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Amontoados em leitos improvisados, pacientes aguardam cirurgias no HRG

A reportagem teve acesso ao pronto-socorro ortopédico da unidade e mostra a falta de estrutura e a longa espera por procedimentos cirúrgicos

atualizado

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Pedro Valente/Metrópoles
leito hrg hospital regional do gama pronto-socorro ortopédico
1 de 1 leito hrg hospital regional do gama pronto-socorro ortopédico - Foto: Pedro Valente/Metrópoles

A crise na saúde pública do Distrito Federal parece não ter fim. O descaso e a falta de estrutura nas unidades hospitalares se refletem no tratamento dos pacientes, como ocorre no Hospital Regional do Gama (HRG). No local, dezenas deles sofrem as consequências da escassez de leitos e profissionais. Há quem padeça há mais de dois meses à espera de cirurgias para correção de fraturas. Outros nem sequer têm previsão de quando serão operados.

A reportagem teve acesso ao pronto-socorro ortopédico do HRG. O cenário causa espanto: 58 pacientes – homens e mulheres – amontoam-se em 37 leitos improvisados, separados por divisórias metálicas e tapados por tecido TNT. Além de mal-acomodados, eles ficam sem a mínima privacidade. Dependem uns dos outros para executar tarefas como tomar banho, trocar de roupa e cuidar de sua higiene pessoal e necessidades fisiológicas.

 

Nos jogos de baralho, quem aguenta segurar as cartas encontra rara descontração. Apesar das lesões, até riem para disfarçar o sofrimento. Em outros momentos, as risadas cessam e dão lugar ao lamento.

“Parece que a agonia aumenta à noite. Só se ouve gente reclamando de dor”, contou um paciente. Por receio de sofrer retaliação e prolongar ainda mais a demora na fila de cirurgia – sentimento comum entre os ocupantes do pronto-socorro –, ele conversou com a reportagem somente sob condição de anonimato.

Penúria
“Este hospital virou minha casa”, disse a cozinheira Edilma Lopes Brandão, 48 anos. Ela “mora” na unidade de saúde desde o dia 17 de maio. Espera por cirurgias para correção de múltiplas fraturas, sofridas em um acidente de moto na BR-060. Tem lesões nos pés, punho esquerdo, clavícula e escápula direitas, além de rompimento no tendão de um braço e escoriações.

Edilma reclama do número insuficiente de enfermeiros. A cozinheira depende totalmente do auxílio de acompanhantes ou outros enfermos para executar tarefas comuns. “Não consigo fazer nada sozinha: comer, beber água, tomar banho. Há poucos profissionais. Ainda bem que tem pacientes de bom coração aqui”, relatou.

 

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Os espaços são separados por divisórias de metal
O improviso ocorre também nos corredores do local
Pacientes reclamam do descaso na unidade
Edilma Brandão, 48 anos, aguarda cirurgia há mais de duas semanas
Ela sofreu múltiplas fraturas após acidente de moto
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No pronto-socorro do HRG, boxes com leitos são tapados por tecido TNT

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Os espaços são separados por divisórias de metal

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O improviso ocorre também nos corredores do local

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Pacientes reclamam do descaso na unidade

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Edilma Brandão, 48 anos, aguarda cirurgia há mais de duas semanas

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Ela sofreu múltiplas fraturas após acidente de moto

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Para abrandar o sofrimento, pacientes se distraem com jogos de baralho

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A motociclista acrescentou que outros internados vivem situação mais grave: “Fazem as necessidades dentro dos ‘leitos’. O mau cheiro incomoda”. O contexto é tão crítico que ela minimiza a falta de privacidade. “Como estamos no mesmo barco, eu e alguns outros não nos incomodamos tanto.”

Outra paciente, idosa, está há mais de dois meses à espera de operação no fêmur fraturado. Ela nem sequer consegue se levantar da cama. “Só tomo banho quando tem alguém para me levar”, lamentou.

Um rapaz de 29 anos caminha com dificuldade. Ele fraturou a patela (osso situado na parte anterior do joelho) em acidente de moto e aguarda por operação há 13 dias. “Já fiz vários exames, mas fui informado de que há uma fila de espera e não há previsão para cirurgia. Disseram que devo esperar surgir vaga”, queixou-se. O machucado já nem causa dor. Porém, os movimentos estão limitados por causa do longo tempo de imobilização. “Mal consigo esticar ou dobrar a perna.”

O drama é recorrente na unidade de saúde. Em outubro de 2016, o Metrópoles mostrou que havia gente esperando há 90 dias por cirurgia no HRG. “A situação aqui está crítica. Ele já entrou e saiu do centro cirúrgico por pelo menos três vezes. Isso é um absurdo. Eles só iludem a gente. Viemos do Hospital de Base para cá e não temos nenhuma estimativa”, desabafou, na ocasião, a acompanhante de um paciente idoso que estava internado.

Esse não é o único problema da rede. Na capital do país, pelo menos 36 recém-nascidos aguardam por cirurgia cardíaca. Dois casos foram mostrados pelo Metrópoles recentemente: o de Mateus e o de Alice, ambos nascidos no dia 17 de maio deste ano. Após duas decisões judiciais, mais de duas semanas de espera e em estado gravíssimo, o menino conseguiu transferência para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), mas morreu nessa sexta (1º/6). A bebê ainda espera vaga na unidade de tratamento intensivo da mesma unidade de saúde.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, lembra que o HRG já foi considerado um Hospital Amigo da Criança. “Era um celeiro de pesquisadores. Não tem mais esse título, dado pela Unicef. Hoje, fechou a pediatria e sofre com o abandono, com a morte das crianças por falta de atendimento, uma estrutura desmontada após avaliação equivocada de gestores que desconhecem completamente a realidade de quem vive nas cidades vizinhas ao Plano Piloto”, afirmou.

O que diz o GDF
Sobre o Hospital Regional do Gama, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que as cirurgias são realizadas de acordo com a gravidade de cada paciente. Segundo a pasta, as operações daqueles que têm “traumas de alta complexidade” – ou seja, pessoas cujos casos demandam maior urgência – ocorrem imediatamente após a entrada na unidade.

Para traumas de pequena e média complexidade – de acordo com a secretaria, situação da maioria dos internados no HRG –, “o tempo de espera pelo procedimento varia de 20 a 30 dias”. “Em alguns casos, a demora pode ser um pouco maior também devido às condições clínicas do paciente, pois é preciso estar estável para o procedimento”, acrescentou.

A Secretaria de Saúde disse também que “não há como determinar ala feminina ou masculina, uma vez que se segue o critério de internação para tratamento de fratura ortopédica”. A pasta admite um outro problema: o deficit de anestesiologistas.

Colaborou Caio Barbieri

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