Barbeiros contaminados com doença de Chagas são encontrados no DF
O Tripanosoma cruzi, protozoário agente etiológico da doença, foi localizado em Vicente Pires, Parkway, Paranoá, Águas Claras, no Jardim Zoológico de Brasília e em diversos pontos do Plano Piloto e de outras regiões administrativas do Distrito Federal
atualizado
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Diferentemente da crença popular, a doença de Chagas também está presente nas zonas urbanas. Uma pesquisa desenvolvida pela doutora em Medicina Tropical Thais Minuzzi encontrou barbeiros infectados com o Trypanosoma cruzi, protozoário agente etiológico da doença, em locais como Vicente Pires, Parkway, Paranoá, Águas Claras, no Jardim Zoológico de Brasília e em diversos pontos do Plano Piloto e de outras regiões administrativas do Distrito Federal.
No Zoológico de Brasília, por exemplo, foi identificada uma colônia com 50 barbeiros, 44 deles infectados com o protozoário. Os insetos foram encontrados dentro do viveiro dos micos e 17 dos 26 primatas também estavam infectados com o Trypanosoma cruzi. “Ali, a transmissão para humanos é possível pela picada e fezes do barbeiro e pelo contato com o sangue dos macacos”, conta Thais Minuzzi.O estudo foi orientado pelo professor Rodrigo Gurgel e coorientado pelos docentes César Cuba e Nadjar Nitz. O professor Rodrigo Gurgel explica que a coleta de sangue dos micos foi feita em 2012 e em 2014. Durante esse período, três dos micos morreram e foi identificada a infecção em macacos nascidos no cativeiro de mães negativas, comprovando a transmissão no local.
Alguns desses animais apresentaram grande quantidade de Trypanosoma cruzi por mL de sangue. “A nossa preocupação é: se isso ocorre com os animais que vivem próximos à mata, porque não ocorreria também com seres humanos?”.
Vicente Pires é a região onde mais se tem registros de barbeiros em casas no Distrito Federal. Até agora, exames em humanos deram resultados inconclusivos. A nova bateria de exames para averiguar possíveis casos ainda será feita. Se algum resultado for positivo, será a primeira ocorrência de infecção de seres humanos no DF.
A pesquisa
O estudo do Trypanosoma cruzi no Distrito Federal teve início na época em que o professor Rodrigo Gurgel ainda era aluno de graduação e integrante de projeto de iniciação científica. Durante esse período, foram encontrados mamíferos com o protozoário em muitas matas de Brasília. No mestrado, Rodrigo deu continuidade ao trabalho e, em 2004, foi concluído que 33% dos gambás do Santuário da Vida Silvestre do Riacho Fundo, próximo ao Jardim Zoológico de Brasília, estavam infectados com o protozoário. “Foi a partir desse trabalho que desconfiamos que esse quadro poderia afetar os animais do Zoológico”.
Em 2011, o estudante de mestrado Maicon Maeda analisou a ocorrência dos barbeiros no DF, no período de 2002 a 2010, e a taxa de infecção desse insetos por Trypanosoma cruzi. O pesquisador identificou sete tipos diferentes de barbeiros com apenas 3% deles infectados. Em 2012, Thais Minuzzi iniciou o estudo para identificar a taxa de infecção dos barbeiros do DF e de Goiás e, durante a pesquisa, encontraram as colônias dos insetos no Zoológico de Brasília.
O Jardim Zoológico de Brasília divulgou nota informando que, há mais de um ano, a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival, da Subsecretaria de Vigilância à Saúde do Distrito Federal) realiza o controle do hospedeiro barbeiro no local. Como medida preventiva, houve aplicação de veneno e buscas por possíveis focos. Desde 2015, a instituição não registrou nenhum caso deste hospedeiro, nem morte de outros primatas por esta causa.
A doença
Inflamação causada por um protozoário parasita, encontrado nas fezes de barbeiros, bastante comum nas Américas do Sul e Central. A enfermidade possui dois estágios. A aguda, com sintomas como febre, inchaço de um olho, fadiga, dores no corpo e de cabeça, aumento do tamanho do fígado e do baço e náusea, diarreia ou vômito. Já a fase crônica é mais grave e apresenta sintomas como constipação, problemas digestivos, dor no abdômen, dificuldades para engolir e batimentos cardíacos irregulares.
Como prevenção à doença, pede-se para não matar o barbeiro, caso seja encontrado. O ideal é que se recolha o animal com a devida proteção para evitar contato direto com o inseto e acione a Diretoria de Vigilância Ambiental do DF. O órgão cuida da análise para descobrir se é um barbeiro e se o inseto está infectado. A vigilância também faz uma varredura na região para saber se existem outros barbeiros.