Retrospectiva: mensagens mostraram preparação para 8/1 e quebradeira
Por meses, manifestantes se prepararam para invadir e quebrar as sedes dos Três Poderes no DF. Veja as mensagens e lembre a trama para o 8/1
atualizado
Compartilhar notícia
A invasão nas sedes dos Três Poderes que constituem a democracia no Brasil não foi um acaso. Os atos antidemocráticos começaram a ser tramados meses antes do fatídico 8 de janeiro, que resultou em 1,5 mil extremistas presos.
De acordo com o relatório sobre os atos, elaborado no período de intervenção federal no Distrito Federal, um marco para o início do enredo foi o acampamento no Quartel-General do Exército, em 1º de novembro de 2022. A Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano, serviu como quintal para camping de golpistas.
Pelo documento, os alojamentos permitiram “apoio logístico e local de concentração aos manifestantes que se deslocaram a Brasília para que as ações do dia 8 fossem desencadeadas”.
No primeiro dia dos barracos montados em plena área pública, o Metrópoles esteve no local e relatou que os bolsonaristas presentes pediam a “intervenção federal” em frente ao QG do Exército.
“Com estoque de comida, banheiros químicos e barracas, alguns dos presentes prometem acampar no local até que as Forças Armadas façam uma intervenção federal’. O grupo não admite que o país seja governado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de 1º de janeiro de 2023. Militares do Exército protegem as dependências do QG a fim de evitar qualquer tentativa de invasão”, destacou a reportagem na época.
A presença de extremistas negando o resultado das urnas foi aumentando. Em 29 de novembro, o Metrópoles mostrava que os bolsonaristas no QG já tinham anunciado oito “Dias D” por intervenção federal. Os atos receberam nomes como “tomada de Brasília” e foram convocados por redes sociais.
A mensagem vinha em um momento de angústia provocado pela falta de posicionamento de Jair Bolsonaro (PL). Os bolsonaristas que acompanharam a apuração na Esplanada dos Ministérios foram instruídos a não deixar o local até que o presidente derrotado se manifestasse.
“A guerra não acabou”
Às vésperas da posse presidencial de Lula, os bolsonaristas diziam que “a guerra não acabou”. No sábado de 31 de dezembro de 2022, chegaram ao menos sete ônibus em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. O fato reanimou os ânimos dos acampados em frente ao comando administrativo militar.
No dia anterior, Bolsonaro havia viajado para os Estados Unidos, e a atitude do então chefe do Executivo desagradou os extremistas. O movimento que chegou a reunir 2,5 mil pessoas por dia apresentou um fluxo abaixo de 200 golpistas.
De acordo com o relatório sobre os atos, foram registrados 73 crimes, sendo a maioria crimes contra honra, furtos e lesão corporal.
Três dias após a posse de Lula, eles prometiam um novo ato, com a intenção de invadir a capital federal. Em mensagens, os grupos disseram planejar “cercar” Brasília e “parar tudo”, para que ninguém “consiga trabalhar”. O texto circulou por grupos de WhatsApp compostos por apoiadores do ex-presidente da República.
Os grupos afirmaram que causariam “caos”, com uma “greve geral” entre 9 e 12 de janeiro. Novamente, por 72 horas.
Na mesma linha, os inconformados com a derrota de Bolsonaro enviavam áudios planejando uma nova manifestação em Brasília, desta vez mais violenta.
Em áudios obtidos pela coluna Grande Angular, integrantes dos grupos de organização da manifestação falavam em atiçar apoiadores do movimento para que eles comparecessem com “sangue nos olhos” e preparados para levar tiro de borracha. O plano já era nessa época invadir o Congresso Nacional
“A ideia é essa: não é ir para ficar com paz e amor, não. É para entrar, não com flor… É para ir já sabendo que vai levar borrachada e uns tiros”, diz.
Outro áudio que circulava entre os grupos de direita incentivava ato “inteligente” para impedir atuação da polícia. O homem dizia que a manifestação deveria ocorrer para fechar o Congresso com “pau”, “martelo” e “prego gigante”. O objetivo seria negociar a “destituição dos Poderes” e convocar novas eleições.
“Já era, acabou QG. Já era. Agora é tomar outra atitude. A gente tem que ser inteligente, porque se a gente anuncia isso de uma maneiram muito assim, o que acontece: a polícia se movimenta, entendeu?! Aí complica mais. Mas, se a gente tiver 1 milhão de pessoas, aí esquece. A polícia não tem como combater”, dizia.
Ouça os áudios:
Os grupos também orientavam sobre como minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo, geralmente utilizado pela Polícia Militar para dispersão de manifestações violentas.
A invasão
Em 8 de janeiro de 2023, os manifestantes andaram 7,4 quilômetros do Setor Militar Urbano em direção às Praças dos Três Poderes. Foram aproximadamente 100 minutos dessa travessia, que teve início às 13 horas daquele dia.
Às 13h50, na altura da Torre de TV, um grupo danificou um carro que passava pela marcha com pauladas e, ainda, agrediu um dos passageiros do veículo.
Às 14 horas, um manifestante foi detido com facão, estilingues e esferas metálicas, próximo ao Ministério da Defesa.
Pelos próximos 30 minutos mais bolsonaristas foram detidos com materiais para confronto. Eles confirmavam que quebrariam tudo e que havia intenção de invadir o Congresso Nacional. Às 14h43, o gradil de proteção aos monumentos da República foi rompido e os golpistas invadiram.
Pelas próximas horas, as cenas produzidas pelos bolsonaristas foram depredação, destruição e caos. Imagens mostraram a violência o desrespeito com o poder público.
Os ataques foram contidos ainda na noite do 8/1 e, no dia seguinte, o saldo era de 1,5 mil pessoas detidas ou presas, sendo 209 em flagrante. Cerca de 1,2 mil extremistas foram ouvidos.