Busca por realização de partos no DF aumenta 43%, segundo estudo
No Hospital Regional do Gama, por exemplo, cerca de 58% de toda a demanda da maternidade para partos é de grávidas que moram em municípios do Entorno
atualizado
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Sem condições de atender sequer a população do Distrito Federal, a rede pública de saúde continua sendo muito procurada por moradores das cidades mais próximas de Goiás e Minas Gerais, o que acaba pressionando a oferta de alguns serviços aos brasilienses. Moradoras dessas regiões, cada vez mais, preferem ter seus filhos nos hospitais brasilienses. Uma análise feita pela mestre em ciências da saúde Anna Karina Vieira, divulgada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), aponta crescimento de 43%, entre 2011 e 2014, no número de mulheres de outras unidades da Federação que fizeram o parto no DF.
Segundo o estudo da especialista, em 2011, foram realizados 10.837 partos em moradoras da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). Dos procedimentos, 61% ocorreram no DF, 29% em Goiás e 10% em Minas Gerais. Em 2014, do total de 13.417 nascimentos, 70% ocorreram no DF, 22% em Goiás e 7% em Minas Gerais. A estatística é resultado de uma pesquisa realizada após a implementação da Rede Cegonha..
“Enquanto cresceu o número de partos feitos no DF, houve, consequentemente, uma diminuição na demanda desse serviço em hospitais dos estados de Goiás e Minas Gerais”, constatou Anna Karina. Com isso, do total de 42.220 partos realizados na capital federal em 2014, 9.444 foram de mulheres de municípios goianos e mineiros, o que representa 22,36%.
Ainda de acordo com o estudo, a ampliação na estrutura das unidades da capital federal contribuiu para o aumento da procura. Os hospitais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal somaram 538 leitos obstétricos, em 2011, e 585, em 2014. Em alguns, como é o caso do Hospital Regional do Gama, cerca de 58% de toda a demanda da maternidade para parto é de gestantes do Entorno.
“Essa procura por atendimento aqui é natural porque falta estrutura nas unidades do Entorno. O DF acabou assumindo a responsabilidade de atender essas mães. Para equilibrar o sistema, os atendimentos foram distribuídos, por meio de uma portaria, entre os hospitais do DF. Assim, evita a superlotação”, diz a especialista.
De Goiás para São Sebastião
A dona de casa Maria de Fátima dos Reis (foto abaixo), 34 anos, está grávida de oito meses. Apesar de morar na Cidade Ocidental (GO), os exames e o pré-natal são realizados no Hospital Regional de São Sebastião. Desempregada, ela embarca em um ônibus logo cedo em direção para a unidade de saúde.
Maria diz que a viagem de duas horas uma vez por semana vale a pena. “Aqui é o melhor lugar que eu poderia recorrer. Os hospitais de Goiás são precários. Faltam medicamentos e até suprimentos para fazer um simples curativo. Imagina para fazer exames? É muito difícil”, relata.
Dos 19 municípios goianos que compõem a Ride-DF, apenas seis possuem leitos obstétricos públicos. Em Minas Gerais, das três cidades, duas possuem leitos obstétricos, porém, sem serviços de alta complexidade, como UTI materna e neonatal.
Outro ponto importante é que o percentual de partos normais em gestantes do Entono supera em muito o cesariano, sendo maior quando comparado às gestantes residentes no DF. Uma saída é direcionar para o DF apenas as gestações de alto risco.
No entanto, a maior parte dos procedimentos feitos nos hospitais vinculados ao GDF é de parto natural. Segundo Anna Karina, esse tipo de parto poderia, em tese, ser realizado no próprio município de residência da gestante.
Carla Martins da Silva (foto principal), 19, dona de casa, está na 32ª semana de gestação, que é considerada de risco. O acompanhamento é feito no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Moradora da Cidade Ocidental, ela também não abre mão de receber o atendimento no DF. “Aqui consigo tudo que preciso. Mês passado, tive pedra nos rins e precisei ficar internada por 11 dias. Fiz o tratamento e deu tudo certo. Na minha cidade, tudo é mais demorado”, desabafou.