Quem é o PM que chorou e explicou mensagem que ligava Moraes a facção
Em depoimento ao STF, ex-comandante da PMDF réu pelo 8/1 negou ataque contra instituições e explicou mensagem fake atribuída a Ciro Gomes
atualizado
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Klepter Rosa Gonçalves, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), prestou explicações à Justiça durante um depoimento de mais de três horas, na audiência de instrução dos réus pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. A sessão ocorreu nessa segunda-feira (20/5), no Supremo Tribunal Federal (STF).
Preso em agosto de 2023, acusado de se omitir diante dos ataques golpistas, o coronel chorou enquanto era ouvido na Corte. À época da investida contra os Três Poderes, Klepter exercia o cargo de subcomandante-geral da PMDF. Ele chegou a assumir o posto máximo da corporação em 15 de fevereiro de 2023, mas acabou preso em 18 de agosto, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por omissão.
Gravação falsa
A acusação expôs, entre diversos elementos, um vídeo enviado por Klepter com áudios falsamente atribuídos a Ciro Gomes (PDT), nos quais o político teria chamado o ministro do STF Alexandre de Moraes de “advogado de facção”, “vagabundo”, “ladrão” e “safado”.
O conteúdo era manipulado e, na gravação falsa, enviada em formato de vídeo, uma voz dizia que o processo eleitoral de 2022 estaria “armado” e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria “preparado” um golpe de Estado, aos moldes do ocorrido em 1964, com anuência do Exército Brasileiro. A mensagem foi repassada por Klepter em 28 de outubro de 2022, dois dias antes do segundo turno da eleição presidencial, às 15h10.
“Na hora [em] que [a mídia] der o resultado das eleições [informando] que o Lula ganhou, vai ser colocado em prática o artigo 142 [da Constituição Federal], viu? Vai ser restabelecida a ordem. Se ‘afasta’ Xandão [Alexandre de Moraes], se ‘afasta’ esses ‘vagabundo tudinho’ e ladrão, safado, dessa quadrilha, aí, vocês vão ver o que é pôr ordem no país. Não admito que o Brasil ‘vai’ deixar um vagabundo, marginal, criminoso e bandido como o Lula voltar ao poder”, afirmava a gravação enganosa.
Durante a sessão, Klepter se defendeu das acusações: “Não fiz qualquer menção de que esse áudio era verdadeiro. Fiz um simples encaminhamento [da mensagem]. Haveria preocupação de que algo poderia acontecer, e foi nessa circunstância que se deu o encaminhamento da mensagem [com a gravação]”.
Ao Metrópoles a defesa do coronel ressaltou que, “em mensagem alguma, ele fez qualquer juízo de valor, comentário e, muito menos, reenviou [a mensagem] para quem quer que fosse, senão para as autoridades que tinham a necessidade de conhecer [o conteúdo da gravação]”.
Saiba quem são os acusados por omissão no 8/1:
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF);
- Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante da corporação;
- Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações da PMDF;
- Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) em 8 de janeiro de 2023;
- Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
- Rafael Pereira Martins, chefe de um dos destacamentos do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na ocasião; e
- Flávio Silvestre de Alencar, major preso duas vezes pela Polícia Federal (PF), como resultado das investigações sobre supostas omissões de policiais militares.
Carreira
Antes de assumir cargos no comando da PMDF, Klepter atuou como professor da Academia de Polícia Militar de Brasília e ministrou aulas sobre análise criminal, gestão operacional, inteligência em investigações e planejamento estratégico.
Klepter é bacharel em direito pela Universidade Cruzeiro do Sul e tem MBA em Gestão Estratégica de Tecnologia da Informação pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
O PM foi liberado da prisão em março último, por determinação de Alexandre de Moraes, assim como os coronéis Fábio Augusto Vieira e Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues.
O oficial foi chamado para depor no STF nessa segunda-feira (20/5), no segundo dia de audiências com PMs acusados de participar dos ataques contra o Estado Democrático de Direito.