Reforma em ponte do DF fere “traçado leve” de Niemeyer, alertam moradores
Segundo representantes da comunidade, a distância entre os montantes nas laterais da ponte caiu de 2 metros e meio para 70 centímetros
atualizado
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A “leveza arquitetônica” da Ponte Honestino Guimarães, originalmente batizada como Costa e Silva, está em risco. O elevado passa por uma reforma de segurança. No entanto, segundo moradores do Lago Sul, o projeto fere o desenho histórico traçado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em colaboração com o engenheiro Joaquim Cardoso.
“A ponte é de uma beleza incrível. Precisa ser recuperada, restaurada e revitalizada. Mas há uma incoerência entre a leveza da ponte e o próprio projeto”, afirmou a ex-administradora regional e atual presidente do Conselho Comunitário do Lago Sul, Natanry Osório.
Após receber reclamações de moradores sobre a mudança do aspecto da ponte, Natanry decidiu chamar o arquiteto e urbanista e ex-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU-DF) Daniel Mangabeira para fazer um diagnóstico da reforma.
O estudo flagrou o desvio entre o projeto original de Niemeyer, feito em 1976, e o desenho da reforma, especialmente na proximidade das colunas. O traçado original apresentava distância aproximada de 2 metros e meio, em média. Mas a nova estrutura tem cerca de 70 centímetros.
“A reforma é necessária e imprescindível para a atualização com a tecnologia moderna, mas que se respeite pelo menos o projeto em si”, reforçou. Em conversas com motoristas, Natanry também ouviu queixas sobre a largura das pistas. A via estaria muito estreita.
Pouso do pássaro
Ao lado da recuperação do traçado original, os moradores também defendem a implantação de um novo sistema de iluminação. “Como Niemeyer dizia, esta ponte é como um pássaro pousando. É a leveza de um pássaro. Seria tão bom iluminá-la por baixo. A iluminação noturna seria o coroamento”, completou.
Os moradores apresentaram o pedido de ajustes para a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). “Acreditamos na presidência da Novacap, com sua sensibilidade, sua experiência e seu compromisso com Brasília. Todos aqueles que por ali circulam estão preocupados”, ressaltou.
Desvio
Segundo Mangabeira, a proposta inicial de reforma, antes das recomendações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), era condizente com o traçado de Niemeyer, principalmente nas proporções do guarda-corpo original.
“A execução do guarda-corpo deveria acontecer com montantes a cada 2 metros e meio. O montante é como se fosse o pilar do guarda-corpo. Isso daria ao projeto uma leveza”, contou. No entanto, os montantes executados estão há aproximadamente 70 centímetros de distância.
A quantidade de montantes é quase 4 vezes maior do que o traçado de Niemeyer. “É um aspecto estético que deturpa, altera, interfere excessivamente no projeto original. Há uma questão de ritmo, de proporção e de leveza que foi ignorada no projeto executado”, alertou.
O montante é um item de sustentação necessário para a segurança da ponte. Para Mangabeira, não há dúvida quanto à necessidade de reforma e das adequações às normas de acessibilidade e às normas vigentes de segurança. Porém, a alteração poderia ser feita seguindo as proporções originais.
Reforço
Para o presidente da Associação de Moradores da QI 5 do Lago Sul, Carlos Guapindaia, a reforma é imprescindível para assegurar o reforço de estrutura da ponte. “Originalmente, ela tinha duas faixas. Hoje tem três, e o trafego de veículos é muito mais intenso do que na época em que ela foi projetada”, comentou.
Os moradores também pediam maior segurança aos pedestres. Segundo Guapindaia, esse aspecto foi contemplado na reforma. “Agora, a questão é estética da solução. Na concepção do projeto, Niemeyer bolou uma coisa suspensa, leve. E da forma como estão montando, ficou muito fechado. E tudo fica mais pesado visualmente”, argumentou.
Novacap
O Metrópoles entrou em contato com a Novacap sobre a questão. Por nota, a companhia argumentou que o projeto de reforma está em plena regularidade e recebeu o aval dos órgãos competentes de controle. A princípio, não sinalizou intenção de rever a obra.
“O novo projeto foi desenvolvido conforme as normas de segurança, acessibilidade e estabilidade estrutural vigentes. A obra está sendo executada em total conformidade com os projetos elaborados e aprovados nos órgãos competentes, os quais não questionaram as soluções e emitiram seus pareceres favoráveis à intervenção”, afirmou.
A Novacap também negou a hipótese de estreitamento das faixas. Quanto à iluminação, não planeja iluminar a parte inferior do elevado. A ponte receberá iluminação em Led através de novos postes sobre a ponte, além de sinalização luminosa nas barreiras New Jersey voltadas para as faixas de rolamento.
Segundo a Novacap, o valor final estimado da reforma é da ordem de R$ 21 milhões. As intervenções externas deverão ser concluídas em maio de 2023. As recuperações e os reforços estruturais internos estão previstos para setembro do mesmo ano.