Em quatro meses, Ambulatório Trans do DF recebeu 102 pacientes
Espaço foi inaugurado em agosto e conta com profissionais de psicologia, psiquiatria, endocrinologia, enfermagem e serviço social
atualizado
Compartilhar notícia
Em quatro meses de funcionamento, o primeiro Ambulatório Trans do DF atendeu 102 pacientes — o levantamento é de dezembro de 2017. A unidade, que fica no Hospital Dia, da 508/509 Sul, foi inaugurada em agosto e é a sexta do tipo no Brasil.
A equipe disponível é multiprofissional, com representantes das áreas de psicologia, psiquiatria, endocrinologia, enfermagem e serviço social.
“Qualquer pessoa que tenha conflito de gênero precisa fazer acompanhamento psicológico e psiquiátrico para que entenda o processo, o que está acontecendo com ela”, explica o gerente de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável da Secretaria de Saúde, Vittor Ibanes.Após a busca pelo atendimento na área de saúde mental, o serviço mais procurado do ambulatório é o de endocrinologia — para que, quando seja o caso, a hormonização ocorra de maneira correta com o auxílio de médico especializado.
De acordo com o gerente da pasta, hormônios ainda não são distribuídos na unidade — que aguarda credenciamento e repasse do Ministério da Saúde.
Piettra Helena Borges, de 21 anos, soube do ambulatório por uma amiga, e há mais de 3 meses é acompanhada pelos especialistas. Ela passou a se identificar como mulher aos 14 anos com a ajuda de equipe médica do Hospital Universitário de Brasília.
A estudante de Letras conta que na mesma época começou a trabalhar e recebeu seu primeiro salário: “Comprei vários itens femininos, falei para minha família que me chamassem de Piettra e que queria respeito”, recorda.
Para ela, o mais importante do Ambulatório Trans é o acolhimento e o atendimento psicológico, que em uma rede particular lhe custaria muito caro. “Eu me sentia doida. O entendimento te traz paz”, avalia.
Para o psicólogo da equipe, André Peredo, a criação do Ambulatório Trans faz parte da defesa de um serviço de saúde universal público de qualidade e de vanguarda. Ele — que também é funcionário do Creas da Diversidade — compôs o grupo articulado em 2016 para viabilizar o ambulatório no DF.
“No ambulatório, cabe à [área de] saúde mental avaliar a disforia de gênero, ainda que o enfoque seja para o cuidado, avaliar a possibilidade de agravos psiquiátricos e terapeuticamente oferecer meios para o tratamento, como psicoterapia individual e em grupo”, exemplifica.
As atividades em grupo são ponto de destaque para quem faz o acompanhamento no local. “Eu não tinha nenhum amigo trans. Aqui, vi que cada um tem uma história, mas os problemas são semelhantes. Encontrei quem me entendesse”, conta Nicole Abreu, de 23 anos.
Ela buscou o Ambulatório Trans em busca de apoio e orientação. Aos 14, passou a se reconhecer como mulher. Por ter apoio da família, ela reprimiu a ideia até os 21 anos.
Como é a entrada no Ambulatório Trans do DF
O primeiro passo para buscar acompanhamento no Ambulatório Trans do DF é agendar a participação em um grupo de entrada. Para isso, basta se dirigir ao Hospital Dia, de segunda a sexta-feira, das 7 às 12 horas e das 14 às 16 horas. O ambulatório atende terças e quintas-feiras.
As reuniões de acolhimento ocorrem duas vezes por mês — em terças ou quintas-feiras intercaladas.
No primeiro encontro, os profissionais explicam como funciona o ambulatório e colhem informações sobre as expectativas dos futuros pacientes.
“Antes de serem encaminhados para as consultas com cada especialista, eles passam por entrevistas para identificar as principais necessidades de cada um”, conta a técnica de enfermagem do local e também enfermeira de formação, Karyne Leão.
Políticas públicas estão previstas em legislação federal
As políticas públicas específicas para esse grupo social estão previstas na Portaria nº 2.803 de novembro de 2013, do Ministério da Saúde.
Por meio do marco legal, foi definido e ampliado o processo transexualizador no Sistema Único de Saúde, que prevê a capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para lidar de forma humanizada com transexuais e travestis, tanto na atenção básica quanto na especializada, sem discriminação.