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Rotas do medo: onde motoristas de Uber e outros apps não entram no DF

Preocupados com a própria segurança, eles evitam localidades específicas. Neste ano, pelo menos 50 condutores foram vítimas de roubo

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1 de 1 WhatsApp-Image-2019-05-13-at-14.05.561 - Foto: ANDRE BORGES/ESPECIAL PARA O METRÓPOLES

“Qual o local de destino?” A mensagem de texto do motorista Victor*, 35 anos, é logo enviada ao passageiro que solicita seu serviço por meio de aplicativo. Sanar essa dúvida se tornou rotina para ele quando o relógio começa a marcar as horas mais tardes da noite. A depender da resposta, o condutor pode cancelar o trajeto antes mesmo do início da viagem. O motivo? Preservar a própria segurança, explica. Sem saber quem transporta até um ponto de pouco policiamento, sente-se vulnerável.

“Tem lugares que só deixo passageiro, nunca busco. Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo são alguns”, diz o motorista. “Tentaram roubar meu carro em mais de uma ocasião. Tive que acelerar o máximo antes de me abordarem, fugindo com o passageiro dentro do veículo.”

Victor está há dois anos no ramo. Ele não sabe precisar quantas corridas realiza por dia. O expediente puxado de quem roda o Distrito Federal de 4h da manhã até 22h, como é o caso, torna necessárias algumas cautelas. Os relatos de colegas dele que ficaram em situações de risco e, principalmente a própria experiência, fizeram com que o motorista deixasse de percorrer todas as rotas assinaladas pelo GPS.

As estatísticas oficiais dão razão a Victor. Neste ano, ao menos 50 motoristas de aplicativo foram vítimas de roubo até esta terça-feira (14/05/2019), segundo a Polícia Civil do Distrito Federal.

O Metrópoles mostrou, em novembro, que os principais motivos para as viagens negadas, canceladas ou interrompidas são: falta de infraestrutura, como em Vicente Pires e Sol Nascente; e medo da violência, a exemplo da Estrutural, Ceilândia, Samambaia e Sobradinho II. Agora, exclusivamente por questões de insegurança, novas localidades se somam à lista.

Taguatinga, Samambaia, Ceilândia e Plano Piloto. Juntas, essas regiões administrativas concentram 75,7% dos registros de assalto contra trabalhadores da categoria. Os dados são da pesquisa realizada pela PCDF entre 2017 e os quatro primeiros meses de 2019.

Casos de roubo ao veículo são maioria expressiva, representando cerca de metade das 152 ocorrências até abril. A amostra inclui ainda assalto a transeuntes e diversos, além de roubos de celulares e dinheiro dos motoristas.

Já outras naturezas criminais se destacam não pela frequência, mas pela brutalidade. Uma tentativa de latrocínio em maio – data posterior à pesquisa da PCDF – agrava esse quadro. Quatro criminosos, sendo três adolescentes e um adulto, acionaram um aplicativo em Ceilândia, durante a madrugada, com destino a Samambaia. O grupo anunciou o assalto apenas no final da viagem. Eles espancaram o motorista e o jogaram em uma ribanceira.

“Aqui não é lugar de pegar corridas”
Em uma manhã de maio, Matheus*, 40, motorista de aplicativo, acabava de deixar um passageiro no Recanto das Emas. No entanto, um pouco antes do término da viagem, ele foi acionado para buscar uma outra pessoa na Quadra 510 da região. Ele havia esquecido de informar ao sistema que não desejava corridas pela área, mas acabou aceitando.

Ao se aproximar do ponto de encontro, o homem tomou a precaução de costume: manteve afastado, resguardado, por conta de outros incidentes anteriores. De onde estava, pôde observar três rapazes agachados exatamente no local marcado. Um outro jovem parado ao lado de uma moto estava próximo ao grupo.

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Mensagens trocadas por motoristas indicando pontos onde não fazem corridas

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“A bandidagem não tem cara”, diz o motorista. A atitude suspeita, porém, despertou sua atenção. Ao avistá-lo, um dos rapazes colocou o capacete e subiu na motocicleta. Matheus deu a volta na esquina, onde se deparou com uma viatura policial e pediu acompanhamento durante a corrida, alegando que não se sentia seguro com os passageiros.

A PM, conta Matheus, informou prontamente que ali “não era lugar de pegar corridas”. Enquanto a viatura chegava perto, os jovens se dispersaram rapidamente e cancelaram a viagem.

Ouça o áudio enviado pelo motorista a um grupo de colegas:

Rebeca*, 42, passou por situação similar. “Você se livrou dessa”, disse um dos quatro passageiros, visivelmente alterado por algum entorpecente. Ela se lembra bem dos momentos de anseio que passou em dezembro de 2018. “Fui buscar um grupo em Águas Claras e só depois vi que o destino era Samambaia. No meio do caminho, começaram a perguntar muito sobre o meu carro”, relata. “Interessados como se quisessem roubar. A minha sorte é que consegui me manter fria e conversar com um deles, que acabou se identificando comigo.”

