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Estrutural: armadilha para mosquito reduz casos de dengue em 76%

Iniciativa da Associação dos Biólogos do Distrito Federal calcula ter evitado que mais de 15 mil ovos do mosquito se desenvolvessem

atualizado

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Em meio a alta de casos de dengue, população toma iniciativa contra o mosquito Local: Cidade Estrutural
1 de 1 Em meio a alta de casos de dengue, população toma iniciativa contra o mosquito Local: Cidade Estrutural - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O Distrito Federal registrou 7.010 casos prováveis de dengue até o fim de fevereiro de 2020. Embora os números sejam alarmantes, há uma esperança. Na Estrutural, houve redução de 76% nos registros em comparação ao mesmo período de 2019. A diminuição foi possível graças a um monitoramento dos ovos de Aedes aegypti.

A campanha foi batizada de Xô Mosquito. Coordenada pela Associação dos Biólogos do Distrito Federal (Assbio-DF) e sem apoio de dinheiro público, todo o trabalho é feito com o intuito de localizar focos do mosquito da dengue antes que ele comece a proliferação. “O monitoramento é um processo básico que não tem sido feito”, afirma o presidente Leonardo Pepino.

São 80 armadilhas de baixo custo para o Aedes aegypti espalhadas pela cidade. Com garrafas PET reutilizadas e papel adesivo, as arapucas são pequenas e colocadas em locais quase imperceptíveis, com 200 metros de distância uma da outra. “A gente utiliza ainda mais dois produtos: levedo e a bactéria Bacillus Thuringiensis Israelensis (BTI), com a ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia). Enquanto o primeiro serve para, em contato com água, exalar um odor que atrai o mosquito, o segundo evita que as larvas se desenvolvam”, explica Leonardo.

Ao todo, em 2020, 15.245 ovos foram retirados de circulação com o monitoramento, que não tem como fim matar o mosquito. “Nós fazemos o mapeamento de onde está acontecendo a maior incidência de ovos. A contagem das armadilhas ajuda a sabermos os locais críticos, mas, indiretamente, estamos fazendo o controle também”, comenta o presidente.

O trabalho fez com que o número de casos de dengue caísse de 113 nos dois primeiros meses de 2019 para 27 em 2020, o sexto menor registro entre as RAs. Com taxa de 73,43 casos a cada 100 mil habitantes, a cidade também se posiciona em sexto entre as 31 cidades relacionadas no informativo divulgado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

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Um pouco de água é necessária para que o mosquito deposite os ovos
As armadilhas são feitas com garrafas PET
Leonardo Pepino mostra os resultados do monitoramento
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Armadilhas para o mosquito são colocadas em postes na rua

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Um pouco de água é necessária para que o mosquito deposite os ovos

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As armadilhas são feitas com garrafas PET

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Leonardo Pepino mostra os resultados do monitoramento

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O processo conta com a ajuda de 20 voluntários ativos da Estrutural, que trocam semanalmente os papéis adesivos e enviam fotos da quantidade de ovos coletados. “Os participantes são instruídos, ganham um kit com tudo o que é necessário e eles próprios trocam tudo. Por meio de um aplicativo no celular fazem a leitura do QR Code da armadilha, mandam a foto e trocam o que for preciso”, diz Leonardo Pepino.

Quando o levedo ou o BTI acabam, há até postos de troca espalhados pela cidade para que os voluntários consigam reabastecer os próprios estoques.

Toda a estrutura é montada de uma maneira que os voluntários compitam entre si, a chamada gamificação. “As pessoas vão ganhando pontos e, em cada mês, quem mais contribuir com a iniciativa, ganha uma cesta básica. Por semestre, daremos um celular”, conta.

Dados da Semana 09 de 2020
Mapa de calor da última semana de fevereiro. Os pontos vermelhos são os locais onde o maior número de ovos foi encontrado, com pelo menos 150

Entre as competidoras, está a estudante Letícia Pereira, 13 anos. Familiarizada com o projeto desde 2018, quando o Xô Mosquito passou nas escolas da Estrutural, ela foi uma das campeãs do colégio em que estuda. “Ganhei um celular e os professores viajaram para o Nordeste, mas, neste ano, não conseguimos ganhar nada ainda”, comenta. Ela diz que todo final de semana passa por seis armadilhas para realizar a checagem.

Para a mãe da garota, Cleonice Alves, 41, a iniciativa une o útil ao agradável. “Cada ovinho é um mosquito a menos. É impressionante ver, toda semana, o tanto que consegue ser coletado”, comenta.

Outro participante é o estudante Vitor Emanuel Ferreira, 16. Em busca do celular como premiação, ele diz ter memorizado onde as armadilhas ficam e sabe exatamente o que fazer. “Eu só olho o mapa para saber se elas foram feitas ou não, pois já sei de cor”, brinca.

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Toda vez que uma armadilha é renovada, é preciso fazer uma marcação indicando que o serviço foi feito
Pontos pretos no papel são os ovos deixados pelo Aedes
Dados são repassados à Assbio-DF pelo celular
Gamificação estimula Letícia a ajudar. Ela está em busca de um celular novo
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Toda vez que uma armadilha é renovada, é preciso fazer uma marcação indicando que o serviço foi feito

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Pontos pretos no papel são os ovos deixados pelo Aedes

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Dados são repassados à Assbio-DF pelo celular

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Gamificação estimula Letícia a ajudar. Ela está em busca de um celular novo

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A bióloga Mayara Holanda participa do monitoramento como voluntária da Assbio-DF. Responsável por verificar se todas as armadilhas estão em bom estado, ela diz que tudo tem corrido muito bem. “O resultado é bem positivo. As crianças são bem responsáveis”, pontua.

O que são feitos com os dados?

De acordo com o administrador regional da Estrutural, Major Cunha, todas as estatísticas coletadas pelo projeto são repassadas a ele e têm grande valor no combate à dengue. “Ajuda bastante a gente, pois é diferente do trabalho de fumacê, por exemplo. Conseguimos trabalhar de forma muito mais rápida, pois todos os mapas nos ajudam muito”, explica.

Segundo ele, quando são observados os pontos vermelhos na cidade, logo são mandados caminhões para a retirada de materiais que acumulam água. “Normalmente, os focos são perto de casas abandonadas, buracos, terrenos vazios. Só para se ter uma ideia, a gente recolhe cerca de 300 toneladas por mês de lixo nas ruas”, afirma.

Para o administrador, o principal problema no combate ao mosquito é justamente na mudança de mentalidade dos moradores da região. “É uma cidade que cresceu acostumada com a situação, por causa do Lixão da Estrutural. Às vezes, a gente acaba de limpar um lugar e já vão lá e jogam de novo”, lamenta.

Procurada, a Secretaria de Saúde informou ter conhecimento do projeto e que, inclusive, a Subsecretaria de Vigilância à Saúde “já participou de reunião com os representantes”. A pasta destacou ainda que acha “válida toda a forma de mobilização da sociedade na prevenção ao Aedes aegypti, justamente porque se faz necessária essa parceria entre governo e sociedade civil para o combate ao mosquito”.

Os moradores da Estrutural interessados em participar do monitoramento podem se cadastrar enviando uma mensagem para a associação no WhatsApp.

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