Após gravação, mãe de outro aluno descobriu que filho foi humilhado por professora
Caso de humilhação e ameaça contra alunos autistas revelado pelo Metrópoles revoltou mãe de outro estudante da turma: “Chorei horrores”
atualizado
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O caso de uma professora suspeita de ofender estudantes com transtorno do espectro autista (TEA) na Escola Classe (EC) 8 do Guará — revelado pelo Metrópoles nessa quarta-feira (5/7) — preocupou a mãe de outra criança da turma em que teria ocorrido as situações humilhantes.
Responsável por um aluno de 9 anos com TEA de grau médio para severo, a segunda mãe ouvida pela reportagem, a enfermeira Tâmara Fortuna, 44 anos, soube do caso após a publicação da denúncia e se disse “revoltada” com o ocorrido.
“É uma tristeza. [O nome do] meu filho aparece no áudio. Ela [a professora] estava colocando-o para baixo, tratando-o como um vegetal, debochando dele. Isso bate perfeitamente com as mudanças de comportamento do menino. É revoltante”, lamentou Tâmara.
A entrevistada descobriu que o filho fazia parte da turma e ficou surpresa com os áudios publicados, gravados pela aromaterapeuta Marina Valente, 34 anos, mãe de um estudante de 11 anos. “Chorei horrores quando vi [a reportagem]. Esse é um dos maiores arrependimentos que tenho na vida. Estou me sentindo muito culpada”, desabafou.
A mãe que conversou com o Metrópoles após a publicação da primeira reportagem sobre o caso contou que desconfiava de algo incomum com o filho desde que trocou o menino de escola e o matriculou na EC 8 do Guará, no início deste ano.
“Ele não olhava para ela [a professora] com respeito, mas assustado. Na escola anterior, nunca teve isso. No início, ele estava falando frases curtas. Ao longo do tempo, começou a dizer palavras soltas. Agora, não fala mais nada, regrediu completamente, parou de falar”, detalhou.
Além disso, em algumas ocasiões, a criança não tinha vontade de frequentar o colégio: “Teve dia em que tentei vestir o uniforme nele, mas ele não queria ir para a escola. Ele tirava [a roupa] e jogava debaixo da cama. Nesses dias, eu realmente não o levava”.
Agora, Tâmara aguarda laudo de saúde que confirme a existência de regressão na fala da criança, para registrar denúncia e incluir os relatos observados no âmbito das investigações em curso.
Primeira denunciante
O terror que viveu na sala de aula não tem fim. Agora, o filho de Marina Valente não consegue sequer saber de notícias sobre o caso. “Ele está muito traumatizado. A gente abaixa o volume [da televisão], porque, quando ele ouve sobre o ocorrido, fica assustado e volta a se morder”, contou ao Metrópoles, nesta quarta-feira (5/7).
Marina foi procurada por outras mães, que também relataram comportamentos estranhos depois de os filhos terem aula com a professora da turma de autistas. “Os sentimentos mudam. Da revolta, passo a ter esperança, ao ver que é uma causa muito grande”, pontuou.
Para ela, a história pode servir como incentivo para que as famílias observem mais o comportamento de crianças e adolescentes.
Gravação escondida
A mãe de um garoto de 11 anos registrou momentos de humilhações vividas pelo filho e outros três colegas de turma, na EC 8 do Guará. Aos berros, a professora das crianças foi gravada enquanto ameaçava e depreciava estudantes com TEA.
Os áudios gravados pela mãe são de três dias: 5, 9 e 12 de junho de 2023. Ela usou um tablet guardado na mochila do filho para registrar as aulas da criança, ao perceber que o menino apresentava comportamentos incomuns em casa.
Na gravação, a professora chega a dizer às crianças para não começarem com “essa loucura” e os ameaça ao falar que eles vão “ver o que é bom para tosse”. Duas professoras ficavam responsáveis pelos quatro estudantes. A que teve os áudios divulgados está afastada, por licença-médica; a segunda, que continua em atividade, consta como testemunha do caso, por ter agido de forma conivente diante do ocorrido, segundo a denúncia.
Ouça:
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) confirmou o caso, e a Ouvidoria investiga a denúncia, com “devida apuração” da Corregedoria do órgão. “A pasta reforça o compromisso e o empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como [oferecer] todo o suporte para os estudantes”, destacou.
Cuidados
Manter o canal de comunicação aberto com os filhos e questionar os motivos de não quererem fazer alguma atividade típica, como ir ao colégio, é uma das recomendações da psicóloga Paola Rodrigues, do Instituto de Medicina e Psicologia Integradas (Impi), principalmente aos pais de crianças com TEA.
“É importante sempre perguntar como foi o dia. Muitas vezes, começando a falar da rotina como forma de abrir as portas para o filho falar sobre a dele. Uma estratégia eficaz é usar de brincadeiras também”, orienta a especialista.
Outro conselho da psicóloga é conversar com outras famílias e com a equipe da escola, para verificar se o espaço é, de fato, um ambiente saudável.
Alguns sinais para se atentar:
- Criança começa a pedir para faltar aula sem motivo;
- Perdas no rendimento escolar;
- Alterações de humor;
- Mudanças de comportamento, como agressividade e ataques de raiva;
- Perda de autoconfiança;
- Comportamento arisco ao toque.
Denúncias
Com as gravações, a família da criança de 11 anos registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que investiga denúncia por supostos maus-tratos. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Conselho Tutelar também foram acionados.
O gabinete da secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, recebeu e-mail da Ouvidoria do Governo do Distrito Federal (GDF), com detalhes sobre o caso. O departamento informou que “adotará todas as medidas cabíveis, podendo, inclusive, no curso da apuração, promover o afastamento da servidora, nos termos da Lei Complementar nº 840/2011”.
Um novo professor substituiu as duas responsáveis pela turma, segundo a SEDF. O Metrópoles tentou contato com a defesa da educadora denunciada, mas os advogados dela informaram que só se pronunciarão sobre o caso após se certificarem da ocorrência.