Risco de mortes e Lula irritado: o que disse general Dutra sobre ordem de prisão no QG
General que estava a frente do CMP do Exército conta bastidores sobre momentos seguintes às ordens de prisão no QG, no 8 de janeiro
atualizado
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O depoimento do general Gustavo Henrique Dutra, que chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP) durante o 8 de janeiro, detalhou a versão do Exército sobre o momento seguinte às ordens de prisão de golpistas no acampamento em frente ao Quartel-General.
Em oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o general Dutra, que acabou exonerado por Lula (PT) em abril, comentou sobre uma irritação do presidente e medo de um banho de sangue.
“No dia 8, as pessoas fizeram os atos e voltaram para a Praça [dos Cristais]. O coronel Fábio Augusto [da Polícia Militar do DF] me liga e diz que a ordem do doutor Ricardo Cappelli [então interventor da Segurança do DF] era prender todo mundo na praça. Eu disse que era uma operação complexa, que teria que coordenar. Encontrei o Ricardo Cappelli no estacionamento da Rainha da Paz, foi uma conversa extremamente civilizada. Falei que era operação complexa, que tinha risco de morrer gente.”
O interventor da segurança pública do DF, então, perguntou se os bolsonaristas estavam armados no acampamento. “Eu falei: ‘Não senhor, não tem ilimunação adequada, tem pedras portuguesas, lago, degrau, espeto de churrasco, faca de churrasco. Se a gente entrar sem planejar, vai ter gente que pode morrer até afogada no lago'”, comentou.
Momentos depois, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou em cena. “Cappelli se afastou para ligar para o ministro Dino e eu liguei para o general Gonçalves Dias. Eu pedi para ele ligar para o Lula, mas o Lula estava na frente dele. Ele desligou e ligou novamente em menos de dois minutos: ‘O presidente está muito irritado e disse que vai entrar [no QG]. Fala com ele’. Passou o telefone”, contou.
Na ligação entre Dutra e Lula, o petista foi categórico, segundo o general. “Ele disse: ‘São criminosos, têm que ser presos’. Eu disse que ninguém tinha dúvida, que estávamos todos indignados iguais. Mas, até aquele momento, só estávamos lamentando dano ao patrimônio. Se entrasse sem planejamento, poderíamos terminar a noite com sangue.”
Ainda na versão do depoente do Exército, o próprio presidente da República teria dado ordem de isolar a Praça dos Cristais e prender todo mundo na manhã do dia seguinte.
“O pessoal [do acampamento] achava que estava sendo protegido pelo isolamento e foi dormir. No dia seguinte, chegaram os policias do Bope conduzindo negociação de forma profissional. […] Tem o relatório do Cappelli que mostra que prenderam mais de mil pessoas na praça sem ferir ninguém. A ordem judicial determinava em 24 horas a prisão e foi efetivada em prazo bastante inferior. Em nenhum momento houve obstrução. É insanidade falar que o Exército entraria em confronto com a polícia.”
Acompanhe a CPI:
O general Dutra já foi citado nominalmente em outro depoimento na CPI, quando o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime o acusou de impedir prisões de golpistas no QG após ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no fim do dia 8.