Registros de mortes de pessoas com 30 anos por Covid crescem 39% no DF
Em março, cartórios do DF registraram, em média, 1,8 óbitos por dia de adultos entre 30 e 39 anos. Em abril, a média diária subiu para 2,5
atualizado
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No começo da pandemia do novo coronavírus, pessoas idosas eram aquelas que proporcionalmente mais faleciam pela doença em todo o mundo. No Distrito Federal, esse cenário começa a mudar, após o início da vacinação dos mais velhos contra a Covid-19. Enquanto caem as mortes e internações de idosos que são contemplados na campanha de imunização, o número de óbitos de jovens tem aumentado na capital.
Em janeiro, cartórios do DF registraram quatro mortes de pessoas com idades entre 30 e 39 anos causados pela Covid-19. Em fevereiro, foram cinco. Já em março, esses registros saltaram para 55. Até o dia 22 deste mês de abril, as notificações alcançaram o mesmo número do mês passado: também 55 falecimentos.
Isso significa que, em março, a média diária de mortes por Covid-19 desta faixa etária foi de 1,8. Já em abril, a média é de 2,5 óbitos por dia. Um aumento de 39%.
Os dados constam no Portal da Transparência do Registro Civil, base de dados abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos cartórios de registro civil do país. A página é administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) e suas informações são cruzadas com os dados históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Veja, abaixo, os gráficos com os dados mês a mês:
Para o professor epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB) Marcos Takashi, uma das principais causas deste aumento é a maior circulação de cidadãos desta faixa etária. “São pessoas economicamente ativas, que precisam sair de casa para trabalhar e pegam ônibus, metrô. Então circulam mais”, comenta.
Porém, ele ressalta que, por ter maior estabilidade financeira do que pessoas com 20 anos, no geral, o público na faixa dos 30 também pode acabar participando de aglomerações com maior frequência.
“Associada a essa necessidade de trabalhar há também essa falta de controle na saída para baladas, bares, locais que vivem lotados de pessoas sem máscara. Isso é um fator de risco”, pontua o especialista.
Aumento de mortes do público não vacinado
Os óbitos de pessoas com idades entre 20 e 29 anos, que em janeiro e fevereiro foram dois por mês, saltaram para 16 em março – média diária de 0,5. Até o presente momento, são 14 registros de mortes por Covid-19 desta faixa etária em abril – média de 0,6. O aumento na média diária é de 20%.
Já as mortes de pessoas de 40 a 49 anos foram as que mais aumentaram em abril em relação ao mês anterior.
Em janeiro, os cartórios do DF registraram 13 falecimentos pela doença de pessoas com essas idades. Em fevereiro, foram 22. O aumento expressivo ocorreu em março, quando houve a notificação de 128 óbitos por coronavírus em pessoas dos 40 aos 49 anos, uma média diária de 4,1. Já o mês de abril, em 22 dias, somou 148 vítimas: média de 6,7 por dia. Dessa forma, cartórios do DF registraram alta de 63% nas mortes desta faixa etária por Covid neste mês.
Também bastante afetada pelo vírus na segunda onda da pandemia é a população de 50 a 59 anos. Em janeiro, foram 33 mortes. O número caiu em fevereiro para 23. Em março, porém, os registros subiram, totalizando 188. Agora, em abril, já são 204.
Isso significa que a média diária de óbitos por Covid registrados nos cartórios da capital em março foi de 6 mortes de indivíduos com idades entre 50 e 59 anos. Já neste mês de abril, são 9,3 mortes por dia. O aumento é de 55%.
Mortes da população com idades entre 60 e 69 anos também estão atingindo números preocupantes nos últimos meses. Idosos com 69 anos começaram a ser vacinados no DF em 22 de março e, portanto, passaram a receber a segunda dose no meio de abril. Nessa sexta (23/4), o DF começou a incluir pessoas com 62 e 63 anos na campanha. Ainda não há previsão de quando as idades de 61 e 60 anos serão contempladas.
Cartórios começaram o ano registrando 52 óbitos desta faixa etária pelo novo coronavírus no DF. Em fevereiro, foi notificado um a mais, totalizando 53 no mês. Já em março, porém, a soma foi de 298 falecimentos. E, em abril, foram 287 até essa quinta-feira (22/4).
A média diária em março, portanto, ficou em 9,6. Neste mês, o dado foi o maior entre todas as faixas etárias: média de 13 óbitos por dia de pessoas entre os 60 e os 69 anos. O aumento é de 35%.
Efeitos da vacinação
Com a vacinação dos idosos, as mortes por Covid de pessoas com mais de 70 anos foram as únicas que apresentaram queda entre março e abril no DF. Todas as faixas etárias de 70, 80 e 90 anos tiveram aumento no número de óbitos em março, com a chegada da segunda onda. Porém, mesmo diante do pior cenário da pandemia, em abril, mês em que vários idosos fecharam o ciclo de imunização com a aplicação da segunda dose, a quantidade de vítimas caiu.
Na faixa de 70 a 79 anos, os óbitos por Covid em janeiro foram 64. O número se repetiu no mês seguinte. Já em março, foram 288 vítimas registradas em cartórios do DF – média de 9,3 por dia. Até essa quinta (22/4), o mês de abril teve 177 óbitos – média diária de 8. A redução é de 14%.
Já o público com 80 anos ou mais começou a ser vacinado em 1º de fevereiro. Assim, a mudança é ainda mais expressiva. Os números de mortes dessa parcela populacional em janeiro e em fevereiro, foram, respectivamente, 57 e 44. Em março, com a chegada da segunda onda, subiu para 140 – média de 4,5 por dia. Mas, em abril, o total até o momento é de 66 – média de 3 falecimentos diários. A queda é de 33%.
Por último, também houve queda no número de mortes do público acima de 90 anos entre março e abril. Em janeiro, foram 15. Fevereiro registrou 17. Em março, o DF teve registradas nos cartórios 42 vítimas desta faixa etária. E, em abril, são 32 até o momento. A média diária, porém, foi a única que aumentou, passando de 1,4 para 1,5: alta de 7%.
Na avaliação do professor Takashi, esta leve alta pode ser justificada pela idade avançada das vítimas no pior momento da pandemia, em que unidades de Terapia Intensiva (UTIs) estão lotadas e ainda há idosos que não se vacinaram – seja por estarem doentes, internados, ou por terem contraído a Covid-19 antes da vacina e, então, levado mais tempo para a imunização.
“Temos que lembrar que são pessoas, com seus 90 e tantos anos, têm o sistema imunológico já mais frágil e podem ter outras doenças, comorbidades. É uma faixa que merece bastante atenção, porque é bem idosa”, analisa.
“É importante destacar que agora também há variantes do vírus, que infectam um maior número de pessoas. Isso também se soma e precisa ser um alerta aos jovens. O vírus não faz discriminação de gênero, raça, idade. Precisamos manter os cuidados, com máscara, álcool gel e distanciamento”, enfatiza o epidemiologista.