“Quero que tenham raiva de mim”, diz assassino de Letícia e Genir
O cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto confessou as duas mortes: uma em junho, outra na última sexta (23/08/2019)
atualizado
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O cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, que confessou ter matado duas mulheres, disse que pagará pelos crimes. “Só peço desculpas a todos. Minha família não merecia estar passando por isso. Vou pagar o que eu fiz”, disse o homem, preso na madrugada de domingo (25/08/2019) pelo assassinato de Letícia Sousa Curado, 26, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC) que estava desaparecida desde a sexta-feira (23/08/2019).
As declarações foram dadas nesta segunda (26/08/2019), na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), região administrativa onde Letícia morava com o marido e o filho, de 3 anos.
“Não era eu que estava ali. Eu não sei explicar… Quando vi, já tinha acontecido”, acrescentou Marinésio, que ainda disse: “Eu quero que vocês tenham raiva de mim, mas essa família que eu tenho não merece essa pessoa que eu sou”. O cozinheiro é casado e tem uma filha de 16 anos.
Na delegacia, Marinésio admitiu ter matado outra mulher: Genir Pereira de Sousa, 47. O corpo da funcionária de uma pizzaria foi encontrado em 12 de junho de 2019. Ela estava desaparecida desde 2 de junho.
A informação é da delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia. O cadáver estava em uma área de mata entre o Paranoá, onde ela trabalhava, e Planaltina, onde morava. O desaparecimento de Genir foi comunicado pela patroa dela, após a empresária, dona da referida pizzaria, estranhar as ausências da funcionária.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apura se o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto fingiu ser motorista de transporte pirata para atrair e matar outras mulheres, além de Letícia e Genir. De acordo com o delegado-chefe da 31ª DP (Planaltina), Fabrício Augusto Machado, não estão descartadas as suspeitas de que Marinésio seja o autor de crimes semelhantes.
“Buscamos outras ocorrências cujo modus operandi se assemelha muito a este: pessoas do sexo feminino que desapareceram após serem abordadas em paradas de ônibus. Mas ainda é tudo muito superficial”, afirmou, em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (26/08/2019).
Ainda segundo Machado, há a possibilidade de Letícia ter sido abusada sexualmente. “Na carona que deu para ela, Marinésio parou o carro na DF-130 e teria perguntado se havia a possibilidade de os dois terem uma relação sexual, dando início a uma discussão. Ela começou a gritar e, naquele momento, segundo o relato dele, ele a teria esganado.”
Machado ainda não definiu os crimes pelos quais o assassino confesso responderá, mas fontes policiais informaram o Metrópoles de que, a depender das apurações, o suspeito pode ser indiciado por feminicídio, roubo, ocultação de cadáver e, se a perícia confirmar, violência sexual e estupro.
Marinésio foi preso nesse domingo (25/08/2019), dois dias após o desaparecimento de Letícia. De acordo com fontes policiais, o suspeito levou os investigadores ao local do crime. O cadáver estaria dentro de uma manilha perto da fábrica de sementes Pioneer, na DF-250. À PCDF, Marinésio teria dito que conhecia a vítima de vista. Relatou ter parado no ponto de ônibus e oferecido carona para a jovem até a rodoviária do Paranoá. Ela teria aceitado e, no caminho, o homem teria assediado Letícia, que recusou a investida.
Marinésio, então, teria esganado a funcionária do MEC até a morte e escondido o corpo dela em manilha situada às margens de uma estrada que fica na região do Vale do Amanhecer, em Planaltina. Após matar a mulher, confessou ter furtado os pertences pessoais de Letícia, segundo fontes da PCDF.
Há imagens de circuito de segurança que mostram Letícia entrando no veículo do acusado em uma parada de ônibus no Setor Arapoanga, após uma rápida conversa entre eles, de 10 segundos, na manhã de sexta-feira (23/08/2019).
O delegado Fabrício Paiva, chefe da 31ª DP (Planaltina), informou que a funcionária do MEC foi sozinha até a parada de ônibus, de onde seguiria para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios. Ela havia combinado de almoçar com a mãe por volta das 12h. Como Letícia não apareceu, a família começou a ligar e mandar mensagem para a jovem.
“Ela não respondeu mais e as mensagens pararam de chegar ao celular da vítima”, disse o delegado. Por volta das 18h dessa sexta-feira, o professor de educação física Kaio Fonseca, marido de Letícia, foi à 31ª DP para denunciar o desaparecimento. A partir daí, a polícia começou a verificar onde a funcionária do MEC poderia estar. Trabalharam com algumas hipóteses – entre elas, surto psicológico e sequestro.
Na manhã de sábado (24/08/2019), os investigadores conseguiram imagens do circuito de segurança da região de onde Letícia tinha desaparecido, em Planaltina. Uma vizinha relatou que teria visto a advogada entrando em um veículo – que seria um Gol de cor branca.
A polícia foi atrás da informação, mas não achou o carro citado pela testemunha. Quando os investigadores excluíram essa possibilidade, passaram a ver novamente as imagens de segurança do comércio local da região, para identificar atitudes suspeitas. Constataram que um veículo de cor prata fez uma parada no ponto de ônibus em que Letícia estava. O automóvel passou no local uma vez, depois retornou.
Ao abordar o suspeito em via pública, que estava em uma Blazer prata de placa JFZ 3420-DF, os policiais encontraram, no porta-luvas do carro, uma bolsa, com fichário e material escolar, além de um relógio – objetos pessoais de Letícia. O celular da advogada estava atrás do banco do veículo. O cozinheiro afirmou, a princípio, que os itens encontrados foram comprados por ele.
No dia do desaparecimento de Letícia, Marinésio disse que foi levar a filha ao colégio. Depois, seguiu para a casa da irmã, por volta das 9h50. Não conseguiu explicar, porém, o que fez entre o momento em que Letícia sumiu e esse horário. Com indícios fortes de crime, a polícia conseguiu a prisão temporária do suspeito. O prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período.
Letícia foi abordada por volta das 7h42 da última sexta-feira (23/08/2019). “Ele [Marinésio] confirma que parou em frente à parada de ônibus, mas nega que Letícia tenha entrado no veículo. Disse que parou para um carro passar. Quando a polícia mostra as imagens, fica calado”, ressaltou o delegado Fabrício Paiva em coletiva de imprensa na manhã desta segunda.
Casado, pai de uma jovem de 16 anos, ele não tinha passagens pela polícia. O carro dele foi periciado. Marinésio disse em depoimento que não faz transporte pirata. Ressaltou, inclusive, não ter emprestado o veículo no dia do sumiço da jovem. No entanto, admitiu ter dado “algumas caronas”.
Mobilização da PCDF
Segundo o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), a investigação do caso mobilizou muito mais agentes do que os lotados na 31ª DP: só no domingo, 50 deles, que participam de um grupo de WhatsApp, saíram à procura de Letícia. Esse trabalho resultou na prisão do suspeito.
Dezenas de diligências, com a participação de outras delegacias, foram realizadas a fim de encontrá-la com vida. No domingo, boa parte dos policiais civis que saiu em busca da vítima estava de folga.
Eles saíram de Brazlândia, Ceilândia, Taguatinga, Águas Claras e do Plano Piloto para vasculhar a zona rural de Planaltina, incluindo localidades de mata. Até aquele momento, o suspeito ainda não havia confessado o crime e não ajudava na localização de Letícia.