Dr. Google. Brasilienses são os que mais buscam sintomas na internet
De acordo com pesquisa, os habitantes do DF lideram autodiagnósticos por meio da web em 16 capitais. Especialistas mostram preocupação
atualizado
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Quem nunca sentiu uma tosse ou alguma mudança no corpo e jogou os sintomas no Google para ter uma ideia do que eles podem significar? No Distrito Federal, o número de pessoas adeptas dessa prática parece ser maior que no resto do país. Segundo pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), Brasília é a capital onde a população mais usa a internet para fazer autodiagnósticos de saúde.
De acordo com o levantamento, 66% dos brasilienses entrevistados afirmaram consultar sintomas na internet. Depois da capital federal, aparecem as cidades de Vitória (ES) e Salvador (BA), ambas com 59%. A lista é completada por Natal (RN), com 55%, e João Pessoa, com 53%. A pesquisa ouviu 2.340 pessoas, em 16 capitais brasileiras.
Uma das adeptas do autodiagnóstico na internet é a estudante Roberta Santos, 27 anos. Ela afirma que, sempre que percebe um sintoma diferente no corpo, joga logo as características na rede mundial de computadores. “Já levei alguns sustos. Eu sou uma pessoa muito exagerada, então sempre imagino que tenho o pior problema possível. Aí depois descubro que não era nada demais”, conta a jovem.De acordo com a pesquisa, o principal motivo que leva as pessoas a buscarem a internet para diagnósticos é a constante superlotação de prontos-socorros (41%). Em seguida, 18% dos entrevistados responderam que não consideram a opinião de um médico importante para a avaliação de sintomas de saúde em geral. Por fim, 17% acreditam que as consultas hospitalares são muito caras.
Para Marcos Pontes, clínico-geral do Hospital Santa Lúcia, o grande problema no uso da web são as interpretações erradas. “A gente achava que a internet ia melhorar as coisas, mas no meu dia a dia, percebo que ela tem piorado a situação”, afirma. “Agora, os pacientes já vêm com o sofrimento antecipado. Alguns param de trabalhar e ficam angustiados, achando que têm doenças graves, quando, na verdade, são casos simples”, conta Marcos Pontes.
Automedicação
O médico também alerta para um outro perigo potencializado pelo autodiagnóstico: a automedicação. Segundo a pesquisa do ICTQ, 40% das pessoas que tomam remédios por conta própria também usam a internet para pesquisar a causa dos sintomas. A farmacêutica Maria Elisa Moreira, pós-graduada em farmacologia clínica, explica os principais perigos de se tomar remédios sem supervisão médica.
“O principal risco é a intoxicação. Quando a pessoa se automedica, ela não tem ideia das reações que aquele produto pode provocar no corpo. Além disso, alguns medicamentos alteram o efeito de outros. Então, se o paciente já tem algum remédio de uso contínuo, o consumo de outra substância sem orientação pode diminuir a eficiência do fármaco”, explica Maria Elisa.
Os medicamentos são, inclusive, a principal causa de ocorrências de intoxicação atendidas no Distrito Federal. Segundo dados da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), no ano passado, 41% dos casos registrados estavam relacionados ao uso de remédios. Desses, 49% foram causados por circunstâncias acidentais como a automedicação.
Segundo a médica toxicologista da SES-DF Andrea Magalhães, crianças e adultos são os mais atingidos por esses tipos de intoxicação. Ela afirma ainda que os medicamentos que mais causam envenenamentos são os antibióticos, os cardiovasculares e os remédios para os sistemas respiratórios e nervoso central.
As pessoas não se automedicam porque querem. O acesso ao atendimento médico é difícil. Ainda assim, é preciso discutir esse problema. As pessoas ainda têm acesso muito fácil a remédios, e são orientadas pelas propagandas a tomarem o medicamento primeiro e, só depois, procurarem um profissional
Andrea Magalhães, médica toxicologista da SES-DF
A farmacêutica Maria Elisa Medeiros orienta os consumidores a procurem uma drogaria com profissionais da área antes de tomarem remédios por conta própria. “Os farmacêuticos podem ajudar os pacientes a resolverem problemas mais simples. Somos permitidos a orientar a posologia de medicamentos e recomendar remédios que não exigem a prescrição médica, por exemplo”, explica.
A Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde fornece atendimento 24h por dia para usuários que tiverem dúvidas sobre medicamentos ou intoxicações. Os interessados podem entrar em contato pelo telefone (61) 99288-9358.