do ano passado e 28 de fevereiro de 2018 superou em 25% o do mesmo intervalo de 2016-2017 – nesse tempo, ocorrera 576 casos e 184 óbitos.