Brigas em casa e drogas são motivos que mais fazem pessoas sumir no DF
Relatório inédito elaborado pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) traçou o perfil dos desaparecidos na capital federal
atualizado
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As brigas dentro de casa, em especial envolvendo adolescentes, é a principal causa de desaparecimento de pessoas no Distrito Federal. Em seguida, vêm o envolvimento com drogas, transtornos psiquiátricos e alcoolismo. Os dados constam em um relatório inédito elaborado pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) da Polícia Civil. Segundo a unidade, dos 1.357 homens e mulheres que sumiram de casa no primeiro semestre deste ano, 115 até hoje não retornaram. Esse foi o universo analisado pelos agentes.
Dos episódios que seguem sem solução, a maior parte envolve brigas domésticas. Ao todo, 42 pessoas — 14 homens e 28 mulheres — fugiram de casa após se desentenderem com maridos, namorados ou depois de brigarem com os pais. Essas ocorrências correspondem a 36,52% das analisadas pela Polícia Civil. A faixa etária com maior incidência de desaparecimento nesse grupo é de 14 a 17 anos. Em seguida, vêm jovens adultos de 18 a 20 anos.O Metrópoles teve acesso, em primeira mão, ao estudo elaborado pela DRS. O levantamento define características, motivações, faixa etária e sexo dos desaparecidos, além das cidades em que os casos são registrados com mais frequência.
Nesses casos, os adolescentes, que estão passando por diversas mudanças em sua vida ou enfrentando muitos dilemas, acabam se surpreendendo com as pressões e fogem
Leandro Ritt, delegado diretor da DRS
Um dos exemplos mais recentes de jovens que somem sem dar explicação é o de Josirene Galvão Silva, 18 anos, conhecida nas redes sociais como Karol Silva. Em 24 de agosto, ela desapareceu após sair para visitar uma amiga em Santa Maria. Josirene enviou uma mensagem às 15h daquele dia e não deu mais notícias.
Drogas, álcool e transtornos psiquiátricos
Logo após os problemas domésticos, o consumo de drogas aparece como segundo motivo para os desaparecimentos e correspondem a 25,21% do total registrado pela DRS. De acordo com o relatório, 29 usuários sumiram no primeiro semestre de 2017 e ainda não foram encontrados. A maioria, 21, são homens.
Quem sofre com alcoolismo também possui histórico crônico de desaparecimento. Foram identificadas 12 pessoas (10,43% do universo estudado pela Polícia Civil) que sumiram por esse motivo, sendo nove homens e três mulheres.
Transtornos psiquiátricos também estão entre os motivos para o sumiço de 20 pessoas no primeiro semestre deste ano. O número representa 17,39% dos desaparecidos analisados no estudo. Ao todo, 11 homens e nove mulheres que apresentam sintomas de esquizofrenia, bipolaridade e mal de Alzheimer saíram de casa e não deram mais notícias às famílias.
Ceilândia lidera ranking
As cidades que mais registraram desaparecidos também foram mapeadas pelos investigadores. Do total de 1.357 pessoas que sumiram no primeiro semestre, Ceilândia aparece em primeiro lugar: foram 244 ocorrências.
Em seguida vem Taguatinga/Águas Claras, com 168 casos. A região de Brasília, que engloba as asas Sul e Norte, figura na terceira colocação, com 135 notificações — mesmo número de Samambaia. Já o Recanto das Emas, com 108 ocorrências, aparece logo atrás.
O delegado Leandro Ritt, da DRS, destaca que, embora o DF registre média de sete sumiços por dia, o estudo comprova que o índice de casos que permanecem sem solução é muito pequeno. “Do universo de 1.357 registros no primeiro semestre, apenas 115 pessoas não foram localizadas”, ressaltou.
Jamais voltaram
Apesar de a maioria dos desaparecidos retornar aos lares, há pessoas que nunca mais foram vistas. Dois dos casos que mais intrigam os investigadores permanecem sem desfecho. Um deles envolve Fabiana Santana Alves, moradora da Vila Estrutural que planejava uma viagem para a Bahia, mas nunca chegou ao seu destino.
As apurações apontaram que Fabiana, então com 21 anos, saiu de casa em 7 de abril de 2013 para viajar a Salvador (BA), onde visitaria parentes. A garçonete avisou a família e o namorado que prepararia uma mala com algumas roupas e seguiria de ônibus até o Paranoá, onde embarcaria em uma van pirata para seguir viagem.
Os policiais seguiram os últimos passos de Fabiana até o Paranoá. O motorista, que era conhecido de amigos e parentes da jovem, contou que Fabiana jamais embarcou para a capital baiana. “Realmente nós perdemos o rastro dela após sua chegada ao Paranoá. Não temos mais pistas de onde ela pode ter ido”, disse o delegado Leandro Ritt.
Outro caso lembrado por Ritt é o de Vanessa da Silva Cardoso. Na época com 28 anos, a desempregada deixou sua casa em 8 de fevereiro de 2013, em Planaltina, para procurar emprego. Durante as investigações, o último registro do paradeiro da mulher foi em um ponto de ônibus na 216 Sul. A moça, que nunca mais foi vista, deixou marido e duas filhas pequenas.