Restaurantes e clientes “brigam” após decreto contra coronavírus
Sindicato diz que principal problema é a própria clientela, opinião partilhada pelos donos de estabelecimentos. Clientela acha válida medida
atualizado
Compartilhar notícia
Bares e restaurantes do Distrito Federal começam a se adaptar à mudança determinada pelo decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) com medidas para evitar a propagação do novo coronavírus. De acordo com o texto, publicado na noite de quarta-feira (11/03) em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF), os estabelecimentos deverão observar na organização das mesas a distância mínima de dois metros entre elas.
A determinação ainda suspende, por cinco dias, aulas em escolas públicas e privadas, eventos e shows. As medidas foram adotadas após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar pandemia do coronavírus. De acordo com atualização da plataforma on-line do Ministério da Saúde, na manhã desta quinta-feira (12/03), o Distrito Federal tinha 91 casos suspeitos e dois confirmados. De acordo com a pasta, 29 pacientes tiveram o diagnóstico descartado.
Ao Metrópoles, Jael Antônio da Silva, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares de Brasília (Sindhobar) disse que a entidade está orientando os estabelecimentos da cidade a cumprir o decreto.
No entanto, ele considera que, muitas vezes, o problema é o próprio cliente. “O cliente, às vezes, quer juntar mesa, chega em conjunto. E o que você pode fazer? Nada. Então, isso ainda é muito do consumidor também”, salientou. Ele avalia que a mudança pode levar o comércio a perder clientes por conta de “uma insegurança que está sendo passada às pessoas”.
“Eu acho que está sendo um pouco demais, porque a gente não tem informações que indicam que é necessária uma medida como essa. Mas como já foi decretada, a gente tem que cumprir”, afirmou.
“Nós estamos preocupados com essa questão do coronavírus, mas essa medida é um dano financeiro para bares e restaurantes, porque afasta o cliente pela insegurança que causa. O problema é que falta informação correta para entendermos por que tomar essa decisão”, destacou.
Distância medida
No bar e restaurante Pecorino, na 210 Sul, os donos do local não tinham como guardar todas as mesas e cadeiras para manter a distância decretada pelo governo. No entanto, na manhã desta quinta, o sócio do estabelecimento Marcos Bezerra teve a ideia de imprimir avisos para explicar aos clientes que algumas mesas ficarão indisponíveis. “Pensamos em deixar ‘mesa sim, mesa não’ para manter a distância”, disse.
“A primeira sensação é que ainda é um exagero, mas agora penso que medidas tem que ser tomadas mesmo. Acho que isso passa mais segurança”, considerou Bezerra.
O empresário conta que tem mais duas lojas da franquia em shoppings da capital. Até o início desta tarde, nos três restaurantes, a movimentação permaneceu como nos outros dias. “Mas pode mudar nos próximos dias. Ainda não sabemos. De qualquer forma, já nos preparamos para uma demanda maior de delivery, porque as pessoas podem começar a pedir mais de casa, né”, avaliou.
“Depois que soubemos desse decreto, conversamos e vimos que a solução é essa mesmo. Agora, temos que aguardar esses cinco dias e ver como vai ser”, completou ele.
Organização
No Boteco do Juca da 405 Sul, o gerente Valmor Biberg chegou mais cedo nesta quinta para organizar o espaço de maneira que cumprisse o decreto do governador. Contudo, ele e outros responsáveis pelo restaurante tiveram que lidar com alguns problemas durante o horário de almoço, quando o local recebe muitos clientes.
“Eu cheguei e montei as mesas de acordo com está sendo pedido. Até medi a distância para ver se estava certa. Na hora do movimento, o público chegou e juntou tudo”, contou.
Para enfrentar a situação, ele reorganizará as mesas e cadeiras antes de receber novo movimento à noite e avalia como pedir aos clientes para respeitarem a mudança no ambiente.
“Espalhei álcool em gel pelo restaurante, como medida de higiene mesmo. Vou colocar as coisas no lugar de novo, mas o problema é que chega muito grupo junto para comemorar aniversário, formatura. Aí, é difícil para a gente separar”, destacou.
A analista de sistemas Luciana Alves, 46, esteve no Buteco do Juca para almoçar com os amigos em comemoração ao aniversário dela. Para a celebração, ela fez uma reserva para 20 pessoas e notou que as mesas ao redor continuaram próximas.
“A gente fica com alguns questionamentos para saber o quanto isso realmente é eficaz [separar mesas com distância de dois metros], mas acho que tudo é experimento. Acho válido, porque é algo para tentar não disseminar tão rapidamente a doença. A questão é que vai mais da consciência de cada um manter essa distância”, analisou.