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Saiba por que camarões começaram a aparecer no Lago Paranoá

Processo de despoluição ajudou a tornar o espelho d’água um bom ponto para a biodiversidade

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1 de 1 camarao - Foto: Reprodução

Pode parecer estranho, mas o vídeo que repercutiu na internet nesta semana, de camarões no Lago Paranoá, não deveria ser visto com tanta anormalidade. Afinal de contas, conforme explicam biólogos, os afluentes do espelho d’água artificial da capital têm espécies de crustáceos de água doce e eles só não apareciam antes por causa da poluição.

Criado em 1959, pouco antes da inauguração de Brasília, o lago começou a ser degradado já nos primeiros anos da capital. No fim da década de 1970, a qualidade da água estava severamente comprometida, por causa do derramamento de esgotos domésticos tratados inadequadamente.

Só no começo dos anos 1990 iniciou-se uma política de recuperação focada, entre outras coisas, no controle da quantidade de fósforo que chegava na água. Com o programa, o local passou a receber 70% menos desse elemento — de 418 quilos de fósforo por dia, em 1992, baixou para níveis próximos de 100 quilos a partir de 1995. Nessa quantidade, o resultado é considerado benéfico, pois contribui para o equilíbrio do ecossistema.

Com a melhora da qualidade da água, espécies aquáticas que não conseguiam sobreviver anteriormente começaram a povoar novamente o cartão-postal. Conforme lembra a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Aracaju (SE) Alitiene Moura, apesar de ser artificial, o Paranoá não está avulso na natureza. “A Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago Paranoá conecta várias reservas ecológicas, como a da Cafuringa, do Rio São Bartolomeu; a Cabeça de Veado e o Parque Nacional de Brasília. Essa diversidade faz com que seja possível a ocorrência de variedade de animais, tanto terrestres quanto aquáticos”.

Um destes é o camarão de água doce, que possui diversas espécies diferentes. O mais encontrado no Brasil é o Macrobrachium amazonicum, que cresce até 8 centímetros e, segundo a pesquisadora, tem comportamento pacífico. Há, ainda, o Macrobrachium olfersii, que cresce até 18 centímetros e tem comportamento agressivo. Já o menor deles, o Macrobrachium jelskii, tem 6 centímetros com comportamento pacífico.

Veja as imagens feitas por Fred Rabello

O biólogo da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) Fernando Starling trabalha há mais de 30 anos no Lago Paranoá e acompanhou esta transformação. Ele diz que achar estes seres em profundidade de 30 metros é o resultado do trabalho de melhora da água. “Na década de 1980, já era possível ver camarões, mas nos córregos que chegavam até o Paranoá. No lago mesmo, não tinha oxigênio para que eles sobrevivessem”, conta.

Conforme explica Fernando, apesar de as imagens serem muito nítidas, não é fácil ver os camarões normalmente. “Ali, por ser uma região bem funda, com poucos predadores, eles estavam nadando à vontade. Normalmente, eles ficam em substratos, como troncos”, detalha.

Fernando comemora que essas imagens tenham sido feitas, algo inimaginável há alguns anos. “Acho que nunca vimos um vídeo tão bonito por causa da poluição que tinha antes. A tendência, com a melhora da oxigenação do lago, é vermos cada vez mais biodiversidade no Lago Paranoá”, destaca.

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