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HRSam: força-tarefa tem até novembro para periciar 11 denúncias

Unidade da rede pública de saúde do DF é alvo de investigação por negligência médica e violência obstétrica

atualizado

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Jacqueline Lisboa/Metrópoles
HRSam
1 de 1 HRSam - Foto: Jacqueline Lisboa/Metrópoles

Em nota conjunta divulgada nesta segunda-feira (29/07/2019), Ministério Público, Secretaria de Saúde, Conselho Regional de Medicina, Sindicato dos Médicos e Polícia Civil do DF informaram que reuniram esforços para responder o mais rápido possível às dezenas de denúncias de negligência e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam). Uma força-tarefa foi criada no âmbito da 26ª Delegacia de Polícia e do Instituto de Medicina Legal para apresentação, até 12 de novembro, dos resultados periciais relacionados a 11 casos em investigação. No total, foram recebidas 31 denúncias até a última terça-feira (23/07/2019).

Também ficou definida a criação de uma rotina da 1ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Usuários do Sistema de Saúde para comunicação compulsória à Secretaria de Saúde e ao Conselho Regional de Medicina dos casos envolvendo denúncias judicializadas de ilícitos vinculados a profissionais de saúde da rede pública, na especialidade de obstetrícia.

Ficou acordado, ainda, fórum permanente para estudos e elaboração de protocolos a serem aplicados pelos profissionais de saúde, na área de obstetrícia, visando prevenir condutas e procedimentos irregulares, com a participação de representantes da sociedade civil, inclusive, para discutir a construção de bases conceituais comuns e a abordagem do tema violência obstétrica pelo coletivo.

Coragem

De acordo com a delegada Renata Pereira de Jesus, responsável pela investigação, chama atenção a quantidade de novos casos. “Do dia 16 de julho até terça-feira (23/07/2019), recebemos esse grande número de relatos de que ainda não tínhamos conhecimento. Há situações de três anos atrás que as pessoas só se sentiram encorajadas de dizer agora, pois viram que não estão sozinhas no sofrimento.”

As histórias continuam seguindo o mesmo padrão, afirma a delegada. “Erros médicos e maus-tratos. De alguma forma, o que continuamos recebendo corrobora aquilo que já havia sido passado para a gente”, afirmou ao Metrópoles.

Renata Pereira explica que as investigações dessas ocorrências ainda estão no início. “Estamos na fase da apuração preliminar, ouvindo as vítimas. Aqueles [relatos em] que julgarmos que é possível ser instaurado inquérito, assim faremos”, disse a policial.

Das 15 denúncias que a 26ª DP recebeu até 16 de julho, oito foram juntadas e encaminhadas ao Ministério Público. “Foram aquelas mais recentes e que chamaram mais atenção da polícia”. Segundo a delegada, a decisão de enviar um inquérito para todos os casos foi estratégica. “Ao longo da investigação, eles irão se desmembrar, dada a complexidade de cada história. A escolha ajudou a estabelecer um protocolo de trabalho com a direção do HRSam. A partir de agora, pretendemos criar inquéritos autônomos”, adiantou.

Bebê dado como morto

No dia 17 deste mês, o Metrópoles trouxe o relato de uma jovem de 16 anos. A estudante V. G. S. viveu horas de apreensão após, grávida, dar entrada no HRSam apresentando fortes dores na região da barriga. Na unidade pública de saúde, foi recebida e atendida por uma médica que, sem nem mesmo realizar qualquer exame, diagnosticou a morte precoce de seu bebê e receitou um abortivo. Nove horas depois, a gestante entrou em trabalho de parto e, contrariando o diagnóstico da profissional, deu à luz um menino cujo coração ainda batia.

A surpresa e a alegria da mãe e dos familiares duraram uma hora e 40 minutos. Após ela deixar a sala de cirurgia para se instalar no quarto, um médico informou à jovem que seu bebê prematuro, de 6 meses, havia sofrido complicações e não resistiu. O óbito foi registrado às 23h30 daquele dia.

A adolescente sustentou que a morte da criança é resultado da negligência dos profissionais e poderia ter sido evitada com um diagnóstico preciso.

“A médica apenas tocou na minha barriga e disse que meu bebê tinha morrido. Sem fazer exames, me medicou. Mais tarde, por volta das 19h, outro médico me examinou, com um estetoscópio, e disse que não conseguia ouvir os batimentos cardíacos. Mesmo assim, meu filho nasceu vivo. Se fosse em qualquer outro hospital ou qualquer outro médico, ele poderia estar comigo hoje”, desabafou a jovem.

Gaze esquecida na vagina

Erika Pereira Nascimento, 25 anos, foi outra a denunciar o HRSam. Não bastasse o trauma de perder o primeiro filho por complicações na gestação, de acordo com a mulher, os médicos responsáveis pelo parto do natimorto esqueceram, em seu útero, duas gazes utilizadas no procedimento cirúrgico.

Erika relatou ter procurado a unidade após realizar exame de ultrassom que apontou a morte precoce do bebê. Diante da comprovação, a equipe optou pela internação da jovem. “Eles [médicos] disseram que não tinham como fazer mais nada. Fizeram os procedimentos de internação, mas só fui fazer o parto no dia seguinte, por volta das 5h.”

Dois dias após o parto, a autônoma recebeu alta médica e voltou para casa. No entanto, durante a recuperação, começou a ter complicações. “Fiz todo meu resguardo da maneira como me foi recomendado e, no final dele, comecei a sentir umas dores e percebi que saía um líquido com odor forte e sangue da minha vagina. No início, achei que fazia parte do próprio resguardo”, conta.

Cinco dias após apresentar os sangramentos na região uterina, as dores se intensificaram e ela procurou novamente o HRSam. “Eu sentia dor muito forte. Quando tocava, parecia ter um caroço. Fui ao hospital ver o que era, e o médico retirou de dentro da vagina a primeira gaze, que estava podre, e em seguida outra.”

Segundo Erika, o profissional responsável pela extração dos materiais hospitalares omitiu a informação no prontuário, em uma tentativa de “esconder o erro médico”. À reportagem, a jovem disse ter procurado a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) no dia seguinte, para denunciar o fato, e ter se sentido “esquecida”.

“Foi tudo muito difícil. Primeiro, perdi meu primeiro filho, em um hospital que não tinha atendimento bom, que foi negligente. Fui esquecida e minha irmã teve de procurar os médicos para que eles me atendessem. Depois do parto, quando estava me recuperando e sofrendo meu luto, ainda tive que passar por tudo isso, inacreditável”, disse ela.

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