Retrospectiva: um ano após o 1º caso de Covid, DF chora 4,9 mil mortos
O primeiro caso da doença na capital foi confirmado em 7 de março de 2020. Relembre os principais eventos ocorridos no DF no período
atualizado
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O Distrito Federal completa, neste domingo (7/3), um ano desde a confirmação do primeiro caso da Covid-19. De lá para cá, a capital notificou 305.377 casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, além de 4.950 mortos.
As restrições para conter o avanço da doença no DF começaram em março de 2020, com o fechamento de escolas e cancelamento de eventos. Agora, em março de 2021, com a alta taxa de transmissão do vírus e a lotação de leitos de UTIs nos hospitais, brasilienses se veem novamente diante de um cenário preocupante.
Levantamento feito pelo Metrópoles contabilizou 135 decretos relacionados à Covid-19 estabelecidos pelo GDF nestes 12 meses de pandemia. Veja, abaixo:
GDF Decretos Coronavírus by Marc Arnoldi on Scribd
Primeiros infectados
O primeiro caso da doença no DF teve confirmação em 7 de março de 2020. Aos 52 anos, a advogada Cláudia Maria Patrício manifestou sintomas após viagem à Europa e testou positivo para a Covid-19 em 5 de março. Porém ainda era necessário fazer uma contraprova para oficializar o resultado do exame, que saiu dois dias depois.
O marido dela, André Luís de Souza, também testou positivo e não queria abandonar a mulher no hospital. À época, a Justiça do DF chegou a mover uma ação para obrigá-lo a ficar em isolamento.
Cláudia ficou até o fim de abril internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Depois, foi transferida para um hospital privado, para dar continuidade à reabilitação. Em meados de junho, ela recebeu alta.
Primeiras vítimas
Em 11 de março de 2020, o governador Ibaneis Rocha (MDB) suspendeu aulas e eventos. A partir daí, as restrições para conter o avanço da pandemia na capital começaram a ser ampliadas.
Apesar das medidas restritivas, em questão de dias a capital registrou a primeira morte pela doença. Viviane Rocha de Luiz, de 61 anos, era graduada em enfermagem e obstetrícia e foi assessora da Câmara Técnica de Vigilância Sanitária do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Viviane teve contato com uma pessoa contaminada que viajou de São Paulo para Brasília. Com desconforto respiratório e febre, ela deu entrada no Hran em 22 de março. No dia seguinte, sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu à doença.
Outra vítima da Covid-19 no DF, o enfermeiro Geovani Comochena morreu aos 36 anos. Ele chegou a ser internado no Hran, mas faleceu em 5 de abril.
Geovani atendia pacientes com necessidades especiais no Abrigo de Excepcionais, em Ceilândia. Segundo a mãe, a família tinha orgulho do rapaz. “Depois de um ano, a gente vê que essa perda é irreparável. Eu penso nele 24h por dia. Faz muita falta, porque sempre foi um filho muito amado”, desabafa Isabel Comochena, 61.
De acordo com ela, nesse período, outros parentes foram contaminados, mas não tiveram maiores complicações. “Agora, a gente dobrou os cuidados, porque a doença está bem mais agravada”, diz.
“Esperamos que essa vacina chegue em grande quantidade, para a gente voltar à vida. Não à vida normal, porque, para mim, não vai ser mais normal sem ele. É como se faltasse um membro do meu corpo […], mas para que tudo isso passe”, completa Isabel.
Falso Negativo
No segundo semestre de 2020, em plena crise sanitária, houve a deflagração da Operação Falso Negativo. Em 25 de agosto, o secretário de Saúde do DF, Francisco Araújo, foi preso preventivamente durante ação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Além dele, outros membros da pasta foram alvo de prisão preventiva. A investigação apura o superfaturamento em cima de contratos que somavam R$ 73 milhões na compra de testes da Covid-19 pelo GDF.
Em 16 de novembro, a Justiça do DF revogou as prisões preventivas de Francisco Araújo e de outros cinco réus. A partir de então, os seis foram soltos e passaram a usar tornozeleira eletrônica.
Desde então, outras ações no âmbito da Falso Negativo ocorreram na capital. No último dia 3, foi deflagrada a quarta fase da operação, que apura dispensa de licitação feita pela Secretaria de Saúde para compra, supostamente superfaturada, de 48 mil testes da Covid-19.
Vacinação
Em janeiro de 2021, 10 meses após a chegada do coronavírus ao DF, os brasilienses puderam ver uma luz no fim do túnel: o início da vacinação.
A primeira moradora da capital a receber o imunizante contra a Covid-19 foi Lídia Rodrigues Dantas, 31 anos, enfermeira do Hran. A profissional de saúde foi vacinada em solenidade ocorrida na unidade de saúde, em 19 de janeiro.
Em apenas um dia da campanha, porém, começaram novos problemas. Em 20 de janeiro, o MPDFT cobrou explicações da Secretaria de Saúde sobre denúncias de pessoas que teriam furado a fila da vacinação.
Ao fim de fevereiro, a Câmara Legislativa do DF (CLDF) anunciou que vai analisar a regulamentação de multa para quem furar a fila da vacinação. A proposta inicial é aplicar penalidade de até R$ 200 mil.
Além da situação de fura-filas, a baixa quantidade de doses disponíveis na capital também se tornou uma preocupação após o início da campanha de imunização. No fim de fevereiro, postos chegaram a ficar sem estoque.
Nesta semana, com a chegada de novos lotes, o DF pôde ampliar a campanha para idosos com 75 anos ou mais. Podem ser vacinados atualmente:
Até esse sábado (6/3), 155.481 pessoas tinham recebido a primeira dose da vacina no DF. Dessas, 57.947 foram contempladas com a segunda.
Lockdown
Em 2021, mais um desafio no enfrentamento da pandemia apareceu no Brasil: a confirmação de variantes do vírus. Em meados de fevereiro, a Fiocruz apontou a existência da variante britânica da Covid-19 no DF. Atualmente, há dezenas de casos suspeitos em apuração pela Secretaria de Saúde do DF.
Com dificuldades no avanço da vacinação na capital, o aparecimento de novas cepas, o aumento de casos da doença e a ocupação de leitos em UTI beirando o colapso, o governador Ibaneis Rocha decretou novo lockdown no DF. As restrições começaram a valer em 28 de fevereiro, com previsão para durarem 15 dias.
Para o epidemiologista Jonas Lotufo Brant de Carvalho, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), contudo, “este é um cenário que exige do governo ações mais efetivas e integradas”. “Não dá para decretar um lockdown sem envolver outras questões, como medidas de proteção social. Não posso exigir que uma pessoa fique em casa sem oferecer a ela um suporte social e econômico”, argumenta.
De acordo com ele, o DF deve enfrentar ainda mais um mês de crescimento de casos. “Nós não temos uma vacina com eficácia de 100% e, aliado a isso, há um cenário de alta mutação do vírus, o que, muitas vezes, faz que, com o tempo, ele escape da eficácia da vacina. Então, temos desafios ainda”, destaca Jonas.
Ainda conforme o epidemiologista, é preciso reunir diferentes recursos para combater o avanço da pandemia. “Testagem, rastreamento de contatos, isolamento social, apoio socioeconômico, vacinação, ampliação de leitos de UTI. É a somatória dessas ferramentas que vai nos levar a um cenário diferente no futuro”, enfatiza.