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Homem morre à espera de UTI no DF, mesmo com ordem de internação

Joaquim Araújo tinha decisão que obrigava a Secretaria de Saúde a providenciar leito. Mas, sem tratamento adequado, ele perdeu a vida

atualizado

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idoso morto sem uti Joaquim Macêdo Araújo
1 de 1 idoso morto sem uti Joaquim Macêdo Araújo - Foto: Facebook/Reprodução

caos instalado na saúde pública do Distrito Federal fez mais uma vítima. O comerciante Joaquim Macêdo Araújo, 78 anos, não resistiu às complicações causadas por duas paradas cardíacas e morreu na segunda-feira (21/5). A família do idoso tem consciência de que o quadro clínico dele era grave, mas se revolta com o fato de, mesmo com uma ordem judicial em mãos, não ter conseguido a transferência do paciente para uma unidade de terapia intensiva (UTI). O caso revoltou parentes do homem.

Joaquim deu entrada no Hospital Regional de Planaltina (HRP) após sofrer uma parada cardíaca em 14 de maio. Durante os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), o idoso lesionou uma costela. Apesar de a reanimação ter sido bem-sucedida, as lesões causadas pela RCP contribuíram para o desenvolvimento de uma pneumonia.

Desde o dia em que passou mal e precisou ser internado, o idoso permaneceu no box de emergência do HRP, aos cuidados da equipe médica e de enfermagem, mas sem a atenção intensiva recomendada pelos próprios profissionais. Com indicação de hemodiálise diária, Joaquim não passou por nenhuma sessão de filtragem do sangue, pois o HRP não possui o equipamento.

Para a enteada de Joaquim, a bancária Elisângela Medeiros, o padrasto poderia ter sobrevivido caso houvesse recebido o tratamento adequado em um leito de UTI.

É triste demais ver um familiar morrendo aos poucos. Tentamos de todos os lados, vários contatos, e ninguém conseguiu nada. Todo hospital deveria ter UTI. Os médicos e enfermeiros do Hospital de Planaltina fizeram tudo que estava ao alcance deles, deram todo suporte necessário, cuidaram do meu pai com muita atenção e carinho, mas lá não era o lugar adequado para o tratamento do caso dele

Elisângela Medeiros, enteada de Joaquim

Tristeza e indignação
Marina Medeiros, neta de Joaquim, utilizou sua conta no Facebook para demonstrar a indignação de ver o avô morrer na fila por uma vaga de UTI.

Sem transporte
A dificuldade na transferência para um leito mais bem equipado não foi o único obstáculo encontrado pela família durante a saga de tentar recuperar a saúde do idoso. No sábado (19/5), ele precisou passar por um exame realizado pela rede pública apenas no Instituto Hospital de Base do Distrito Federal (IHBDF), mas não conseguiu transporte pela Secretaria de Saúde (SES-DF) ou pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Tive de contratar uma ambulância particular e, quando estava tudo pronto para levá-lo, o médico não autorizou a entrada. O profissional do dia anterior tinha permitido, mas, quando trocou o plantão, o outro não deixou. Ou seja, entramos num loop”, critica Elisângela.

Joaquim Macêdo Araújo foi sepultado na tarde dessa terça-feira (22), no Cemitério de Planaltina, região administrativa onde ele morava. O drama do idoso não é exceção no combalido sistema de saúde pública do DF. Na capital da República, centenas de pessoas acionam a Justiça diariamente para tentar obrigar o Governo do Distrito Federal a fornecer os serviços que deveriam estar disponíveis à população.

Judicialização
Os dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a judicialização da saúde, de 2016, indicavam 1.346.931 processos sobre o tema – um aumento de 1.300% nos últimos sete anos.

A situação no DF é reflexo dessa realidade. Apenas em abril deste ano, a Defensoria Pública local ajuizou 65 ações para internação em UTI e 518 para realização de cirurgia. Os processos relacionados à saúde pública ultrapassaram a marca de 2 mil apenas no mês passado.

Segundo o defensor público Daniel Mesquita, do Núcleo de Saúde, nos casos de decisão judicial favorável, mas não cumprida, a medida mais frequente é a intimação pessoal do secretário de Saúde e a fixação de multa diária se houver inobservância.

“A maioria dos casos em que há descumprimento decorre da falta de vagas. Nessas situações, é interessante que os familiares e demais acompanhantes do paciente busquem informações para saber onde há leito disponível, até mesmo em outro estado da Federação, caso seja possível o deslocamento do paciente, ou em rede particular. Neste caso, é importante também ter um orçamento do custo da UTI particular, para viabilização de eventual pedido de bloqueio/sequestro de verbas públicas”, afirma Mesquita.

Ainda de acordo com o defensor público, a Defensoria elabora ofícios para os hospitais particulares com suporte de UTI para encaminhamento de orçamento compreendendo as necessidades do paciente. “É com base nos orçamentos que a Defensoria poderá requerer o bloqueio/sequestro de verbas públicas para custear o tratamento do assistido na rede privada”, explica.

Outro lado
Em nota, a Secretaria de Saúde reforçou que Joaquim Macêdo Araújo recebeu todos os cuidados da equipe médica e de enfermagem enquanto esteve internado no box de emergência do HRP. “Ele foi indicado para internação em vaga de UTI e passou por avaliações constantes e diárias de seu quadro clínico, bem como todos os pacientes regulados”, diz o documento.

De acordo com a pasta, a Central de Regulação atua de modo a garantir ao paciente que aguarda leito de UTI a internação no menor prazo possível, na primeira unidade onde surgir a vaga. “A lista não obedece a critérios sequenciais de data em que a pessoa entrou na fila, mas indicadores clínicos definidos pela prioridade de remoção de cada paciente”, informou a SES-DF.

Ainda de acordo com a nota, “a Secretaria se sensibiliza com a família e lamenta profundamente o ocorrido. A SES-DF trabalha para aumentar a oferta de leitos de UTI no Distrito Federal com a nomeação de servidores concursados”.

Gabriel Jabur/Agência Brasília
Emergência do Hospital Regional de Planaltina

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