“Reagiram e deu merda”, disse suspeito de triplo homicídio a outra vítima
Após os assassinatos, criminoso obrigou mulher a cozinhar, e a família, a beber cerveja. Amarrou todos em um quarto e fugiu com o carro
atualizado
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O roubo com restrição de liberdade cometido por Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, nessa quinta-feira (10/6), na região do Incra 9, em Ceilândia, é repleto de ousadia. Um dia após matar Cláudio Vidal de Oliveira, 48 anos, Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, o criminoso, mesmo com forte aparato policial à procura dele, fez outras duas famílias reféns. O Metrópoles teve acesso com exclusividade aos detalhes da investigação.
No último caso, registrado na noite dessa quita-feira (10/6), a proprietária da chácara foi informada sobre assalto pelo caseiro. Inicialmente, o funcionário avisou que a propriedade estava sem energia. Os donos do imóvel verificaram que não havia falta de luz na região e pediram para o caseiro e a família ficarem dentro de casa e trancassem a porta, pois estavam recebendo informações sobre a situação de um triplo homicídio e que o suspeito provavelmente estaria na área.
Após algum tempo, o caseiro ligou novamente para os patrões dizendo que Lázaro Sousa invadiu a residência e fez a família dele refém. O funcionário conseguiu fugir do criminoso e levou a família para a chácara do vizinho.
Momentos de terror
O homem detalhou que a energia foi cortada entre as 20h e as 21h. Contou que, por volta das 21h30 e 21h40, a luz voltou, e todos ficaram na chácara. Em certo momento, ouviram barulho na porta da residência, como se alguém tivesse jogado alguma pedra na porta.
Ao sair para ver o que poderia ser, foi abordado pelo suspeito do triplo homicídio. Ao entrar na residência, Lázaro determinou que todos ficassem juntos, três adultos e três crianças, de 10, 6 e 3 anos. O assaltante perguntou se havia algum quarto com chave e mandou que todos se fossem para lá.
Quando se agruparam no cômodo, o assaltante perguntou sobre o carro, se estava funcionando, quanto de gasolina havia no reservatório e se os pneus, que estavam baixos, estariam furados. O caseiro respondeu ao suspeito que no veículo havia meio tanque e que os pneus estavam apenas baixos. Porém, com o compressor que estava logo ao lado, poderiam ser enchidos.
Na sequência, Lázaro perguntou sobre comida. A mulher informou que Lázaro a obrigou a cozinhar. A família permaneceu trancado no quarto enquanto ela fazia o jantar. O criminoso também pegou uma cerveja que estava na geladeira, bebeu e mandou que todos fizessem o mesmo.
Enquanto comia, ele falou: “Se vocês não reagirem, não vai acontecer nada. Vocês viram lá na tevê o que acontece, né? Não ia fazer nada, mas, lá, reagiram e deu merda”. Ao terminar a refeição, ele perguntou se havia cordas na propriedade. O caseiro confirmou, e o assaltante mandou que o funcionário buscasse.
O caseiro ressaltou que todos “eram de bem”, que “não iriam fazer nada” e pediu para não serem amarrados. Entretanto, Lázaro ficou irredutível e disse que, se não os amarrasse, eles gritariam, e ele “não conseguiria fugir, não sairia nem da porta da chácara”. Os reféns foram amarrados e permaneceram trancados no quarto.
Lázaro, então, levou o veículo, um Fiat Pálio, além de cartões do banco e R$ 100 em espécie.
Depois disso, todos correram para a chácara do vizinho, que acionou a polícia de Goiás, que socorreram todos e os conduziram à delegacia. Momentos depois, as vitimas foram informadas de que o veículo havia sido encontrado queimado.
Outro caso
Ainda na manhã da quinta-feira (10/6), outra família foi feita refém e obrigada a cozinhar para o criminoso. Segundo Sílvia Campos de Oliveira, 40, o assaltante falou que teria participado do triplo homicídio na Fazenda Vidal, na madrugada de quarta (9). Ela disse que o homem tem os mesmos traços de Lázaro.
“Ele perguntou se eu estava acompanhando o caso do triplo homicídio. E, depois, disse: ‘Aquele crime lá eu tava junto, mas não foi só eu'”, contou a mulher ao Metrópoles. Sílvia completou: “Falou que, se a gente reagisse, faria o mesmo que fez com a outra família, que ele matou no Incra. Mandou a gente não fugir”.
Em frases desconexas, o suspeito acrescentou que mataria todo mundo caso acontecesse algo com a filha dele. Ele levou dois celulares, biscoito, pão, um casaco e dinheiro. Segundo a testemunha, o homem fritou um ovo para comer durante a madrugada e, antes de deixar a casa, pediu que Sílvia colocasse um prato de comida para ele.
Segundo o capitão Rafael Cunha, da Polícia Militar do DF (PMDF), que esteve na propriedade invadida nesta quinta, há fortes indícios de que o homem seja Lázaro Barbosa. Ele teria chegado por volta das 4h, e a família foi liberada às 15h.
O suspeito fugiu. Helicópteros da polícia sobrevoam o local. De acordo com a PM, o fugitivo está vestido com uma calça preta, um moletom preto com chapéu aba larga (tipo de pescador).
Triplo homicídio
Uma das hipóteses para o triplo homicídio ocorrido na Fazenda Vidal, na madrugada de quarta-feira, é de que Lázaro tenha invadido a casa para roubar os pertences da família. No entanto, ao ver que Cleonice Marques, 43, mulher de Vidal, pedia socorro pelo telefone, ele matou pai e filhos e se apressou em deixar o local do crime, levando-a como refém.
Cleonice ainda está desaparecida. Foi solicitado o apoio de helicóptero e cães farejadores para procurá-la. A Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) presta apoio às investigações.
O triplo homicídio chocou o Distrito Federal. Os corpos estavam em um quarto, um deles sobre a cama, e os outros dois no chão. As vítimas foram encontradas com marcas de tiro e facadas.
Veja imagens das buscas:
Cleonice conseguiu ligar para a família pedindo socorro ao ver que a porta da sua casa estava sendo arrombada. Eles chegaram rapidamente ao local, 10 minutos depois. No entanto, Cleonice já havia sido levada. Cláudio Vidal ainda estava vivo.
Antes de morrer, Cláudio Vidal disse ao cunhado que a esposa havia sido levada por quem invadiu a casa deles: “Age rápido porque levaram a Cleonice”. A polícia informou que os celulares das vítimas estavam em casa. Porções de dinheiro também foram encontradas. Não há indícios de que algo foi levado da residência.
A família morava e era dona de uma floricultura no local.
Esperança
O irmão de Cleonice, Ivan Amorim, 60, contou ao Metrópoles que a família não vai desistir de procurá-la. “Vamos encontrá-la. Estamos com muita esperança. Esse homem não pode ter ido muito longe com a Cleonice a pé. Vamos encontrar”, disse, emocionado.
Familiares e amigos das vítimas acreditam na hipótese de assalto. Segundo Edivaldo Gomes, amigo da família, as vítimas não tinham inimizade com ninguém e mantinham boas relações com os clientes da floricultura e com os vizinhos.
Ao Metrópoles, familiares informaram que irão aguardar notícias sobre a localização de Cleonice Marques de Andrade para marcar o enterro do marido e dois filhos.