CLDF quer ouvir presidente da Caesb sobre produto vencido na água
Denúncia do Metrópoles revelou que empresa despejou hipoclorito de sódio fora da validade na água distribuída às populações de Paranoá e Itapoã
atualizado
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A utilização de substâncias fora do prazo de validade pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) na água que abastece as cidades do Paranoá e do Itapoã foi alvo de críticas na Câmara Legislativa. Tanto que a Comissão de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo decidiu convidar o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, para esclarecer a denúncia publicada pelo Metrópoles.
Durante debate sobre a crise hídrica do DF nesta quinta-feira (13/10), o deputado distrital Cristiano Araújo (PSD), que preside o colegiado, anunciou que Luduvice será convidado a prestar esclarecimentos. Na avaliação do distrital, é inadmissível que uma empresa como a Caesb, cuja principal função é cuidar da saúde da população, use produto vencido para tratar a água consumida por milhares de pessoas. “É uma grande irresponsabilidade. É algo estarrecedor. Precisamos acompanhar isso de perto para termos certeza de que a empresa não colocou em risco a saúde da população”, afirmou Araújo.
Reportagem desta quinta (13) revelou que a Caesb despejou hipoclorito de sódio vencido na água distribuída pela estação de tratamento do Paranoá. Vídeos e fotos feitos pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Distrito Federal (Sindágua-DF) mostram dezenas de tonéis sendo estocados para uso durante a greve dos servidores da Caesb, ocorrida entre os dias 16 de maio e 12 de agosto.
Especialistas alertam para problemas
Ao serem questionados pela reportagem sobre os possíveis riscos à população, engenheiros e químicos ficaram horrorizados com o caso. O especialista em saneamento pela Universidade de Brasília (UnB) Marco Antônio Almeida Souza explicou que o maior perigo do hipoclorito de sódio vencido é quando o material passa a conter impurezas que se tornam tóxicas. “Esse produto pode perder a validade como desinfetante e oxidante e não executar sua função que é livrar a água de substâncias como coliformes fecais e bactérias”, disse.
A engenheira ambiental Beatriz Barcelos, da Universidade Católica de Brasília (UCB), reforçou a opinião do colega. Para ela, “não é recomendável, em hipótese alguma, utilizar produtos vencidos para desinfetar água que será consumida pela população”.
Caesb alega que não havia risco à população
Ao ser questionada pelo Metrópoles sobre a denúncia, a Caesb admitiu que utilizou lotes vencidos de hipoclorito de sódio para tratar a água fornecida à população do Paranoá e do Itapoã. No entanto, assegura que a saúde dos moradores não correu risco.
Segundo Cláudia Morato, engenheira química da companhia, “o laboratório central da Caesb realizou exames e comprovou que a água estava própria para consumo. Portanto, o material vencido não colocou em risco a qualidade da água distribuída pela estação”. Ainda de acordo com Cláudia, “em virtude da greve, pedimos um estoque maior dessa substância para não prejudicar o abastecimento”.
Por meio de nota enviada ao Metrópoles, a assessoria de imprensa da Caesb também contestou a opinião dos especialistas. Para a companhia, “o hipoclorito de sódio não se torna um produto descartável, que não possa ser utilizado, apenas tendo por referência a data de vencimento”.
A reportagem voltou a procurar a Caesb nesta quinta (13) para comentar o convite a Luduvice, mas até a última atualização desta matéria, a assessoria de imprensa não havia retornado o contato.