Rapaz diz ter sofrido discriminação racial em festa na Asa Norte
Seis seguranças da Festa da Vivendo teriam abordado Hony Riquinson Sobrinho e lhe dito: “você tem características do bandido”
atualizado
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Tradicional evento do circuito alternativo de Brasília, a Festa da Vivendo, realizada no sábado (13/5), não teve apenas bons momentos. Em seu perfil no Facebook, Hony Riquinson Sobrinho alega ter sido vítima de discriminação racial por parte da segurança do evento. A escola Vivendo e Aprendendo (604 Norte), organizadora da festa, pediu desculpas públicas ao jovem.
Hony Sobrinho, de 23 anos, relatou o episódio em seu perfil do Facebook. Ele contou ter sido abordado de forma agressiva por seis seguranças, quando já estava dentro do evento. Dois deles o revistaram sem dizer por qual razão. A dupla pediu que Hony abrisse sua pochete e encontrou dois celulares: um dele e outro da amiga que o acompanhava. De imediato, os seguranças suspeitaram que os aparelhos não eram deles. O rapaz, então, digitou a senha para desbloquear seu aparelho e a amiga fez o mesmo com o dela.
Após comprovar a propriedade dos celulares, Honey teria tentado questionar o método e a abordagem, mas foi impedido pelos seguranças, que continuaram a inspeção. A constatar que não havia irregularidades ali, um dos homens teria falado ao jovem: “Desculpe, senhor, mas você tem as características do bandido”. O segurança sequer esclareceu a qual “bandido” ele se referia. Ao ouvirem a frase, a festa acabou para Hony e sua amiga, que decidiram ir embora.
Ocorrência registrada
O caso não ficou por isso mesmo. Hony registrou ocorrência na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). E, em seu post, sugeriu que outras vítimas de discriminação façam o mesmo.
A impunidade só estimula que o racismo siga ocorrendo. Também tomarei outras providências judiciais. É isso que todas as vítimas de racismo devem fazer
Texto publicado por Hony Riquison em rede social
Segundo o rapaz, a direção da escola Vivendo e Aprendendo o procurou e ficou de agendar uma conversa – o que não ocorreu até a última atualização desta matéria. Na página do evento, também no Facebook, há vários relatos de pessoas (mulheres na maioria) que teriam sido vítimas de furto de celulares durante a festa do último sábado (13).
A escola aproveitou a página do evento na rede social para registrar um pedido formal de desculpas. No texto, a Vivendo lamenta o ocorrido e diz que Hony e sua amiga “foram vítimas de algo que condenamos veementemente e lutamos contra todos os dias, em todos os momentos na nossa escola”. A postagem registra ainda: “o fato de uma violência racial ter acontecido no espaço da nossa escola nos entristece e envergonha profundamente.”
Confira o texto completo publicado pela escola no Facebook:
Ao Hony e a todas/os nossas/os companheiras/os de caminhada,
Lamentamos profundamente o ocorrido. Hony e sua amiga foram vítimas de algo que condenamos veementemente e lutamos contra todos os dias, em todos os momentos, na nossa escola. O fato de uma violência racial ter acontecido no espaço da nossa escola nos entristece e envergonha profundamente. Não pactuamos com nenhuma forma de opressão, pelo contrário, acreditamos na igualdade entre as pessoas, na importância de cada ser.
A Vivendo e Aprendendo debate racismo, homofobia e machismo cotidianamente – faz parte da rotina entre nós adultos, mas também entre as crianças, na sala de aula. Há uma comissão interna [a Comissão de Questões Raciais] que atua para que este assunto em especial – o racismo – tenha a sua devida atenção.
A Vivendo e Aprendendo não é uma ilha, ela não está isolada de todo a segregação racial que constitui o nosso País. A cada dia como escola, desejamos romper com esses padrões de exclusões estruturantes, que marginalizam a população negra no Brasil. Reconhecemos o que houve como resultado de um processo histórico que precisa ser revertido e combatido. Nesse episódio trágico e constrangedor, aprendemos sobre como essa face vil e cruel do racismo pode chegar ao nosso quintal e ferir pessoas, por mais que não seja esta a nossa prática institucional. O Racismo é uma marca da nossa sociedade, invisibilizada em muitos espaços, contudo não iremos nos furtar pensar sobre o que nos trouxe até aqui, e ainda buscar mecanismos que impeçam que essa sua presença aberrante toque quem entrar pelos nossos portões.
É parte dos nossos princípios pensar na educação como ferramenta de igualdade, tolerância e voz.
Por isso, em atividades como a festa que aconteceu no sábado, nos mobilizamos para tentar passar estes mesmos valores e princípios para empresas e profissionais contratados por nós, na realização da festa. A equipe de segurança contratada foi reunida no sábado com a nossa equipe de organização, justamente para que passássemos as instruções: que a abordagem fosse sempre cordial e calma; que diante de qualquer eventualidade, esta equipe deveria procurar alguém da comissão organizadora.
Infelizmente, isso não aconteceu no episódio com Hony e sua amiga.
Pedimos sinceras desculpas e nos colocamos totalmente a disposição para quaisquer necessidades e esclarecimentos!