Covid-19: em meio à pandemia, enfermeiros atendem idosos com luva de sacola
O Conselho Regional de Enfermagem definiu a situação como “estarrecedora e digna de intervenção imediata”
atualizado
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Máscaras de tecido e luvas de saco plástico. Foi assim que uma equipe de fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) encontrou profissionais trabalhando na última semana. O Metrópoles apurou que grupo é contratado pela empresa Prime Home Care, que tem convênio com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
O Coren-DF definiu a situação como “estarrecedora e digna de intervenção imediata” em meio à pandemia do novo coronavírus.
Sem equipamentos de proteção individual (EPIs) para atuar, os enfermeiros são obrigados a realizar procedimentos como banho, troca de fraldas, higienização íntima, administração de medicamentos, aspirações, punção venosa, administração de dieta via gastrostomia e demais atividades com luvas plásticas e máscaras de pano caseiras. De acordo com as denúncias, nem mesmo um avental é fornecido.
Segundo o Coren-DF, a empresa alegou que não conseguiu fazer as aquisições no mercado por causa da alta procura e escassez de matéria-prima. Assim, iniciou fabricação própria dos itens de proteção.
Entretanto, a fiscalização constatou que o material utilizado é impróprio, está em desacordo com as normas de segurança vigentes e não confere proteção ao profissional nem ao paciente.
Ao Metrópoles, uma funcionária revelou que os familiares dos pacientes estão comprando os equipamentos. “Nos atendimentos ao meu paciente, a família compra tudo e anotamos o que foi fornecido por eles. A situação está muito precária”, relatou.
“Os colegas fazem as visitas com luvas de plástico, sem avental e com uma fina máscara de tecido artesanal. Coloca não só a nossa saúde em risco, mas a dos pacientes, que já estão debilitados e são do grupo de risco da Covid-19”, disse.
Após a fiscalização, a empresa chegou a se comprometer com o conselho no sentido de regularizar a situação. No entanto, até essa segunda-feira (11/05), os profissionais continuavam trabalhando de forma precária. O Coren-DF assegurou que vai tomar medidas jurídicas urgentes para proteger a vida dos profissionais.
A empresa tem convênio de R$ 21 milhões com o Governo do Distrito Federal e atende uma unidade em Ceilândia voltada para pacientes em estado terminal.
O que dizem a secretaria e a empresa
A Secretaria de Saúde informou que possui contrato com a Prime para serviço de atenção domiciliar de alta complexidade. A pasta esclareceu que a responsabilidade de fornecer os EPIs de qualidade para os profissionais é da própria empresa, visto que não há previsão desse fornecimento, por parte da secretaria, no objeto do contrato.
A Prime se manifestou nesta quarta-feira (13/05). Em nota, afirma que constrói diariamente a reputação “calcada no cuidado e zelo com os pacientes, seus familiares e com nossos profissionais” e que o resultado disso é a ausência de contaminados com o novo coronavírus, entre funcionários e pacientes. Também diz que as luvas usadas são de material estéril, seguindo recomendação especializada. “A afirmação do Coren-DF é caluniosa e a empresa tomará as medidas legais necessárias frente à difamação da sua imagem”, aponta a empresa.
Confira a nota na íntegra:
Manifestação Prime Home Care by Leonardo Meireles on Scribd
Denúncias
O Departamento de Fiscalização (Defis) do Coren-DF, responsável por observar as condições de trabalho de enfermeiros, técnicos e auxiliares na linha de frente do combate à Covid-19, recebeu até o momento 100 denúncias de irregularidades entre março e abril.
As principais queixas são sobre falta de EPIs e outras irregularidades, que prejudicam o atendimento aos pacientes. A partir desses chamados, foram realizadas 32 fiscalizações operativas e 87 apurações analíticas.
O Defis também fez 342 atendimentos por telefone e 415 suportes através do serviço Fale Conosco ou por e-mail durante a pandemia. Foram expedidos 73 ofícios para cooperativas e empresas de home care, com esclarecimentos e orientações técnicas.