DF: dos infectados pela Covid-19 na Saúde, 10% são da limpeza e vigilância
Dados da Secretaria de Saúde e sindicatos mostram o avanço do coronavírus entre os terceirizados que atuam dentro das unidades hospitalares
atualizado
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Em meio à pandemia do novo coronavírus, não são apenas médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais da saúde que desenvolvem um trabalho essencial para manter as unidades hospitalares funcionando. A força-tarefa para conter a proliferação da doença no Distrito Federal conta com uma legião de terceirizados. São encarregados da limpeza e vigilância que estão diariamente em enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs), lado a lado com pacientes que lutam para sobreviver à Covid-19.
Segundo dados da Secretaria de Saúde, havia, até a última sexta-feira (29/05), 476 casos confirmados de Covid-19 em hospitais públicos coordenados pela pasta no DF. Os terceirizados somavam 49 registros (10,29% do total). Não foram divulgadas novas atualizações desde então quanto ao total de profissionais de limpeza e vigilância que testaram positivo para a doença.
Rotina pesada e fé
Uma das funcionárias que contraiu o coronavírus é a auxiliar de serviços gerais do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) Alcileda Vieira, 58 anos. Trabalhando no ambulatório durante a noite, ela diz que toma todos os cuidados possíveis tanto dentro quanto fora da unidade, mas acabou pegando o vírus.
Para ela, o lado bom foi ter sido diagnosticada rapidamente, sem sentir sintoma algum da Covid-19. Depois de cumprir quarentena em casa, ela voltou ao batente no último sábado (29/05), saudável. “Eu fico um pouco preocupada ainda, com medo de acontecer alguma outra coisa, mas estou bem”, relata.
Alcileda volta a uma rotina pesada. Acostumada a lavar todo o chão da parte que é responsável, ela diz que o serviço dobrou com a pandemia.
“Agora precisamos de ter todo um cuidado especial com mesas e cadeiras também. Deixar tudo pronto para o pessoal que entra de manhã, pois eles precisam cuidar de várias coisas com tanta gente que chega”, explica.
Confira o depoimento de Alcileda:
Linha de frente
Trabalhando ainda mais de perto na luta contra o coronavírus, está a também auxiliar de serviços gerais Elisabete Mota, 53. Ela foi designada para fazer a limpeza na área da UTI do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade referência ao tratamento da doença no DF. O trabalho de Elisabete é essencial para manter o local sem um único caso de contaminação pela Covid-19 até o momento.
A rotina é pesada. Trabalhando de 19h até 7h do dia seguinte, a auxiliar precisa tomar uma série de cuidados antes de entrar e ao sair do local. “Eu tenho dois uniformes. Quando chego no hospital, visto um deles para bater o ponto e então eu me dirijo à UTI. Antes de eu entrar, troco de roupa, visto outro uniforme, que é da área privada do isolamento. Depois de entrar, eu só saio no dia seguinte”, explica.
Apesar de todo o trabalho, Elisabete diz não ter medo de suas funções. Religiosa, ela afirma que essa foi uma missão enviada por Deus. “Faço o meu trabalho com muito amor e dedicação. Chego perto dos pacientes que estão entubados e falo para eles confiarem, acreditarem e se entregarem a Deus. Fico muito feliz em ver os técnicos se entregando cada minuto pelos pacientes”, afirma.
Outro trabalhador do Hran, um vigilante que preferiu não se identificar, relata preocupação. Uma vez que, na maioria das vezes, o primeiro contato de um paciente é com os seguranças, a principal apreensão é manter uma distância segura. “De uma certa forma a gente fica muito próximo. Fica com medo de ser contaminado. A pessoa chega lá e fala conosco antes da triagem”, detalha.
No Hospital Região Leste (HRL), no Paranoá, outro vigilante que pediu anonimato diz que abraçar esposa e filhos quando chega em casa é só depois do banho. “Deixo a roupa toda em um saco, vou só de cueca direto para o banho, que é demorado”, descreve.
Sindicatos pedem atenção das autoridades
Para o diretor de comunicação do Sindicato dos Empregados de Empresas de Segurança e Vigilância do Distrito Federal (Sindesv-DF), Gilmar Rodrigues, apenas nas últimas semanas as empresas contratantes e a Secretaria de Saúde começaram a prestar atenção também na categoria.
“Desde março estamos em uma luta árdua para conseguir a realização de teste [de diagnóstico da Covid-19) e mais Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para todos. Só agora que começaram a nos ouvir”, afirma.
Na semana passada, eram 19 os vigilantes de unidades de saúde do DF confirmados com a doença. Nessa terça, o total subiu para 26. O sindicato também computou três mortes de profissionais com a doença.
Já Maria Isabel Caetano, presidente do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário, Prestação e Serviços Terceirizáveis no Distrito Federal (Sindiserviços-DF), lembra a importância dos trabalhadores do setor na limpeza nos hospitais.
“Teria como uma UTI funcionar sem os funcionários de limpeza? É um trabalho tão essencial quanto o de um médico e, mesmo assim, muitas vezes somos tratados como ninguém”, reclama.
Com relação aos trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu um inquérito civil para apurar se eles estão sendo expostos à Covid-19 sem o amparo do governo. A ação é resposta para duas denúncias protocoladas na Procuradoria Regional do Trabalho da 10ª Região, por deficiência na paramentação dos profissionais com equipamentos de proteção individual, entre outras queixas.
Outro lado
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que, durante as ações do Sanear DF nas unidades de saúde, “os auxiliares de limpeza estão recebendo treinamento para desinfecção das áreas”.
Com relação à situação dos vigilantes, a pasta disse que “as empresas prestadoras de serviço são responsáveis pelo treinamento e distribuição dos equipamentos de proteção individual. Também no caso dos auxiliares de limpeza, as empresas com contrato vigente devem fornecer os EPIs”.