Quem são os 4 coronéis que frequentavam o acampamento extremista no QG
Militares de alta patente da PMDF e do CBMDF estiveram presentes na mobilização contra a eleição de 2022 em frente ao QG do Exército no DF
atualizado
Compartilhar notícia
Militares de alta patente da Polícia Militar (PMDF) e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) participaram do acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Coronéis das duas corporações gravaram vídeos e incentivaram o aquartelamento montado contra o resultado legítimo da eleição presidencial brasileira de 2022. As imagens revelaram até mesmo a existência de uma “Barraca da PMDF” ou “Barraca da Bala” no espaço que perdurou por mais de 70 dias.
O coronel da reserva da PMDF Antônio Carlos comparecia frequentemente ao local. Em 5 de novembro de 2022, ele divulgou um vídeo em tom de ameaça. “Quem fez coisa errada que se cuide. A cobra vai fumar.” O militar declarou que a “situação seria resolvida”. “Estamos aqui dia e noite até a situação se resolver. E vai se resolver, se Deus quiser. Contamos com as Forças Armadas para isso. Um abraço a todos aí. E vamos esperar, falta pouco tempo.”
Coronel participa de acampamento:
Em outro vídeo, o oficial manteve o mesmo tom nas declarações. “Está quase chegando a hora de a onça beber água. Ninguém vai deixar aqui, não. É dia e noite”, afirmou. “PMDF muito bem representada aqui. Montamos barraca e só vamos sair quando a situação se resolver”, completou.
No mesmo vídeo, o coronel da PMDF afirmou que o “pessoal do Exército” pediu que participantes do acampamento aguardassem “novidades”. Na gravação, outro militar, identificado como sargento Paulo Neto, convocou colegas policiais da reserva. “Lugar de veterano é na rua”, afirmou. O coronel Antônio Carlos é conselheiro da Caixa de Benefícios da Polícia Militar do DF (Cabe), uma das principais instituições de apoio à tropa.
Outro oficial da PMDF, o tenente-coronel da reserva Florestan Mattos postou fotos no acampamento em algumas ocasiões. Nas imagens, ele sempre aparece trajando camiseta da Seleção Brasileira e ostentando a bandeira do Brasil.
Casado, nome de guerra de outro coronel da PM, foi outro integrante a ostentar a mais alta patente da corporação a participar do acampamento que abrigava terroristas em frente ao QG do Exército. Em uma gravação, ele chamou policiais militares da ativa e veteranos para fortalecer o movimento golpista – nas palavras dele, “para que recoloquem o Brasil de volta à democracia”.
Veja os coronéis na “Barraca da Bala”:
Em uma das gravações sobre a apresentação da apelidada “Barraca da Bala”, a subtenente da reserva da PMDF Angélica “Kate Marrone” aparece eufórica. Ela foi candidata não eleita ao cargo de deputada federal nas eleições de 2022 pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O Corpo de Bombeiros do DF (CBMDF) também teve um integrante de alta patente envolvido nas manifestações antidemocráticas. Mário Lopes Conde chegou a ser chefe-adjunto da Casa Militar do DF no governo tampão de Rogério Rosso. Em 2 de novembro, o oficial publicou vídeo no acampamento do QG do Exército. “A gente quer o quê? Intervenção federal. Olha o tanto de gente que tem aqui protestando contra a entrada desse bandido na Presidência”, declarou ele, referindo-se ao presidente Lula (PT).
Veja o vídeo do coronel Mário Lopes pedindo intervenção federal:
Invasão
O acampamento do QG foi desmontado em 9 de janeiro, um dia após os atos terroristas contra os Três Poderes. Extremistas invadiram os prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal de Federal (STF). Alguns militares das Forças Armadas participaram dos atos antidemocráticos. O coronel reformado do Exército, Adriano Camargo Testoni, de 56 anos, participou dos protestos e xingou a corporação enquanto deixava o local com a esposa, expulsos por bombas de efeito moral.
O colunista Guilherme Amado revelou que o capitão de mar e guerra reformado da Marinha Vilmar José Fortuna, que esteve lotado como assessor no Ministério da Defesa, também participou da manifestação golpista. Autoridades instalaram investigação para descobrir e punir os responsáveis pelos atos antidemocráticos.
Outro lado
Em entrevista ao Metrópoles, o coronel Antônio Carlos apresentou sua versão sobre o caso, negando qualquer ato ilegal. “Sou totalmente contra qualquer tipo de violência, de depredação”, assinalou. O militar afirmou ter viajado em 30 de dezembro de 2022, um pouco antes do fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, passando por Caldas Novas (GO), Bahia e Maceió (AL). Embora admita que tenha frequentado o acampamento golpista, negou qualquer participação nos atos terroristas de 8 de janeiro.
“Eu fiz alguns vídeos como oficial da reserva, veterano, sempre enfatizando o seguinte: ‘Olha, estou aqui porque eu confio nas Forças Armadas, confio na democracia, confio no presidente da República [Jair Bolsonaro], e confio na liberdade de expressão. Não falava mais nada além disso. Nunca defendi qualquer ato de intervenção, de violência, de depredação, nenhum ato anticonstitucional. Que fique bem claro: sou radicalmente contra qualquer tipo de violência”, afirmou.
“Não coaduno”
O coronel argumentou que ia esporadicamente ao QG na busca da livre manifestação. “Não participei e não coaduno. Repudio qualquer tipo de ato antidemocrático. Acho que tudo tem de ser dentro da lei, da democracia e da liberdade de expressão”, reforçou. Ele ainda declarou que não ouviu ou testemunhou no acampamento do QG movimentações ou planos para atos golpistas de 8 de janeiro. “Não vi e, se tivesse visto, teria tomado providências”, garantiu.
A reportagem entrou em contato com o coronel Mário Conde. No entanto, ele não quis comentar o caso e limitou-se a dizer que estava em Fortaleza (CE) no dia 8 de janeiro. O Metrópoles tentou contato com os coronéis Casado e Florestan, mas não obteve resposta. Já a subtenente Angélica preferiu não se manifestou. O sargento Paulo Neto não foi localizado.
O que dizem as corporações
O Metrópoles entrou em contato com o comando do CBMDF. “As imagens serão encaminhadas à Corregedoria do CBMDF para averiguação da conduta do militar em lide. Reforçamos que esta corporação não compactua com possíveis condutas que sejam incompatíveis com os preceitos que regem a instituição”, afirmou, em nota.
A PMDF foi acionada, mas não se manifestou.