Remédio que dopou Bernardo é proibido para menores de 18 anos
Medicamento só é vendido com prescrição médica para tratar insônia em adultos. Pai diz ter diluído três comprimidos no suco da criança
atualizado
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O remédio que o metroviário Paulo Roberto de Caldas Osório, 45 anos, diz ter dado ao filho Bernardo, de 1 ano e 11 meses, para dopá-lo, fazendo o bebê dormir durante uma viagem entre Brasília e Minas Gerais, nunca passou por testes em crianças. Na bula, a orientação é explícita: o medicamento não deve ser prescrito para menores de 18 anos.
Osório, contudo, confessou à polícia ter dissolvido três comprimidos de hemitartarato de zolpidem no suco de uva que deu ao filho. A criança teria ficado grogue. Depois, passado mal, vomitado e, por fim, morrido.
A bula do remédio de venda controlada – mediante apresentação de receita médica – indica que o comprimido é destinado ao tratamento de insônia em adultos. Segundo o texto de informação ao paciente, o hemitartarato de zolpidem (foto abaixo) “age sobre os centros do sono que estão localizados no cérebro”. O efeito tem ação 30 minutos após a ingestão.
“A gente usa como indutor do sono, mas sempre com cautela e, de preferência, por pouco tempo”, explica o neurologista Lucas Cruz.
A recomendação ao paciente é de não tomar mais de uma dose durante a mesma noite. Deve-se utilizar a menor dose diária efetiva de hemitartarato de zolpidem e não exceder 10mg. “O pai diz que deu três [comprimidos a Bernardo]. Mesmo diluindo em suco, a dose é tão alta que nem deve ter feito diferença. Isso não poderia ter sido feito de forma alguma”, reforça o médico Lucas Cruz.
Para o médico, com tanto remédio no corpo, Bernardo deve ter sofrido com insuficiência respiratória, o que justificaria o aspecto “molenguinho” de Bernardo, relatado por Paulo Roberto aos policiais da Delegacia de Repressão ao Sequestro (DRS), da Polícia Civil do Distrito Federal, que investigam o caso.
Não recomendado
O uso do hemitartarato de zolpidem também não é indicado para pacientes que possuem alguma doença psicótica. Uma vez que Paulo ficou 10 anos internado com problemas psiquiátricos após matar a mãe, em 1992, Lucas Cruz acha estranho o homem afirmar fazer uso contínuo do medicamento.
“Paciente com esse histórico é necessário muito cuidado. Assim como pessoas dependentes de álcool ou drogas. A administração precisa ser em tempo muito curto”, diz o neurologista.
Por esse motivo, o médico alerta contra o uso indiscriminado do remédio. “Essas medicações devem ser prescritas e acompanhadas por um médico profissional, principalmente por causa dos efeitos colaterais”, adverte Lucas Cruz.
Entre os efeitos colaterais listados na bula do medicamento, estão: sedação, depressão respiratória, coma e óbito, insuficiências respiratória e hepática, amnésia, ideação suicida e depressão, sonambulismo e comprometimento psicomotor.
Sequestro e morte
Na noite dessa terça-feira (03/12/2019), a mãe de Bernardo, Tatiana Silva, recebeu a notícia, por meio da Polícia Civil, de que o pai do seu filho fora preso e confessou ter assassinado o garoto. Osório pegou o filho na escola, na Asa Sul, no fim da tarde de sexta-feira (29/11/2019) e ficou de entregá-lo para a ex-mulher à noite. Mas não cumpriu a promessa e acabou detido, na Bahia.
Em depoimento aos policiais, ele contou o homicídio e disse ter jogado o corpo do filho às margens da BR-020, a 600km da capital federal. Policiais fazem buscas à procura do cadáver.
“Os policiais me ligaram ontem à noite. É uma dor que faz o peito, a barriga e as costas doerem. Não passa. Só alivia quando eu choro. Não quero ver nem falar com ele [o pai da criança]. Fez isso por causa de dinheiro, porque pedi pensão. É vingança”, declarou Tatiana ao Metrópoles, na manhã desta quarta-feira (04/12/2019). No fim do dia, ela afirmou à reportagem não acreditar na versão dada pelo ex-marido: “Sigo acreditando que ele [Bernardo] está vivo”.
Veja imagens da criança: