Tragédia na L4 Sul: Motorista admite fuga do local do acidente
Eraldo José Cavalcante Pereira teria perdido controle do Jetta ao mudar de faixa e dado “um toque” no Fiesta da família, provocando tragédia
atualizado
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Durante quase duas horas, Eraldo José Cavalcante Pereira, 34 anos, contou em depoimento na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) sua versão para o grave acidente na Avenida L4 Sul que causou a morte de mãe e filho na noite de domingo (30/4). Segundo testemunhas, a tragédia foi provocada por motoristas que saíam de uma festa em um barco no Lago Paranoá e estariam disputando um racha a caminho de Águas Claras. Os condutores dos carros supostamente envolvidos no “pega” se apresentaram na tarde desta segunda-feira (1/5) na 1ª DP.
Os carros envolvidos são a Range Rover Evoque, placa JKN 9797-DF; um Chevrolet Cruze, placa OZY 6439-DF, e um Volkswagen Jetta, JKB 6448-DF. O Jetta colidiu com o Fiesta vermelho, placa JKN 5487-DF, onde estavam mãe e filho e outras duas pessoas da mesma família, que precisaram ser hospitalizadas. O Jetta era conduzido por Eraldo José Cavalcante Pereira. Fabiana de Albuquerque Oliveira dirigia o Cruze e Noé Oliveira, a Range Rover.
Em seu interrogatório, o motorista do Jetta negou ter ingerido bebida alcoólica, estar em alta velocidade e, principalmente, disputar um racha com qualquer outro veículo envolvido na tragédia. De acordo com o delegado Ataliba Nogueira, adjunto da 1ª DP, ele relatou que perdeu o controle ao mudar de faixa na L4 Sul. Eraldo disse não ter percebido quando o veículo do lado freou, e acabou “dando um toque” na traseira do carro, o Fiesta.
O choque foi tamanho que o Fiesta saiu da pista, bateu em uma árvore e capotou, matando Ricardo Clemente Cayres, 46 anos, e sua mãe Cleuza Maria Cayres, 69, que estavam no banco de trás do Ford.
Para o delegado, Eraldo pareceu bastante arrependido. “Ele disse que ficou muito nervoso, transtornado e com medo. Deu desespero. Por isso, saiu correndo do local”, contou Ataliba Nogueira, ao explicar o motivo de o condutor ter fugido da cena do acidente sem prestar socorro às vítimas, conforme o depoimento. O delegado informou que Eraldo colocou seu advogado à disposição para prestar o devido auxílio à família das vítimas.
“Uma latinha”
O primeiro depoimento desta tarde foi o do motorista da Evoque, o sargento do Corpo de Bombeiros Noé Albuquerque Oliveira, que é lotado na área operacional da corporação. Ele entregou a Carteira de Motorista e se negou a fazer o teste do bafômetro na noite do acidente. “Observei que ele apresentava sinais de embriaguez, ofereci o teste do bafômetro, mas eles (os condutores) se recusaram”, informou o agente do DER Márcio Alves, coordenador da equipe noturna que atuou na ocorrência.
Na 1ª DP, o militar negou as acusações. Disse que só bebeu “uma latinha” de cerveja. E que não se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas que o aparelho não estaria no local. Afirmou ainda que tinha pressa para levar sua esposa ao hospital.
O sargento garantiu ainda que prestou os primeiros socorros às vítimas e não fugiu do local – ao contrário do que testemunhas relataram. Negou participação em racha e disse que parou ao ver Eraldo, que é seu cunhado, envolvido no acidente. Noé entrou pelos fundos da unidade policial e não deu entrevistas. Conforme o Metrópoles apurou, o militar tem 27 pontos CNH: 20 devido a cinco infrações consideradas graves e sete por um delito gravíssimo.
Altíssima velocidade
Uma das testemunhas ouvidas na noite de domingo pelos agentes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) confirmou na tarde desta segunda, aos investigadores da 1ª DP, que o Jetta e a Evoque passaram em altíssima velocidade pela L4 Sul, onde o máximo permitido é 80km/h. Versão que confronta os depoimentos de Eraldo e Noé.
Conforme o relato dessa pessoa, que não teve o nome revelado, os dois veículos disputavam um “pega”: aparentemente o Cruze não estava envolvido, mas acabou sendo atingido na colisão, segundo a testemunha.
Fabiana, a motorista do Cruze, foi ouvida pelos investigadores da 1ª DP no domingo e foi liberada em seguida. A equipe não revelou detalhes sobre o que ela declarou.
Dinâmica
O delegado esclareceu que será preciso aguardar o resultado da perícia para confirmar toda a dinâmica do acidente e, só a partir disso, definir a tipificação do caso. Ele trabalha com três possibilidades: racha com resultado em morte, cuja pena varia de 5 a 10 anos de prisão; homicídio culposo (sem intenção de matar) ou homicídio doloso (quando a pessoa assume o risco de provocar uma morte ao tomar determinadas atitudes), com a qualificadora de dano eventual por ingestão de bebida alcoólica.
Como nenhum dos condutores fez teste do bafômetro, os investigadores ouvem também outros frequentadores da festa que Evaldo, Noé e Fabiana participaram no domingo. O objetivo dessas oitivas é, a partir dos depoimentos, comprovar se o trio teria ou não ingerido bebida alcoólica antes do acidente na L4.
Segundo uma testemunha, os três motoristas estavam em uma festa em lancha às margens do Lago Paranoá. Tinham ingerido bebida alcoólica e deixaram o local por volta das 19h. A testemunha Ana Paula Freitas, 32 anos, que estava no Cruze, disse que seguia na frente e sentiu uma batida forte na traseira do carro. Assim que saiu do veículo, a tragédia já havia ocorrido.
“Foi tudo muito rápido. O carro que eu estava também foi atingido. Ouvimos um barulho forte, nós rodados na pista. Quando desci, já vi as duas vítimas mortas”, disse Ana Paula ao Metrópoles.
Vítimas
Morreram na colisão: Cleuza Maria Cayres, 69 anos, e Ricardo Clemente Cayres, 46, mãe e filho. Por volta das 22h30 de domingo, três horas depois do acidente, os corpos foram retirados das ferragens. Ambos estavam no banco traseiro do Fiesta vermelho, com cinto de segurança. Os outros ocupantes eram Helberton Silva Quintão, 37, e Oswaldo Clemente Cayres, 72. Os dois foram levados ao Hospital de Base desorientados, mas já tinham sido liberados na tarde desta segunda-feira.
Cleuza e Oswaldo eram casados e têm quatro filhos, entre eles, Ricardo, que morreu no acidente. Helberton é genro do casal e dirigia o carro no momento da batida. De acordo com Marcos Vinícius de Lima, também genro de Cleuza e Oswaldo, Helberton não se lembra do acidente. A família, segundo ele, voltava de um almoço no condomínio Ville de Montagne, na região do Altiplano Leste.
Eles passaram o domingo na casa de um dos filhos de Cleuza e Oswaldo. “Foi um dia maravilhoso. Alegre, todo mundo se divertiu na piscina. Um dia de confraternização”, disse Marcos. Até que Cleuza quis ir embora. Então, parte da família a acompanhou. Mãe e filho morreram a caminho de casa.
Uma morte abrupta dessa forma, causada pela irresponsabilidade de outras pessoas, é algo muito difícil de aceitar.”
Marcos Vinícius de Lima, genro de Cleuza e Oswaldo
O carro em que da família ficou com a traseira completamente destruída. As vítimas que estavam sentadas no banco de trás morreram na hora.
O acidente ocorreu por volta das 19h30, próximo à Associação dos Servidores do STJ (ASSTJ). Segundo o Corpo de Bombeiros, o carro onde estavam as vítimas saiu da pista ao ser atingido e colidiu com uma árvore. O veículo chegou a capotar. A traseira do Fiesta ficou completamente destruída.
De acordo com o diretor-geral do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Silvain Fonseca, “uma viatura fazia o patrulhamento perto do local do acidente. Um motociclista parou e relatou o que viu”. Diante disso, ele seguiu para o local. O trânsito na pista ficou bastante congestionado para atendimento e perícia.