Refugiados aprendem profissão e recuperam espaços públicos no DF
Idealizador de bolsa que paga R$ 1,1 mil para cidadãos se profissionalizarem, Ibaneis Rocha planeja expandir programa em parceria com Senai
atualizado
Compartilhar notícia
Um programa do Governo do Distrito Federal (GDF), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), paga bolsa de R$ 1,1 mil para que cidadãos aprendam uma nova profissão. Em contrapartida, os alunos dos cursos profissionalizantes reformam espaços públicos do DF durante as aulas práticas.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) disse ao Metrópoles que ficou impressionado com o andamento do projeto idealizado por ele e que planeja expandi-lo: “A forma que a gente tem de ajudar é dando condições de sobrevivência aos cidadãos. Melhor do que a bolsa, no caso dessas pessoas, é a oportunidade de aprender uma profissão”.
O Renova-DF começou em Ceilândia, em 31 de maio, e ocorre também em Samambaia, desde 8 de junho. Nesta primeira fase, dois grupos de 500 alunos de cada região passarão por três meses de formação. O projeto deve ser ampliado para outros locais nos próximos meses.
O programa também abriu as portas para que pessoas de outras nacionalidades tenham a oportunidade de encontrar uma vaga de trabalho. Atualmente, há 50 refugiados entre os alunos dos cursos de formação.
A venezuelana Jennifer Espitia, 34 anos, é uma das estudantes do Renova-DF. A estrangeira mora no Gama há aproximadamente um ano. Em entrevista ao Metrópoles, ela conta que está em território brasileiro há seis anos, período no qual trabalhou como vendedora e assistente de produção. Em janeiro de 2021, em função da pandemia, Jennifer abriu uma loja virtual de sex shop.
Jennifer (foto em destaque) diz que soube do programa de capacitação profissional por meio das redes sociais, e se interessou. Na segunda-feira (21/6), nas aulas práticas, ela trabalhou na reforma de uma quadra poliesportiva na Quadra 414 de Samambaia.
“É algo muito importante, porque deu oportunidade para nós, estrangeiros”, enfatiza a venezuelana. “O curso ensina e incentiva também. Como lidamos com espaço público, além de aprender, a gente é incentivado a cuidar mais da cidade”, completa.
Três mil vagas
Neste projeto, o GDF investirá R$ 18 milhões para treinar e qualificar três mil profissionais para o mercado de trabalho e, com isso, movimentará a economia local.
Eles terão aulas teóricas e práticas, ministradas pelo Senai, para cursos de carpinteiro, jardineiro, eletricista, encanador, serralheiro e pedreiro.
Nas aulas práticas, os estudantes fazem a recuperação de praças, parques infantis, quadras, campos de futebol, Pontos de Encontro Comunitário (PECs), calçadas, jardins e paradas de ônibus das regiões administrativas.
O curso oferece R$ 1,1 mil de bolsa aos alunos, por uma carga horária de quatro horas por dia. Ao final, eles receberão certificados do Senai. O salário mínimo é pago para quem atingir pelo menos 80% de presença nas aulas.
Confira imagens do Renova-DF:
Oportunidade
O Metrópoles esteve em Samambaia na segunda-feira (21/6) e acompanhou as aulas práticas. Segundo Pedro Dias Pimpão Neto, supervisor do projeto em Samambaia pelo Senai, são 10 turmas por turno – matutino e vespertino –, com 25 alunos em cada turma. De acordo com ele, dos mil inscritos que foram chamados para esta primeira fase, aproximadamente 45% são mulheres.
Na avaliação do supervisor, em menos de duas semanas de aulas, “todos estão indo superbem”. “Estão com a velocidade acelerada, bem animados e dispostos”, comenta.
Rafael Leopoldino, 32 anos, mora no Paranoá e perdeu o emprego durante a pandemia da Covid-19. “Eu trabalhava em shopping, como encarregado da limpeza, e fiquei desempregado. Nesse período, estava só fazendo bicos na área de construção civil. Queria especialização e não tinha”, narra.
Agora, Leopoldino diz ter mais conhecimento na área. “Estamos revitalizando a quadra e já temos uma boa evolução. Essa área do alambrado mesmo, quando chegamos, não sabíamos fazer muita coisa. Agora, a gente já toma a frente”, afirma.
Além da quadra poliesportiva, outros espaços também são reformados na Avenida Joaquim Roriz, em Samambaia Norte, como calçadas e Pontos de Encontro Comunitário.
A moradora de São Sebastião Márcia Francisca da Silva, 53 anos, estava fazendo reparos em um PEC na manhã da segunda-feira. Ela relata que era diarista antes do início da pandemia, mas perdeu o emprego com a crise econômica. Hoje, Maria já se vê em uma nova área: alvenaria.
“Eu soube do curso por acaso, na internet. Aí, me arrisquei a fazer a inscrição e fui contemplada”, diz. “Estou gostando muito. É um aprendizado a mais. Vamos sair com certificado, o que vai ajudar a arrumar uma oportunidade melhor. E é algo que abrange a todos, tanto o jovem quanto nós que temos mais idade e estamos desempregados”, pontua.
O administrador de Samambaia, Gustavo Aires, diz que pediu ao governador para que o programa seja permanente na cidade, em razão dos bons resultados observados.
“Esse projeto, além de trazer benefício para o aluno – que está se preparando para o mercado de trabalho e recebendo bolsa – também atende a demandas da cidade, por meio de reformas de equipamentos públicos, como calçada, travessia de pedestre e quadra de esporte”, afirma Aires.
Como funciona
Segundo o secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes, os locais a serem reformados pelos alunos foram escolhidos pelas administrações regionais.
“Primeiro, o governador determinou que nós começássemos por Ceilândia e Samambaia. Aí, cada administração regional, que são parceiras do projeto, escolhe quais são os equipamentos que devem sofrer intervenção. Aqueles que têm o maior fluxo de pessoas ou que têm maior utilização por parte da comunidade ou que estão mais deteriorados”, explica.
“São 2.556 equipamentos públicos em todo Distrito Federal. Nós começamos em Ceilândia e Samambaia, mas vamos para o norte – que é Planaltina, Sobradinho e Varjão –, com o mesmo esquema. O objetivo geral é qualificar as pessoas utilizando o canteiro de obras como sala de aula”, acrescenta Thales.
Conforme conta o secretário de Trabalho, os cursos a serem ministrados foram selecionados após uma pesquisa da pasta.
“O trabalho da secretaria foi fazer um mapeamento das profissões e atividades profissionais que estavam em crescimento e que pudessem ter uma maior absorção no mercado. O ramo da construção civil se destacou: é uma necessidade. Então, a gente focou as nossas qualificações nesse tipo de trabalhador, porque, saindo daqui, ele tem condição e nós temos vagas nas agências do Trabalhador para encaminhar essas pessoas qualificadas”, destaca.