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Assim como Mateus, 36 crianças precisam de UTI para serem operadas

Vagas para pacientes cardiopatas que necessitam de cirurgia nos primeiros anos de vida são quatro vezes inferiores à demanda

atualizado

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Material cedido ao Metrópoles
alice, recém-nascida à espera de uti
1 de 1 alice, recém-nascida à espera de uti - Foto: Material cedido ao Metrópoles

O drama de Mateus, nascido em 17 de maio, repete-se em pelo menos outras 36 famílias do DF. Assim como o bebê, que esperou mais de duas semanas por uma vaga em unidade de terapia intensiva (UTI) no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), dezenas de recém-nascidos em condição semelhante padecem por causa da falta de leitos em toda a rede pública de saúde.

Uma delas é Alice (foto em destaque). Nascida no mesmo dia de Mateus, no Hospital Municipal de Formosa, no Entorno do DF, a menina também tem cardiopatia congênita – alteração na estrutura do coração que se forma antes mesmo do parto.

Desde então, aguarda por uma das limitadas vagas do ICDF. Segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), há apenas oito leitos de UTI neopediátrica na unidade, quatro vezes menos que a demanda. O instituto é o único local conveniado à pasta para realização de cirurgias cardíacas pediátricas.

Segundo a mãe de Alice, Adriele Divina Ribeiro, 22 anos, logo após o nascimento de filha, ela foi informada que a criança tinha malformação cardíaca. “Ela estava um pouco roxa e me disseram que tinha sopro, mas não puderam me confirmar. No hospital, não havia equipamentos necessários para fazer o exame e comprovar o que ela tinha”, contou.

Após quatro dias internada, Adriele e Alice receberam alta. Preocupada com o estado de saúde da criança, a mulher levou a bebê ao pediatra. Ele recomendou a internação imediata no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), na Asa Sul. “O médico me disse que o caso dela era grave e que ia precisar de cirurgia.”

No hospital, Alice foi diagnosticada com Tetralogia de Fallot, condição rara na qual o paciente apresenta quatro defeitos cardíacos observados logo após o nascimento. A doença exige que Alice passe por duas cirurgias: uma paliativa e outra de correção total. Mas a demora no diagnóstico e as longas filas de espera podem agravar o estado da criança, que demanda atenção constante.

Na última quinta-feira (24/5), a menina sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e ficou sem sinais vitais por cinco segundos. Os médicos conseguiram reanimá-la. Desesperada com o episódio, a mãe recorreu à Defensoria Pública do DF para conseguir transferência do bebê para hospital particular, mas foi informada que a liberação depende de decisão do juiz.

Minha filha está entubada e dopada com morfina. Ela não tem como esperar e já não sei mais o que fazer

Adriele, mãe de Alice

Ajuda não governamental
Sensibilizada com os casos de luta pela vida, Janaína Souto, diretora da ONG Pequenos Corações, orienta famílias de crianças cardiopatas e faz petições na internet com o objetivo de pressionar o governo a agilizar o atendimento desses pacientes. Ainda assim, na avaliação dela, decisões judiciais que obrigam o GDF a conceder leitos para recém-nascidos nessas condições não surtem efeitos definitivos.

“Liminares não criam leitos. Quando a Justiça obriga a concessão de vagas, a Secretaria de Saúde alega que não há. Trabalha-se sempre com capacidade máxima ocupada. Ou seja, é preciso que uma criança melhore ou perca a vida para que outra, à beira da morte, consiga vaga”, criticou.

Janaína detalhou o cenário caótico vivido pelas crianças cardiopatas no DF. “Geralmente, elas não fazem cirurgia de correção de uma vez, mas em duas ou três etapas. As crianças que lutam para fazer a primeira nos dias iniciais de vida passam pelo procedimento somente com quase um ano”, disse.

A diretora da ONG Pequenos Corações salientou que o atraso compromete a qualidade de vida dos pacientes. Segundo Janaína, eles sofrem consequências pneumológicas, motoras e de aprendizado. Em alguns casos, sequer podem desempenhar atividades corriqueiras, como andar de bicicleta, por exemplo.

UTIs
Segundo a Secretaria de Saúde, 21 crianças estão na fila eletiva e outras 15 – incluindo Alice – na de urgência, aguardando vaga para cirurgia. “A maioria necessita de leito de UTI de retaguarda, ou seja, para ocupação após procedimento cirúrgico”, detalhou a pasta.

A SES-DF acrescentou que a rede pública de saúde tem 399 vagas desse tipo, incluindo as próprias, as contratadas e as conveniadas. Desse total, há 80 leitos de UTI neonatal e 55 de UTI pediátrica.

A Defensoria Pública, por sua vez, informou que a intimação para que Alice consiga a internação no ICDF já foi encaminhada, “mas desde então não houve o devido cumprimento”. Diante disso, o órgão “requereu de imediato o cumprimento da decisão” e esclarece que “está atuando com o devido empenho no caso”.

Ainda segundo a secretaria, a regulação das UTIs ocorre de acordo com cada caso. “Pacientes em situação de maior gravidade têm prioridade, mesmo para aqueles judicializados, como dispõem as próprias decisões judiciais, e a SES se esforça para cumprir as ordens provenientes do Judiciário”, diz nota da pasta enviada ao Metrópoles.

A SES ainda informou que, enquanto aguardam por um leito de UTI, esses pacientes ficam nas salas vermelhas da rede pública. “Uma vez inserido na Central de Regulação de Leitos, o paciente é encaminhado para a primeira vaga que surgir, de acordo com suas necessidades e classificação de risco, independentemente da unidade onde esteja internado.”

Mateus
Transferido para o Instituto do Coração do Distrito Federal nessa segunda-feira (28), após duas semanas de angústia, o recém-nascido Mateus apresentou uma pequena melhora. Com os rins sem funcionar, ele iniciou a diálise e está apresentando bons resultados. A pressão do bebê, até então muito baixa, também aumentou.

Médicos e familiares estão mais confiantes. “A recuperação está sendo devagar, mas estamos vendo uma evolução. Graças a Deus”, disse, nessa terça (29), Larissa Ferreira, mãe do pequeno guerreiro.

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