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Conheça a história de Edith, a rezadeira que atrai fiéis a Sobradinho

Nascida em Minas Gerais, a benzedeira já chegou a receber 110 pessoas em uma só manhã

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1 de 1 dona edith benzedeira - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A casa é modesta, sem pompa, e está sempre com o portão verde entreaberto. Imagens de Nossa Senhora Aparecida decoram o ambiente da garagem que, em vez de carros, abriga um grande banco de madeira e uma mesa coberta com uma toalha plastificada. O pequeno assento, também de plástico, é reservado aos que procuram ser benzidos, sempre às sextas-feiras, por Edith Marques Ferreira, de 83 anos – ou dona Edith, como é conhecida.

O sotaque carregado não esconde as origens. Mineira de Sacramento (MG), dona Edith veio para Brasília em 1974 em busca de melhores condições de vida para a família. Antes disso, morou no Paraná, onde teve os 16 filhos. Há 33 anos, tornou-se a segurança de quem procura ajuda para tratar doenças ou apenas ouvir palavras de conforto. Desde então, abre sua casa em Sobradinho – mais especificamente na quadra 13 – para receber os fiéis.

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Tudo começou com a doença do filho caçula, em 1983. “Sou muito religiosa e você sabe como é: todo mineiro sabe rezar pelo menos um pouquinho”, começou a conversa com o sorriso no rosto que lhe é característico. “Meu filho adoeceu e eu fiquei com ele no hospital. Eu via outras crianças que estavam internadas, tomavam soro e melhoravam. Na hora de ir embora, já estavam passando mal de novo”, relembrou dona Edith. “Comecei a rezar para os meninos e todos ficaram bons no dia seguinte. Mas eu fazia isso escondida dos médicos e das enfermeiras”, revelou, entre risos.

A oração tem poder. Não sou eu, é ela. Faço o que posso para ajudar, porque médico e remédio são coisas difíceis hoje em dia.

Dona Edith

A partir daí, a notícia se espalhou. A cada dia, a casa de dona Edith recebe mais gente. “Um foi falando para o outro e aí não teve jeito. Eu rezava todos os dias, mas aí diminuí porque tinha que cuidar da casa e dos meninos. Agora não dou mais conta e limitei os atendimentos
às manhãs de sexta”, explicou a matriarca da família Ferreira, que ainda é avó de 42 e bisavó de 33.

Dependendo do dia, a fila de pessoas ultrapassa os limites do terreno. Uma de suas filhas, Rita, de 64 anos, conta que a mãe já chegou a realizar 110 atendimentos em uma manhã. “Se deixar, ela fica a manhã inteira lá. Não para nem para comer ou beber água”, confessou Rita.

E não pense que os fiéis se limitam a moradores de Sobradinho. Dona Edith atende pessoas de todo o Distrito Federal e reza até pelo telefone. “Outro dia um casal foi com o filho para Portugal e o menino passou mal lá. Não estava dormindo à noite. Eles ligaram e mamãe o benzeu por telefone. No dia seguinte já estava bom”, relatou Luzia, de 63 anos, outra filha da rezadeira.

Atendimentos
Metrópoles esteve na casa de dona Edith e acompanhou os atendimentos na manhã da última sexta-feira (24/6). Usando um brinco com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, um par de Havaianas e um avental por cima da roupa, ela benzeu cerca de 60 fiéis que procuravam apoio. Com um vidro de álcool em gel a postos e um terço sempre em mãos, realizou as simpatias.

Uma placa ao lado das imagens de Jesus e Maria alertava os presentes do horário de atendimento: das 6h30 às 9h e das 9h30 às 12h. O intervalo de meia hora seria reservado para o lanche e os remédios que deve tomar durante a manhã, mas não foi respeitado na sexta.

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Adultos, crianças e idosos se revezavam na fila, que não diminuiu ao longo da manhã. Muitos procuram ajuda para tratar o que chamam de vento virado (quando a criança não come direito e tem uma perna maior que a outra), cobreiro (uma erupção cutânea semelhante à herpes), quebranto (mau-olhado; quando a criança dorme com os olhos entreabertos); nervo torcido (geralmente problema de coluna), espinhela caída (dor de estômago), além da erisipela (inflamação da pele). No entanto, a rezadeira cuida de quem precisar de qualquer tipo de atendimento.

Para realizar as sessões, ela conta com a ajuda das filhas, que se revezam a cada sexta-feira no comando da mesa e do livro de assinaturas. Lá, aparecem os nomes de quem não pôde comparecer e quer proteção à distância. Dona Edith junta todos eles e reza para os ausentes no período da tarde.

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A filha Rita ajuda dona Edith durante os atendimentos

 

A coordenação da manhã de sexta ficou por conta de Rita, que deixou separados 20 panos e agulhas para as rezas de nervo torcido – simpatia que dona Edith faz enquanto costura uma linha ao pedaço de tecido. Os itens são utilizados somente nos atendimentos de quem nunca foi a uma sessão. Os que já estão em tratamento são benzidos com o mesmo material desde o primeiro encontro. “Já deixo as linhas passadas nas agulhas para que ela não tenha trabalho. Hoje (sexta) sobrou só uma. O resto foi o pessoal que já está em tratamento”, contabilizou Rita.


A própria Rita, que é técnica de higiene dentária aposentada, foi desenganada pelos médicos e recorreu ao trabalho da mãe para buscar forças. Depois de receber o diagnóstico de reumatismo, passar sete anos à base de corticoide e injeções, teve um câncer no útero que quase levou suas esperanças.

“Fui diagnosticada no ano passado e tive que tirar o órgão todo. Meus irmãos vinham todos rezar, fizeram uma novena e estou aqui, com 64 anos. Minha cura foi a fé com oração”, revelou Rita.

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Sirlei Jesus costuma levar as filhas para receber a bênção de dona Edith

A dona de casa Sirlei Jesus, de 43 anos, frequenta a casa na quadra 13 de Sobradinho há mais de uma década. Ela costumava levar a filha mais velha, que hoje tem 18 anos, para receber a bênção da rezadeira. Agora, confia à senhora a saúde da filha, Alice, de 1 ano e 8 meses. “É uma virtude que dona Edith tem de Deus. Sempre trago a bebê quando está doente, para curar a febre”, acrescentou.

Já o casal Elenice e Marcílio Bastos, de 65 e 66 anos, procurou o atendimento na sexta para tratar a coluna. No entanto, já são velhos conhecidos de dona Edith. “Temos filhas gêmeas que nasceram prematuras, há 30 anos. Trouxemos aqui e hoje elas são saudáveis, graças a Deus”, destacou a dona de casa Elenice.

Marcílio, que é militar aposentado do Corpo de Bombeiros, teve um problema na coluna e recorreu à fisioterapia. Mas o que gerou resultado mesmo foi a oração. “Saí daqui zerado. Nem voltei ao médico”, confessou.

Serviço
Dona Edith atende a comunidade todas as sextas-feiras, das 6h30 às 12h, na quadra 13, conjunto A, casa 21, em Sobradinho. As orações são individuais e gratuitas.

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