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Crise tira 20,7 mil brasilienses dos planos de saúde em um ano

Número de pessoas com assistência médica no DF diminuiu 2,2% no período, segundo ANS. Especialistas apontam desemprego, inflação e alta na taxa de juros como principais motivos da redução

atualizado

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O desemprego, a inflação e o aumento das taxas de juros têm afetado muito mais do que o bolso dos brasilienses. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), 20,7 mil pessoas no Distrito Federal desistiram de pagar assistência médica particular entre maio de 2015 e o mesmo mês deste ano. Isso equivale dizer que, a cada dia, 57 usuários trocaram o plano de saúde pela rede pública local. A debandada se intensificou nos cinco primeiro meses de 2016, quando 15,8 mil beneficiários deixaram de contar com atendimento privado.

Para especialistas, a crise econômica é o principal motivo da queda de usuários da assistência médica particular. O superintendente executivo do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, destaca que há uma relação direta entre a taxa de desocupação e a redução do total de beneficiários de planos de saúde coletivos, por exemplo.

A deterioração do mercado de trabalho impacta diretamente na contratação de planos coletivos, especialmente nos empresariais. Além disso, quem perde o emprego perde o plano também, na maioria das vezes.

Luiz Augusto Carneiro

O publicitário Felipe Martins, 23 anos, sabe muito bem disso. Após ficar desempregado no final de 2015, ele deixou de contar com a assistência da empresa em que trabalhava. Atualmente, exerce sua profissão como pessoa jurídica e não consegue pagar um plano particular. “Tenho outros gastos que tornam inviável investir no plano de saúde individual. O jeito é usar o serviço público”, lamenta o jovem.

E não é apenas o desemprego que tem obrigado os brasilienses a abandonarem a assistência médica privada. “Com as famílias ganhando menos, e o medo crescente de perderem o emprego, muitos optam por cortar os custos de saúde para pagar, por exemplo, a conta do mercado. Aquelas famílias que planejavam adquirir um plano estão adiando até que a economia volte a melhorar”, avalia Luiz Augusto Carneiro.

É o caso, por exemplo, da secretária Ana Lúcia Lemos, 41 anos. Com o orçamento apertado, ela encerrou o contrato com a seguradora referente ao seu plano. Porém, manteve o plano de saúde do filho, de 10 anos. “Posso suportar passar horas aguardando um atendimento médico, mas não me sinto bem em deixar que meu filho passe necessidade”, diz ela. A decisão tomada após a demissão do marido representou uma economia de R$ 255 nas despesas da casa. Ela, entretanto, não sabe até quando vai aguentar essa situação: “Se ficar muito apertado, vou deixar de pagar o benefício do meu filho também”.

O medo de Ana Lúcia se justifica. Recentemente, precisou recorrer a um atendimento de emergência na rede pública. “Ficamos 12 horas só esperando a triagem. Com certeza outras pessoas vão deixar os planos e sobrecarregar ainda mais os hospitais públicos”, argumenta.

Saúde cara
Além das dificuldades financeiras que afligem milhares de famílias, os aumentos nos preços dos planos de saúde também contribuíram para a queda na adesão. Em junho, a ANS fixou em até 13,57% o índice de reajuste a ser aplicado aos planos de saúde médico-hospitalares individuais/familiares no período compreendido entre maio deste ano e abril de 2017. Muitos usuários reclamaram do acréscimo, uma vez que a previsão do Banco Central é de que a inflação de 2016 fique na casa de 7%.

As operadoras se defendem e afirmam que os custos hospitalares tiveram alta ainda maior nos últimos anos. “As regras estabelecidas pela ANS tornaram esse produto pouco interessante às empresas e a oferta desapareceu”, argumenta Luiz Augusto Carneiro, superintendente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Pelos cálculos da entidade, os reajustes não compensam a escalada de custos do setor. Em 2015, o índice de custos médico-hospitalares subiu 19,3%, ante uma inflação de 10,67% no mesmo período.

Pelas informações da ANS, o número de usuários de planos de saúde no DF em maio de 2015 chegou a 942,2 mil. No mesmo mês deste ano, eram 921,5 mil beneficiários, uma queda de 2,2% em 12 meses. A debandada não é exclusividade da capital. No país, a redução chegou a 3,1% no mesmo período, significando que 1,5 milhão de brasileiros deixaram a assistência particular.

Esperança
Apesar do cenário de saída dos beneficiários de seguros e planos de saúde privados, a expectativa da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), representante das empresas, é que antes do fim de 2016 o setor recupere as perdas de beneficiários.

“Esse bem de consumo sempre foi altamente valorizado tanto pelos trabalhadores, que usufruem um serviço essencial, quanto pelos  empregadores, por ser um benefício importante para a retenção de talentos e o aumento da produtividade. Mas, apesar do panorama atual, há forte expectativa quanto à recuperação da economia ainda ao longo deste ano, o que certamente reverterá essa queda na adesão aos planos”, disse em entrevista Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da entidade.

 

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