Umas das primeiras coisas que Rebeca faz é compartilhar a localização com a família assim que entra no serviço. “Só ando no Plano. Quando meu carro sai para alguma cidade satélite, meu marido ou meu filho me mandam mensagem. Se não respondo, me ligam. E, se não atendo, chamam a polícia”, explica.

“Rota do medo”
Os motoristas de aplicativo ouvidos pelo Metrópoles apresentaram pouca divergência quanto aos locais mais evitados. Ceilândia, Sol Nascente e o final de Samambaia foram os lugares mais citados como inseguros. Alguns casos específicos, como a Quadra 625 de Samambaia, também se sobressaíram. Já no Plano, onde o índice da SSP mostrou-se alto, poucos apresentaram queixas.

A sensação de insegurança é uma via de mão dupla que afeta ambos os lados. Larissa Alves, estudante de 24 anos, mora no Pôr-do-Sol, em Ceilândia. Mais de uma vez, ela enfrentou transtornos na hora de retornar para casa. Depois de entrar no carro e informar o destino, o condutor afirmou que não prosseguiria.

“É complicado para os motoristas, mas eles estão nesse trabalho. Como a gente fica, saindo depois de já ter entrado no veículo? Às vezes, não tem como voltar pra casa”, desabafa.

Precaução
“A situação de aplicativos é relativamente nova. Então, com certeza, os motoristas estão sendo vítimas”. Major Michello Bueno, da comunicação social da Polícia Militar (PMDF), detalha as principais ocasiões em que ocorrem esses roubos. Segundo o oficial, quadrilhas especializadas conseguem se cadastrar nos aplicativos usando cartões clonados, dificultando o rastreamento após o roubo do veículo.

É a partir da prisão em flagrante, explica o major, que se torna possível identificar o modo de agir dos criminosos.

A fim de prevenir situações de risco, Michello destaca algumas medidas simples, muitas das quais já foram adotadas por profissionais que trabalham com esse serviço. Evitar corrida em dinheiro é uma delas. “Se estiver em local ermo e avistar pessoas com atitudes suspeitas, vá para outro lugar. Outra alternativa é procurar pontos de bloqueio da PM, conhecidos como blitz”.

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, em 14 de maio, uma operação com alvo nos criminosos que roubavam motoristas de aplicativo. A ação foi da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri).

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Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal Renato Lourenço
Sete pessoas foram presas
Criminosos roubavam motoristas de aplicativo
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Coordenador da Corpatri, delegado André Leite

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Criminosos roubavam motoristas de aplicativo

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Carros foram localizados no DF

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Os presos atuavam em Samambaia, Sobradinho, Taguatinga e no Guará. Segundo o coordenador da Corpatri, delegado André Leite, os criminosos não integram uma quadrilha, mas tinham o modo de agir semelhante. Um dos suspeitos, conforme descobriu-se depois, havia feito mais de sete vítimas anteriormente.

“No geral, são grupos de três pessoas que utilizam dados falsos ou de subterfúgios, como fingir que perderam o celular para usar o aparelho de outras pessoas”, explica o delegado. “É como um roubo comum. O diferencial é que o carro vai até o criminoso.”

Empresas
Algumas das empresas de aplicativo possuem recursos que visam aprimorar a segurança de passageiros e motoristas.

No caso da 99 Pop, por exemplo, há um mapeamento das áreas de risco com base em levantamento interno da empresa e de dados externos da Secretaria de Segurança Pública. Recentemente, a Uber passou a incluir a informação sobre qual será a forma de pagamento antes de o usuário embarcar. Uma Central de Atendimento disponível 24h pode ser acionada pelos motoristas da Cabify em emergências.

Nos três sistemas, o usuário precisa inserir CPF para a checagem de dados, além do monitoramento por GPS. Veja o que disse cada uma das empresas sobre o assunto:

“Segurança é uma prioridade para a Uber. Por isso, a empresa está sempre avaliando e estudando novas medidas que possam contribuir com seus usuários e motoristas parceiros. Ao longo do ano de 2018, a Uber passou a adotar no Brasil o recurso de machine learning, que usa a tecnologia para bloquear viagens consideradas mais arriscadas e lançou uma ferramenta que reúne os recursos de segurança para motoristas parceiros, inclusive um botão para ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app”.

“A Cabify reforça sua preocupação com a segurança dos motoristas parceiros e acredita que todos têm o direito de ir e vir em um ambiente seguro. Por isso, explica que investe constantemente em tecnologias para a ampliação da segurança, tanto dos motoristas quanto dos seus usuários, como o estudo e a remoção de possíveis áreas de risco do mapa de atuação, nas diferentes cidades em que opera.”

“A 99 é uma empresa genuinamente preocupada com a segurança de seus passageiros e motoristas. O assunto é prioridade máxima do aplicativo, e um de seus três pilares fundamentais (promover transporte rápido, econômico e seguro). Para garantir que o serviço seja seguro, a 99 possui uma equipe especialmente dedicada, composta por mais de 100 pessoas, incluindo ex-militares, engenheiros de dados e psicólogos. O time trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, cuidando exclusivamente da proteção dos usuários – motoristas e passageiros.”

  • * Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

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