Radialista indiciado após chamar colega de “babuína” quebra o silêncio
Breno Berlutinny diz que denúncias são postagem fora de contexto. Também alegou que é alvo de perseguição e ressaltou que é negro
atualizado
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Indiciado pela suposta prática dos crimes de racismo, difamação e cyberstalking contra uma jornalista, o radialista Breno Marcelino Ferreira (foto em destaque), conhecido como Breno Berlutinny, quebrou o silêncio nesta sexta-feira (6/12). Ele defendeu-se das acusações, alegou que suas falas foram retiradas de contexto e afirmou: “Sou negro”.
“Eu, Breno Berlutinny, negro, filho de pais paupérrimos, pai de família, jornalista, locutor, apresentador e radialista, há anos em Formosa (GO) combatendo a desigualdade social e denunciando os crimes de colarinho branco e os desmandos dos gestores do município, hoje, eu me vejo perseguido por aqueles que historicamente sempre menosprezaram os filhos da periferia”, afirmou.
“Vale frisar que sou negro, filho de pais negros e pai de filhos negros”, acrescentou.
Em nota enviada ao Metrópoles, o radialista afirmou que considera lamentável ver membros da imprensa local usarem de estratégias escusas para achincalhar outro colega de imprensa, ressaltando que tem sofrido perseguições por lutar pelos direitos dos menos favorecidos. “Historicamente, nunca foi fácil para pobres, periféricos e negros. Continuarei na luta.”
O radialista concluiu a nota citando Martin Luther King Jr., ativista pelos direitos civis dos negros assassinado há 56 anos. “O que me preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”.
Indiciamento
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) indiciou Breno nessa quinta-feira (5/12). O comunicador é acusado de xingar a colega de profissão Clícia Balbino em grupos de WhatsApp de e proferir ofensas raciais contra ela.
Por meio de áudios enviados pelo WhatsApp em 18 de novembro último, o acusado a chamou diversas vezes de “Fiona do rádio”, “babuína”, “gorda” e “vagabunda”. O Metrópoles revelou o caso oito dias depois, e a 11ª Delegacia Regional de Polícia de Formosa, responsável pelas investigações.
O radialista ainda chamou a mãe da vítima de “prostituta”, “surubenta” e “mercenária”. Em seguida, ofendeu a jornalista com termos como “lixo”, “vendida” e “maconheira”. O radialista também se referiu à colega como “babuína”, com intenção de compará-la a um macaco, segundo os investigadores.
Além de fazer as ofensas, Breno Berlutinny mandava imagens de macaco em grupos de mídias sociais nos quais os dois estavam, para provocar a vítima. Assim, expôs a vida da colega de trabalho a centenas de pessoas. À polícia, a jornalista relatou que começou a apresentar problemas de saúde mental, como crises de pânico, após o ocorrido.
Agora, o inquérito será remetido ao Ministério Público de Goiás (MPGO), que poderá apresentar denúncia contra o radialista à Justiça do estado. Caso a o Judiciário aceite as acusações, Berlutinny se tornará réu.
Ouça os áudios das mensagens:
Entre os diversos xingamentos, Breno atacou a vítima com uso do termo “babuína”, em um trocadilho com o sobrenome dela. “E pode chorar, ‘Clícia Babuína’. Chora, ‘Clícia Babuína'”, gritou o radialista em uma das mensagens de voz obtidas pelo Metrópoles.
Clícia registrou boletim de ocorrência no mesmo dia em que foi vítima das ofensas. A repórter também detalhou outras frases ditas por Breno, como: “Você não tem coragem de levantar esse seu rabo gordo para fazer as coisas” e “Se manca, clandestina”. No boletim de ocorrência, prints de tela anexados comprovaram a violência.
Veja:
Atendimento hospitalar e ofensas
O contexto dessas ofensas envolve o atendimento a um homem que estava internado em um hospital. Esse paciente precisava ser transferido a uma unidade de saúde em Goiânia (GO) para passar por um cateterismo, mas a unidade de saúde teria se negado a transportá-lo.
Em relação a isso, Clícia e Breno teriam divergido ao repassar informações. Enquanto ele afirmava que o hospital se negava a transferir o paciente mesmo com ambulâncias no pátio, ela teria apurado que a responsabilidade pelo transporte seria do Estado.
“O âncora do programa me mandou ir ao hospital checar a situação das ambulâncias, se tinha ou não. Lá, verifiquei que havia veículos e, como o hospital era estadual, não cabia ao Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] fazer o transporte. A partir disso, ele [o Breno] começou a me xingar”, contou Clícia.
Para a jornalista, no entanto, o episódio teria sido um pretexto, pois Clícia era perseguida havia cerca de três meses, segundo contou, devido a uma desavença que Breno tem com a mãe dela, uma ex-policial militar de Formosa. “Eles se conhecem há algum tempo e têm uma desavença, mas são questões dos dois. Ele me ataca usando isso”, completou.
Emocionada, Clícia demonstrou revolta e tristeza ao comentar sobre a situação para a reportagem. “Não sei mais que atitude tenho de tomar. Estou em tempos de ter um ‘treco’, passar mal. Só em falar o nome dele, fico nervosa. Há dias em que eu não consigo trabalhar, fico muito para baixo, depressiva. Ser chamada de macaca, vagabunda, gorda para todo mundo ver é muito triste, sabe? Não estou aguentando mais”, desabafou, aos prantos.
Clícia denunciou o caso à diretoria da rádio onde ambos trabalham. Contudo, recebeu apenas a orientação de sair dos grupos e “ficar calada”.