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Coronavírus afeta igrejas: “Paguei conta do bolso”, diz pastor

Proibidos de realizar cerimônias religiosas em função do risco de contágio do coronavírus, templos calculam queda na arrecadação

atualizado

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Divulgação/Arquivo Pessoal
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1 de 1 Segunda-Igreja-Batista-Cidade-Estrutural - Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Com a pandemia do novo coronavírus e as igrejas impossibilitadas de realizar cultos e missas presencialmente, para evitar o risco de contágio, os templos da capital da República enfrentam dificuldades para pagar as contas.

Sem receber dízimos, doações e valores de outras celebrações religiosas, as organizações estão com os caixas comprometidos e ainda não se sabe como pagarão as contas nos próximos meses, caso o isolamento social e o decreto que proíbe aglomerações se estenda.

Na terça-feira (31/03), lideranças religiosas e GDF se reuniram para discutir propostas a fim de amenizar os impactos financeiros durante a crise (leia mais abaixo). Na prática, os efeitos já são sentidos. Ao Metrópoles, um representante religioso estima que a arrecadação do caixa da igreja caia cerca de 70%, a partir de abril.

Responsável pela Segunda Igreja Batista na Cidade Estrutural (foto de destaque), o pastor Kleiber comentou que o templo passa por dificuldades para manter as contas em dia.

“A igreja, hoje, trabalha no limite do que arrecadamos para pagar as nossas despesas. Em março, não teve arrecadação, praticamente”, afirmou.

De acordo com ele, os gastos são pagos pelos fiéis. “Havia uma despesa do mês passado e, como não havia caixa, eu mesmo paguei a conta do bolso. Outros irmãos estão assumindo uma conta de água ou de luz, diante das dificuldades de fazer os seus dízimos. Também passamos a conta bancária da igreja para aqueles que puderem ou desejarem fazer os depósitos”, comentou.

Colaboradores

Para o pastor Kleiber,  o mais importante é pagar os colaboradores. “Eu recebo uma ajuda de custo e abri mão. Estamos dando prioridade aos menores. Estimamos que a arrecadação caia cerca de 70% nos próximos meses. Mesmo assim, seguimos tranquilos. O mais importante, neste momento, é a gente cuidar das pessoas”, acrescentou.

O pastor Alan, da Igreja Palavra Viva Church, em Águas Claras, relatou que a forma encontrada para se manter desde o início da pandemia é a ajuda dos fiéis mais próximos.

“Estamos mantendo contato para que eles possam ajudar de alguma forma. Mesmo assim, não sabemos como vai ficar os próximos dias.”

De acordo com ele, ainda não há dinheiro para pagar o aluguel e as demais despesas da igreja no mês de abril.

“Isso já nos traz preocupação. Até porque existe uma briga com o Governo Federal sobre a igreja ser um serviço essencial ou não. Isso atrapalha um pouco a nossa demanda”, explica.

O pastor diz confiar em Deus e ter a expectativa de que a situação mude o mais rápido possível. “Não podemos ir contra as autoridades, mas, além das contas a pagar, nós trazemos benefícios para as comunidades”, argumenta.

Seguindo as recomendações

O padre Ernestino, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Taguatinga Sul, disse que a igreja segue as orientações do governo e da Arquidiocese de Brasília. Assim, permanece fechada desde o primeiro decreto e os outros.

“Estamos promovendo missas sem a presença de pessoas e transmitindo pelas redes sociais. Não recebemos o dízimo e isso dificulta a situação. A saída é conviver com a realidade da economia e do coronavírus. Sabemos que, neste momento, não há de onde tirar.”

De acordo com o pároco, até o momento, água e luz estão em dia. “Algumas outras contas são mais difíceis e vamos caminhando para ver até onde teremos recursos. Não temos pretensão de pedir o dízimo aos fiéis. Vamos tentar nos virar e confiar que tudo possa se resolver o quanto antes.”

Representante da Igreja Evangélica Restaurando vidas, no Gama, o pastor Alberto Luiz afirmou que, até o momento, os irmãos, em um contexto geral, estão honrando com os dízimos e ofertas.

“Caso a crise perdure, precisaremos nos manter unidos. Essa é a consciência que todos temos que ter. Essa é uma época de dificuldades para todos. Vamos buscar apoio para que um possa ajudar o outro.”

Arquidiocese de Brasília

Representante do setor de Comunicação Social da Arquidiocese de Brasília e pároco da Catedral, o padre João Firmino confirmou que a crise em meio à pandemia afeta muito o caixa na maior parte das paróquias.

“A grande maioria de ajuda financeira é feita de forma presencial, por meio do dízimo, das coletas e das doações. Como não estamos tendo celebrações, o número de ajuda está restrito. As igrejas estão sem reserva em caixa e isso já preocupa. As paróquias estão com dificuldades de como administrar tudo isso.”

Ainda de acordo com o padre João firmino, as informações são de que a pandemia vai durar mais tempo e a preocupação se estende para daqui dois ou três meses.

“Uma das formas de as paróquias receber doações maiores, seria no período de Semana Santa. Agora, as igrejas estão se organizando para comunicar nos meios eletrônicos para que as pessoas possam ajudar”, disse.

“A tendência é de que haja uma piora e os caixas fiquem ainda mais comprometidos. Não tínhamos em mente que isso poderia nos afetar como afetou”, concluiu.

Pedido de socorro

Lideranças religiosas e Governo do Distrito Federal (GDF) se reuniram, nessa terça-feira (31/03), para discutir propostas apresentadas a fim de buscar soluções que amenizem os impactos financeiros nas instituições durante a pandemia.

O encontro foi mediado pelo chefe da Unidade de Assuntos Religiosos (Unar), Kildare Meira.

Os responsáveis pelos templos sugeriram ajustes no campo financeiro para amenizar os prejuízos provados pela diminuição de doações e dízimos.

Entre as propostas, pediram a prorrogação dos vencimentos das contas de água, esgoto e luz pelo período de seis meses. Ainda solicitaram permissão para funcionamento com 25% da capacidade máxima.

Outra pauta discutida pelos presentes foi a criação de um crédito especial junto ao Banco de Brasília (BRB), com prazo de seis meses para pagar.

As lideranças religiosas afirmaram que estão com dificuldades financeiras, pois têm trabalhado no fornecimento de cestas básicas e itens de prevenção contra a Covid-19, como luvas, máscaras e álcool em gel.

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