metropoles.com

Sob nova gestão no DF, UPAs e hospitais registram aumento de atendimentos

Na semana em que a administração do Iges completa 80 dias, pacientes veem melhorias no sistema, mas também apontam problemas

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
JP Rodrigues/Metrópoles
Brasília (DF), 14/08/2019  – Evento: Unidades de saúde administradas pelo Iges – DF NA REAL-  Local UPA Samambaia Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 14/08/2019 – Evento: Unidades de saúde administradas pelo Iges – DF NA REAL- Local UPA Samambaia Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Nesta semana, o Instituto de Gestão Estratégia de Saúde (Iges-DF) completou 80 dias à frente da administração de oito unidades públicas de saúde do Distrito Federal. Após assumir oficialmente as seis unidades de pronto atendimento (UPAs) da capital, o Hospital de Base (HBDF) e o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) em 27 de maio deste ano, o Iges viu a procura por atendimentos médicos crescer. Tanto do ponto de vista dos pacientes quanto a partir da perspectiva dos profissionais, houve melhora no sistema como um todo, embora a realidade ainda esteja longe da ideal. Um dos maiores problemas é a quantidade insuficiente de médicos para suprir a demanda.

O Iges-DF promoveu reformas estruturais nas UPAs de Ceilândia, Sobradinho, Samambaia, Recanto das Emas, Núcleo Bandeirante e São Sebastião, além de no HBDF e no HRSM. A revitalização permitiu a ampliação das unidades e a reabertura de 67 leitos.

Ao longo dos últimos dias, o Metrópoles foi a essas instituições e entrevistou usuários de todas as oito unidades de saúde administradas pelo Iges-DF. Do total de locais visitados pela reportagem, apenas as UPAs do Núcleo Bandeirante e de Samambaia apresentaram operação normalizada – ou seja, independentemente da classificação atribuída no centro de triagem, os pacientes eram atendidos rapidamente.

Nos outros seis locais – HBDF, HRSM, São Sebastião, Sobradinho, Ceilândia e Recanto das Emas –, a demanda estava maior, especialmente em razão da quantidade de casos graves que eram recebidos nesses locais.

Na Unidade de Pronto Atendimento de Ceilândia, houve quem elogiasse a eficiência do atendimento aos pacientes classificados como em risco. “O pessoal tem que entender que UPA não é hospital, não tem 15 médicos. É para ser algo emergencial e rápido. Trouxe minha avó, de 83 anos, que estava com muita dor no peito. Ela já está sendo atendida e medicada. Foi mais rápido do que pensei”, elogiou Jordan Peres, 19.

Outra paciente, contudo, reclamou. Na expectativa de descobrir e tratar os sintomas que têm lhe “tirado o sono às noites”, Joana Claudia, 48 anos, buscou ajuda na UPA de Ceilândia. Moradora da cidade e ciente da alta demanda na rede pública, a usuária decidiu acordar cedo para evitar filas e chegou à unidade cedo, às 5h30.

Mas, após esperar por quatro horas, ela recebeu a notícia que não queria ouvir: “Atendimentos laranja e vermelhos serão priorizados”, disse um servidor da UPA que atribuía a culpa da demora à superlotação da unidade. “Sou diabética, estou com problemas de pressão alta e entrando em crise”, desabafou Joana à reportagem.

A usuária não foi a única a ficar sem atendimento. Com dificuldades para se locomover após romper uma veia da perna, o aposentado Antônio Rabelo, 65, voltou para casa de mãos abanando. “Tenho nem previsão de ser atendido. A gente espera três horas na fila para virem dizer uma coisa dessas. Por que não avisam quando a gente chega?”, indaga.

Apesar da reclamação dos usuários quanto à demora, relatório do Iges-DF aponta crescimento no total de pacientes atendidos pela unidade de janeiro a julho de 2019. De acordo com o documento, foram 39.943‬ usuários contemplados nos primeiros sete meses deste ano. O valor corresponde a 16,4 mil atendimentos a mais do que os realizados no mesmo período em 2018, quando cabia à Secretaria de Saúde (SES-DF) gerir a UPA de Ceilândia.

3 imagens
Com dificuldades para se locomover após romper uma veia da perna, o aposentado Antônio Rabelo, 65, desistiu do atendimento
Apesar das fortes dores, Antônio Rabelo deixou a Unidade de Pronto Atendimento de Ceilândia insatisfeito, pois não foi atendido
1 de 3

Joana Claudia reclamou da espera na UPA de Ceilândia

JP Rodrigues/Metrópoles
2 de 3

Com dificuldades para se locomover após romper uma veia da perna, o aposentado Antônio Rabelo, 65, desistiu do atendimento

JP Rodrigues/Metrópoles
3 de 3

Apesar das fortes dores, Antônio Rabelo deixou a Unidade de Pronto Atendimento de Ceilândia insatisfeito, pois não foi atendido

JP RODRIGUES/METRÓPOLES
Elogios no HBDF

Já no Hospital de Base, brasilienses elogiaram o atendimento recebido. O mecânico Gilbert Soares Selmo, 38, voltou ao HBDF após ser internado na unidade de saúde com infecção renal – e ficou satisfeito. “No dia em que cheguei aqui, eles me deram toda a atenção. Já tinha vindo antes. Há uns dois anos, aqui era um caos, fila até lá embaixo, sem leito e nem médico. Melhorou bastante”, observou.

Jéssika Siqueira de Castro, 23, foi outra a perceber melhorias na estrutura do Hospital de Base. “A gente olha no jornal e já se assusta, né? Às vezes, até evita vir, para não passar raiva. Hoje, não tinha como: saí do serviço mais cedo porque estava muito mal. Mas vim e fiquei pouco tempo na fila. Em cerca de uma hora, já estava lá dentro tomando soro”, relatou a auxiliar de serviços gerais.

A satisfação de pacientes na maior unidade de saúde da capital do país contrasta com o sentimento em outros locais. No Recanto das Emas, usuários ouvidos pelo Metrópoles denunciam que a falta de leitos levou os médicos a promoverem internações adaptadas na UPA.

Segundo um servidor ouvido pela reportagem, o local atualmente possui 28 pacientes internados. Ocorre, no entanto, que o espaço foi projetado para atender e receber até 17 pessoas. A superlotação se agrava com a falta de médicos, conforme flagrada pela reportagem nessa quarta-feira (14/08/2019), quando dois médicos desfalcaram a equipe, deixando apenas três profissionais à disposição da população.

Maria Conceição, 58, procurou a rede pública para se consultar e se frustrou. “É a terceira vez que eu venho aqui e nunca tem médico. Trouxe meu esposo, de 61 anos, que está queimando em febre, tem nódulo no pulmão, e eles dizem que estão apenas atendendo os casos amarelos. O jeito vai ser ir em uma clínica particular.”

Equipes desfalcadas também fazem parte das reclamações de quem corre para a UPA de Sobradinho em busca de tratamento. Mesmo com o Iges-DF tendo reativado a Sala Amarela, o que permitiu a criação de mais 10 leitos, o local ainda não consegue atender o volume de enfermos.

Com suspeita de dengue, Ciro de Araújo Noleto, 54, diz ter ido até o centro de saúde três vezes, sem sucesso. “Estou com suspeita de dengue há três dias e não consegui ser atendido”, disse.

Hospital Regional de Santa Maria

Já o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) não aparenta precisar de reformas estruturais, mas sofre com problemas operacionais, conforme o relato de Ana Paula Páscoa, 29, que denuncia a falta de leitos para internos. “Estou acompanhando minha tia, que é amputada. Do atendimento a ela não posso reclamar, mas quando a gente entra e passa pelos corredores, tem muita gente deitada em maca, algumas até improvisadas, por falta de quarto mesmo.”

 

6 imagens
Mesmo com sintomas de dengue, Ciro Araújo Noleto precisou esperar horas para ser atendido na UPA de Sobradinho
UPA de Sobradinho sofre com superlotação e equipe médica desfalcada
O Iges-DF é responsável pela administração do Hospital de Base, do Hospital Regional de Santa Maria e das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Inaugurado em 2008, o HRSM não aparenta precisar de reformas estruturais, mas sofre com problemas operacionais
Ana Paula Páscoa diz que estrutura é boa, mas faltam leitos
1 de 6

Maria Conceição, 58, também procurou a rede pública para se consultar – e se frustrou

JP RODRIGUES/METRÓPOLES
2 de 6

Mesmo com sintomas de dengue, Ciro Araújo Noleto precisou esperar horas para ser atendido na UPA de Sobradinho

JP RODRIGUES/METROPOLES
3 de 6

UPA de Sobradinho sofre com superlotação e equipe médica desfalcada

JP RODRIGUES/METROPOLES
4 de 6

O Iges-DF é responsável pela administração do Hospital de Base, do Hospital Regional de Santa Maria e das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

JP RODRIGUES/METROPOLES
5 de 6

Inaugurado em 2008, o HRSM não aparenta precisar de reformas estruturais, mas sofre com problemas operacionais

JP Rodrigues/ Metrópoles
6 de 6

Ana Paula Páscoa diz que estrutura é boa, mas faltam leitos

JP Rodrigues/ Metrópoles
Outro lado

Em entrevista ao Metrópoles, o presidente-diretor do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, atribuiu a superlotação das UPAs e hospitais ao aumento na procura popular, motivado pelas recentes contratações de profissionais e reformas. “É natural que isso ocorra. Nossa realidade é de unidades com capacidade para 200 pessoas recebendo 500. Eram unidades desacreditadas e que, agora, estão com credibilidade. Por isso, têm sido mais procuradas.”

“É preciso ressaltar que o que tem ocorrido muito, também, é que a população não entende a dinâmica das UPAs, por exemplo. A gente sabe que a população vai e quer ser atendida. É um direito deles, mas 70% desses pacientes procuram atendimento apresentando quadros de saúde de pulseira verde, que não correspondem aos atendimentos oferecidos pela UPA, geralmente destinados aos de pulseiras laranja e vermelhas”, explicou Araújo.

Questionado sobre os desfalques no quadro de médicos, o gestor assegurou que “todas as equipes estão completas”. “Desde que assumimos, já contratamos 1.510 novos profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, bioquímicos e farmacêuticos. O que pode ocorrer e foge do nosso domínio é um profissional faltar por problemas pessoais ou de saúde. Mas asseguro que todas as escalas estão completas, não há desassistência”, reforçou Araújo.

De acordo com o diretor-presidente, a fim de desafogar as demandas, o Iges-DF planeja a construção de outras seis unidades de pronto atendimento: no Gama, Paranoá, Riacho Fundo I, Vicente Pires, em Brazlândia e em Ceilândia.

“É preciso lembrar, ainda, que uma UPA sozinha não dá conta de um sistema. É preciso que haja retaguarda dos hospitais e centros de saúde. Estamos em uma fase de transição, e a realidade tem mudado. Hoje, não tem paciente que fica mais de cinco dias internado na UPA, como costumava ocorrer”, finalizou.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?