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HRSam: estudante morre após parto e família denuncia negligência

Parentes relatam que Yasmin Lima recebeu alta do hospital mesmo com febre, náuseas e fortes dores na barriga. Polícia investiga

atualizado

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Arquivo Pessoal
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1 de 1 yasmin-capa - Foto: Arquivo Pessoal

O Hospital Regional de Samambaia (HRSam) é alvo de mais uma denúncia de negligência médica e violência obstétrica. A família de Yasmin Campos Vieira Lima, de 18 anos, acusa a unidade da rede pública de saúde de ter dado alta à jovem mesmo com ela reclamando de fortes dores na barriga, em decorrência do parto, febre e não estar conseguindo amamentar a filha. A 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) informou que investiga o caso.

O nascimento da filha de Yasmin, a pequena Alice, ocorreu na madrugada da segunda-feira (12/08/2019). O parto foi normal, mas, segundo Kennedy Mikael da Silva, 20, padrinho da bebê, muita coerção foi feita durante a cirurgia. “Forçaram demais a saída. Mesmo com o parto natural, fizeram alguns pontos e ela reclamava de muita dor”, contou.

De acordo com a família, o quadro de Yasmin não melhorou com o passar dos dias. Febre, náuseas e vômito foram registrados enquanto ela ainda estava no HRSam. Mesmo assim, ela teria recebido alta na quarta-feira (14/08/2019). “Estava muito fraca e a filha não pegava o peito. Encheram ela de remédio e depois liberaram a ida para casa”, afirmou Kennedy.

Ele relatou que, em casa, a jovem se sentiu mal ao longo da noite. As náuseas se agravaram e as dores na barriga também. “Ela disse que parecia que os pontos iriam abrir de tanta dor. Não conseguia nem andar direito. Por isso, na quinta-feira (15/08/2019) à tarde, a gente tentou voltar com ela para o hospital”, explicou amigo de Yasmin.

A família conta que teria solicitado ajuda do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não havia ambulâncias disponíveis. Yasmin foi levada de volta para o hospital em um carro de aplicativo, mas desacordada. “Foi atendida rapidamente e, à priori, a causa da morte foi parada cardíaca. Mas achamos que o mau-atendimento tem a ver com o falecimento dela”, disse o padrinho de Alice.

A família agora pede doações para que Alice não fique desamparada. As contribuições podem ser feitas ao padrinho da criança, Kennedy, pelo telefone (61) 98485 2001, ou à madrinha, Erikarlla, pelo número (61) 98130 1912.

Versão oficial

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou, por meio de nota, que a paciente realizou parto normal no último dia 13, recebendo alta médica no dia 14.

Ainda de acordo com o texto, Yasmin “deu entrada, novamente, na manhã da última quinta-feira (15), às 8h50, já em parada respiratória. A equipe do pronto-socorro tentou reanimá-la, realizando todos os procedimentos possíveis, sem sucesso, constatando o óbito às 9h30”. Como a causa da morte não pode ser constatada, explicou a pasta, foi solicitada perícia ao Serviço de Verificação de Óbito.

Bebê dado como morto

O caso de Yasmin é apenas mais uma das denúncias de negligência médica e violência obstétrica no HRSam. A 26ª Delegacia de Polícia havia registrado, até o final de julho, 31 ocorrências contra a unidade de saúde. Onze casos avançaram e aguardam laudos do Instituto de Medicina Legal até 12 de novembro para conclusão das investigações. Uma força-tarefa foi criada envolvendo, além da Polícia Civil e a Secretaria de Saúde, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF).

Em 17 de julho, houve o relato de uma jovem, de 16 anos. A estudante V. G. S. viveu horas de apreensão após, grávida, dar entrada no HRSam apresentando fortes dores na região da barriga. Na unidade pública de saúde, foi recebida e atendida por uma médica que, sem nem mesmo realizar qualquer exame, diagnosticou a morte precoce de seu bebê e receitou um abortivo. Nove horas depois, a gestante entrou em trabalho de parto e, contrariando o diagnóstico da profissional, deu à luz um menino cujo coração ainda batia.

A surpresa e a alegria da mãe e dos familiares duraram uma hora e 40 minutos. Após ela deixar a sala de cirurgia para se instalar no quarto, um médico informou à jovem que seu bebê prematuro, de 6 meses, havia sofrido complicações e não resistiu. O óbito foi registrado às 23h30 daquele dia.

A adolescente sustentou que a morte da criança é resultado da negligência dos profissionais e poderia ter sido evitada com um diagnóstico preciso.

Gaze esquecida na vagina

Erika Pereira Nascimento, 25, foi outra a denunciar o HRSam. Não bastasse o trauma de perder o primeiro filho por complicações na gestação, de acordo com a mulher, os médicos responsáveis pelo parto do natimorto esqueceram, em seu útero, duas gazes utilizadas no procedimento cirúrgico.

Erika relatou ter procurado a unidade após realizar exame de ultrassom que apontou a morte precoce do bebê. Diante da comprovação, a equipe optou pela internação da jovem. Dois dias após o parto, a autônoma recebeu alta médica e voltou para casa. No entanto, durante a recuperação, começou a ter complicações. Segundo Erika, o profissional responsável pela extração dos materiais hospitalares omitiu a informação no prontuário, em uma tentativa de “esconder o erro médico”.

Vistoria

No início de agosto, a força-tarefa criada para apurar denúncias de negligência e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) feitas desde 2018 esteve na unidade da rede pública de saúde para ouvir os médicos que atendem na ginecologia e obstetrícia. Os servidores relataram sobrecarga e falta de equipamentos básicos – entre eles, sonares fetais, fundamentais para escutar os batimentos cardíacos dos bebês, entre outros.

Os profissionais foram unânimes em reconhecer que o atendimento se torna lento porque estão sobrecarregados com muitos casos da atenção primária, uma vez que, atualmente, as unidades básicas de saúde não contam mais com a especialidade de ginecologia. Segundo os médicos, são realizados entre 150 e 200 atendimentos por dia na unidade de ginecologia e obstetrícia, além de, aproximadamente, 400 a 450 partos por mês.

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